Fim dos Tempos

´´Tudo estava fadado à morte, a humanidade impôs o seu próprio flagelo de fogo. Com a ganância e poder o seu semelhante tornou-se um mero objeto sem alma. As sete nações do mundo em guerra, bombas explodiam e arrasavam grandes cidades, varrendo qualquer coisa viva, obliterando sua existência. Mas o fato é que morrer tornou-se uma questão de tempo. e viver, sorte talvez. O motivo para tanto; disputas por riquezas naturais, petróleo e até mesmo água potável. E assim o Armageddon teve início.``

Autor desconhecido.

´´O chão fervilhava embaixo dos meus pés, e do céu uma chuva densa e enegrecida pintava minha pele, uma fuligem cinza cobria as ruas da cidade. Poucos edifícios permaneceram em pé e os que restavam estavam em chamas. Carros, casas, prédios comerciais foram reduzidos a um aglomerado de ferro retorcido. Por onde olhava, vários corpos carbonizados espalhavam-se em posições estranhas, alguns na tentativa falha de cobrir o rosto com as mãos como em um gesto instintivo, outros encolhidos a proteger os seus filhos eternamente. Os poucos sobreviventes corriam desesperados em choque, suas peles estavam em carne exposta e suas roupas foram reduzidas a farrapos queimados.

Eu estava no próprio inferno, o limbo onde homens, mulheres, crianças e idosos foram condenados à aniquilação total, sem crime, sem culpa. No instante em que o clarão de luz explodiu em minhas retinas espalhando a tormenta de fogo e destruição, o relógio cessou marcando a hora de nossa morte. No instante em que a terra tremeu e o mundo silenciou em uma onde de choque sufocante. No instante em que a chuva de fogo e morte consumiu a todos, o que nos restou foi apenas a lembrança tenebrosa e a tristeza infinita marcada a ferro e fogo em nossos corações.``

Sobrevivente da primeira bomba, Nova York.

Depois de um longo tempo finalmente decidi ir à igreja. Era antiga, desta forma podia sentir o cheiro úmido de madeira velha, pequenos focos de luz mergulhavam na escuridão, espalhando-se como luminosidades pálidas, iluminando a face dos mártires feitos de gesso, revelando as expressões agonizantes, cheias de terror e mistério. Olhares vagos, cheios de dor e agonia, que sempre me causaram arrepios..

Sentei no banco que rangeu com o meu peso, apreciei o silêncio das orações, ansiando que aquele silêncio envolvesse minha alma em um manto de paz. Mas era apenas o silêncio do vazio, nem mesmo Deus haveria de falar comigo. Então comecei a rezar, pulando algumas partes, pois já havia me esquecido de alguns versos, mas não consegui, pois um nó seco ficou preso em minha garganta. Quando a ultima bomba varreu a cidade, eu já estava morto, apenas não tinha consciência disto. Eu estava disposto a desistir de tudo, nada mais tinha valor, depois de perder tudo aquilo que eu mais amava. Como último e desesperado ato, estava eu sozinho em uma igreja á procura de um Deus que não podia me ouvir.

Um homem de meia idade sentou-se ao meu lado e começou a rezar, nem ao menos olhara em meus olhos, nem mesmo notara a minha presença. Ele fitava os santos de forma calma e contemplativa e todas aquelas rugas bem marcadas e o cabelo grisalho lhe forneciam uma aparência austera e sisuda. Senti-me calmo diante de sua presença, uma sensação de paz ao observá-lo rezar. Subitamente o homem me encarou, seus olhos eram de um azul vivido, um olhar jovem para um homem como ele.

Ele me fitava com uma expressão severa, como se a qualquer momento fosse-me repreender, algo me dizia que aquele homem de alguma forma sabia qual era o meu desejo. Eu desejava a morte e vira á igreja apenas para me despedir ou pedir uma resposta, ou um auxilio, algo que impedisse meus planos, mas o que encontrei foi apenas um Deus ausente. Aquele olhar constrangedor envergonhou-me de minha fraqueza e decepção. A tristeza me consumira por dentro, minha alma clamava por paz, livra-me do horror da guerra, da morte e da fome. Mas aquele homem sentado ao meu lado, sem dizer uma única palavra se quer, ficou a me observar em um silêncio desconcertante e então disse;

- Já vi tipos como o seu antes, tipos fracos, quem vem aqui à procura de auxilio. Ele não irá falar com você... pois já desistiu de todos nós...

Fiquei surpreso ao ouvir a sua voz, uma voz forte que transmitia imponência.

- O que quer dizer com desistir de nós? – perguntei eu, pois para mim tratava-se de mais um louco.

- Ele desistiu de todos os seus filhos, sejam alados ou terrenos, não haverá salvação a nenhum de nós!

Aquelas palavras duras perturbaram minha mente, do que afinal de contas ele estava falando? Subitamente ouvimos um estrondo vindo do lado de fora, semelhante a uma explosão, alguma coisa causou um impacto longe de onde estávamos. A cúpula da igreja estremeceu soltando um pó fino do teto, algumas estátuas trincaram e outras desabaram no chão, reduzidos a estilhaços de gesso. O homem se levantou calmamente, retirou o pó de seu casaco e caminhou até a porta.

- A última trombeta... estou pronto! Cuide-se mortal, não deseje a morte porque no final ela virá ao seu encalço... lute e prove que ele estava certo, não o desaponte...

Ao longe entre os raios de um sol enegrecido, pude ver o homem retirar seu casaco e estender o que pareciam asas brancas grandiosas que possuíam um brilho levemente metálico em suas pontas. Fiquei estático a observar aquele ser celeste desaparecer na linha do horizonte para travar a sua última batalha.

Taiane Gonçalves Dias
Enviado por Taiane Gonçalves Dias em 30/01/2011
Reeditado em 31/01/2011
Código do texto: T2761378
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