A Morte

Continuação de “Substituta de Lúcifer”

Mauro a viu, antes que ela o visse.

Faby correu a uma velocidade incrível, antes que desaparecesse atrás do muro da casa onde ele estava preso, Mauro já a tinha perdido de vista. Mas tinha certeza de que era ela.

Estava parado junto a janela do quarto, observando o jardim, onde uma porção de lobisomens patrulhavam.

Deus, como eram grandes!

Um deles farejou o ar, erguendo o focinho e expondo dentes enormes. Este lobisomem viu-o espiando da janela e, olhando em sua direção, emitiu um rosnado de aviso.

Se sair, você morre, meu chapa.

Nenhum sinal de Faby. E o que ela estava fazendo ali? Ela não podia ter vindo resgatá-lo, podia?

Mauro sentou-se no chão sob a janela e abraçou os próprios joelhos.

- Salve-me, minha vampira-rainha...

Na enorme sala de estar, ao ouvir estas palavras tão melosas, Andhromeda revirou os olhos de descrença. O mundo estava mesmo perdido.

- Até que enfim! – exclamou Andhromeda, levantando-se e fazendo os ossos das costas estalarem como gravetos – Ela chegou!

Os lobisomens não seriam problema. De jeito nenhum.

Faby subiu no muro da horrível casa e mostrou a língua para eles. Eles rosnaram de volta. Um deles começou a correr em sua direção, tinha cerca de três metros de altura, seus braços mutados tocavam o chão e ajudavam-no a se locomover mais rápido, como patas.

- VEM ME PEGAR, TOTÓ! – gritou Faby, ao que o lobisomem respondeu e saltou em sua direção, esticando um braço musculoso, coberto de pelos pretos, e estendendo as garras enormes na ânsia de arrancar-lhe a cabeça.

Faby desapareceu com um estalo. Um morcego passou voando sobre a cabeça do lobisomem tapeado, rumo à porta-dupla.

João Athayde de Paula não fazia ideia do que viria a seguir.

Num segundo estava sentado muito tenso em sua cadeira, no segundo seguinte estava atravessando toda a extensão da sala, sendo empurrado por uma força invisível, com cadeira e tudo. Fechou os olhos, já esperando o baque que provavelmente iria arrebentá-lo inteiro.

O som de uma explosão encheu seus ouvidos e ele podia jurar que era o da sua cabeça sendo feita em mil pedacinhos. Mas não era.

Abriu os olhos. A enorme porta-dupla fora feita em pedacinhos, como se um tiro de canhão a houvesse posto abaixo. Só que, em vez de bala, deviam ter usado uma mulher.

- Ai, meu Deus, sua vampira sem-noção! – gritou Andhromeda, mortificada – Você acabou com a porta! Essa casa nem é minha, caramba!

- Onde ele está? – Faby foi logo perguntando, saracoteando sobre os saltos-altos, pronta pra rodar a baiana, sem dó nem piedade – Onde está o MAURO???

-Não se aproxime, vampira, ou vai se arrepender!

A vampira continuou em frente mesmo assim, tencionando arrancar a cabeça daquela gadeiuda do Inferno. Andhromeda continuou em seu lugar, os olhos pretos desafiadores.

- O que você fez com ele?

- Eu lhe avisei, vampira!

Faby Crystall foi lançada como uma peteca contra uma das paredes muito altas da sala. Gritando de ódio, ou de surpresa, João não tinha como saber. Mas agora ele sabia que se aquela mesma força que agredia Faby não o tivesse tirado da frente dos destroços da porta, ele estaria morto. Andhromeda estava cumprindo sua promessa de mantê-lo vivo.

Faby foi parar no chão, cabelos espalhados para todos os lados, sapatos arrancados dos pés.

- Sempre precipitada, vampira! – disse Andhromeda, abismada – Eu sabia que um dia isso acabaria te matando, mas não pensei que fosse eu a te matar!

- Por quê? – perguntou Faby – Por que você pegou o Mauro?

A vampira levantou seus olhos vermelhos, no entanto, continuou caída no chão. Deve estar muito ferida, João pensou.

Andhromeda deve ter pensado a mesma coisa, pois começou a caminhar, destemidamente até a adversária.

- E você, por acaso, viria se eu chamasse? Viria mesmo sabendo que a única coisa que quero de você é vingança? Vingança por todos os malditos anos que passei no Inferno por causa da sua maldita traição!

A face da jovem animada havia mudado. Havia apenas ira ali. Sede de vingança.

- Tantos anos na Terra e você ainda querendo mais!

A vampira, abatida, abaixou os olhos para o chão, um ato contrito. Murmurou alguma coisa.

Andhromeda se abaixou diante dela, seus cabelos compridos tocaram o chão.

- O que disse? – perguntou – Se está querendo implorar pela sua... existência, é melhor falar mais alto. Então...

Um dos braços da vampira se levantou antes do resto do corpo e quando Faby estava em pé, furiosa, Andhromeda jazia na sua mão, revirando os olhos enquanto seu pescoço era esmagado pela força da mulher fatal.

- Eu não estava implorando, sua tonta! Eu estava dizendo que ia te enviar ao Inferno de novo, desta vez para todo o sempre.

Imprimindo um pouco mais de força, o som do osso se partindo anunciou o fim de tudo para Andhromeda. João se levantou da cadeira, mal acreditando no que via. O rumo de tudo mudara tão rapidamente.

Sua vida, agora, trocara de mãos.

O corpo inerte de Andhromeda foi jogado com brutalidade ao chão. Os olhos fitavam o vazio, ainda pretos e ameaçadores.

- Meu Deus, você a matou! – exclamou o escritor, sem acreditar – Você a matou, de verdade!

- Que Lúcifer a prenda com correntes dessa vez!

Faby passou por cima da morta, ela sempre passava por cima dos outros, era seu jeito vamp de ser.

- PITUCO! PITUCO, CADÊ VOCÊ!

Parou para ouvir.

- Minha vampira, é você?

- Sim, Pituco, onde você está?

- Graças a Deus! Você está bem? Você falou com a Andhromeda?

Faby riu, zombeteira:

- Sim, falei com ela! Mas onde você está, Mauro? Onde você está?

- Aqui em cima! Suba aqui, deve ter uma escada, não tem?

Faby olhou em volta, só havia uma escada. E ela ia direto para baixo.

- Pituco, não há como subir! Tem certeza de que você está em um lugar alto?

- Sim!!! Dá para ver o jardim daqui e a sua voz vem do chão!

Faby coçou a cabeça.

- Como? – perguntou-se – Como farei para subir?

- Minha filha, o seu destino é pra baixo! Já falei isso um milhão de vezes!

Faby girou nos calcanhares. O mesmo fez João. Ai, seu coração ia ter um treco, estava sentindo as pontadas do lado esquerdo. Era emoção demais! Suas pernas perderam a força e ele tombou de lado.

João estava morto. De ataque cardíaco.

Andhromeda estava novamente em pé, a cabeça pendia sobre um ombro. Sangue e pedaços de ossos pingavam do que sobrara de seu pescoço. Cada vez que ela falava, saía um esguicho escarlate da artéria aorta.

- Cansei disso! – disse Andhromeda e com as próprias mãos colocou a cabeça de volta ao seu lugar sobre os ombros – As pessoas não podem me mandar para o Inferno porque eu NÃO ESTOU A FIM DE IR PRA LÁ!!!!

Ela flexionou o pescoço, girou-o como se quisesse espantar um torcicolo, sangue começou a escorrer do ferimento, mas, depois de um segundo, parou. Era como se nunca tivesse acontecido nada mais do que uma picada de mosquito.

- Vampira, chegou a sua hora de morrer! Dessa vez é definitivo!

- Faby! Faby, o que tá acontecendo aí embaixo? – a voz de Mauro pergunta – Com quem você tá brigando, vampira-chefe?

- Com a Morte – disse Andhromeda, sem se dirigir a ninguém em especial.

Prossegue e finda em “O fogo do Inferno”

Andhromeda
Enviado por Andhromeda em 08/05/2011
Código do texto: T2956560
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