O Padre

Apenas o uivo gelado do vento era ouvido durante aquelas noites frias e sem vida. A alegria e a felicidade há dias abandonaram o vilarejo de gente simples, perdido no mapa entre uma cidade ou outra. Más línguas começavam a ligar o mistério à chegada do novo padre, se feições dúbias, e duma beleza incoerente aos castos. Mas nenhum dos homens podia crer que aquele homem que veio pra trazer a palavra de Deus, poderia esconder algum tipo de demente assassino.

No entanto muitas coisas são faladas, ou pensadas, quando coisas misteriosas acontecem. E o desaparecimento das mulheres era de toda forma algo alarmante. Há pelo menos um mês de uma a duas desapareciam sem deixar rastros, e não voltar mais para casa a cada noite, até que Teresa era a última mulher na vila.

Seu marido, Diego Torres mantinha o olhar aflito em direção da igreja, donde ela imaginava encontrar segurança, e conseguira convencer seu esposo a passar a noite lá. — Querido, quem seria tão mau de atacar-me dentro de uma construção santa? Estarei bem lá. Dizia ela despudoradamente com segundas intenções.

Seu quarto ficava no segundo andar, e o próprio padre levara-lhe as roupas de cama. Quando abriu a porta, via-a nua, encantada há dias pelos olhos azuis do homem ao qual seu corpo ansiava e produzia calores insanos. Sua pele estava eriçada, a espera do primeiro toque. Do “V” adornado por ralos e negros pelos no meio de suas pernas emanava o cheiro do desejo, e ela percebeu que a libido do casto homem de avolumava sob a batina.

Ansiada como um faminto por um prato de comida, atacou as mais íntimas partes do padre, sugando cada parte dos músculos de seu falo descomunal. Naquela noite ela foi possuída de uma forma como nunca fora, sentindo-se completa, por aquele homem que tocava-a, penetrava-a, e fazia-a sentir-se a mais realizada de todas as fêmeas, atingindo pecaminosos prazeres até então lhe negados. Adormeceu sob o peito desnudo e forte do home que parecia lhe sugar todas as energias. Estava satisfeita e ansiosa pelas próximas noites. Afinal, tinha ainda mais certeza de estar segura.

O dia amanheceu e Diego Torres, saiu para trabalhar. Naquela manhã, a esposa não estava em casa para despachar as crianças para a escola. Coube a ele esta tarefa. Depois de cumprida a missão, foi até a igreja, ver como passara a noite sua amada esposa.

— Benção, padre. Disse ele com reverência.

— Benção meu filho. Respondeu o padre. Que te trazes tão cedo a casa de Deus tão cedo?

— Ora, padre! Vim ver como Teresa passou a noite?

— Teresa?... O padre mostrou-se surpreso com o motivo.

— A catequista Padre... A catequista. Diego Torres já tinha alterado a voz neste ponto da conversa.

— Ah sim... Boa mulher, serviente a Deus, e à família. Disse pároco. Há uns dois dias que não a vejo.

A informação fez o sangue ferver em Diego Torres. Seus olhos estavam tomados pela raiva, e pela dúvida.

— Como não a vê há dois dias?...

— Sim, faz dois dias que ela não vem a igreja! Disse o padre no mesmo tom meloso de falar.

— Mas ele disse que passaria a noite aqui, por ser mais seguro...

— Não. Uma coisa dessas nem mesmo o padre permitiria. Disse o religioso. — Aconteceu alguma coisa com ela? Perguntou o padre como se estivesse ignorante ao que acontecia em sua paróquia.

Diego Torres saiu da igreja sem saber o que fazer. Tentou de todas as formas arrancar alguma informação do padre, mas o homem mantinha sua posição. Teresa jamais lhe mentira. Saíra para ir a igreja e agora estava entre as desaparecidas. Passou amanhã procurando a mulher, juntando-se aos outros homens cujas mulheres haviam sumido.

Procuraram pela mata, pelas minas, e alguns que regressaram da cidade mais próxima confirmaram que por á nenhuma delas esteve. A noite estava mais uma vez prestes a nascer, e a revolta era dum tamanho sem precedentes, e entre uma e outra conversa, sem bem saber quem tivera primeiro a idéia, estava definido que o padre era o culpado, e que a ele cabia as respostas. Então trinta homens partiram em direção a igreja, e levaram para o meio da rua o homem, distribuindo sobre seu corpo, tabefes, chutes, somados a um bombardeio de perguntas, de o que havia feito o padre com suas esposas.

O cristo crucificado na torre da igreja testemunhava a barbárie contra o padre, a esta altura, cortado, arranhado, e cheio de hematomas, e ainda negando qualquer ligação com o sumiço das mulheres. A imagem seguia inerte, sem tomar qualquer atitude em favor de seu emissário. Os homens estavam prestes a matá-lo.

A lua cobria de prata os tijolos irregulares da escadaria da igreja, e o sangue do pároco escorria sobre eles, quando um tropel estourou do coração da catedral, como se enfim alguém estivesse pronto a defender o padre. Os olhares se voltaram para as largas portas da casa de deus. Para uma platéia atônita, um grande estouro jogou estilhaços para todos os cantos, espatifando a porta, e revelando um verdadeiro inferno.

Os olhos os homens estavam fixos nas cores hipnotizantes das chamas que ardiam sobre as cabeças dos animais. Grandes e ostentosas mulas, umas trinta monstruosas a aterrorizantes criaturas que estavam ali para defender um único homem. Aquele, que mesmo lhe dando uma maldição eterna, satisfazia a seus despudorados prazeres.

Gritos ecoaram pelo vale sem ser ouvidos. O padre foi vingado.

No dia seguinte, viajantes encontraram o trágico cenário, com corpos amassados na frente de uma igreja abandonada, e casas se homens ou mulheres, em que crianças choravam sem poder contar a verdade do que ocorrera ali.

Quem acreditaria em crianças?

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Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 15/06/2011
Código do texto: T3035975
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