O atalho

Quando eu era jovem e estudava à noite, eu morava em um sítio que ficava já no perímetro urbano, porém para eu chegar até minha casa eu precisava fazer dois caminhos, ou eu pegava um trecho de rodovia ou eu pegava um atalho que passava por dentro de vários terrenos atravessando pomares e na beirada de um grande lago.

Optei pela segunda opção por ser mais seguro.

Me lembro que eu deixava uma lanterna escondida no rancho de uma casa por onde eu entrava e ia cortando por outros terrenos.

Agora me ocorreu uma dúvida, o porque eu não levava essa lanterna na bolsa para a escola, mas deixa isso para lá.

E naquela época eu tinha 14 anos acho, e era incrível a escuridão que era aquele caminho. As árvores do pomar pareciam enormes e assustadoras e do lado do lago havia enormes pés de bambus que balançavam ao vento parecendo tomarem formas de gigantes que pareciam que iam me devorar.

Quando eu me adentrava por aquele caminho já eram sempre passado das 23:00 h e confesso que sentia muito medo.

Eu respirava fundo e me infiltrava pela escuridão, apesar da fraca lanterna.

Meu olhar estava sempre fixo no caminho por onde eu tinha de passar, sempre evitando olhar para os lados e a velocidade com que eu percorria o percurso era recorde.

Mas em uma noite escura e sem lua, eram as piores noites para se passar por aquele caminho, minha lanterna começou a falhar e apagou por completo quando eu estava no meio do trajeto.

Fiquei apavorado. Para voltar seria pior, tive de tomar coragem e seguir em frente. E na escuridão, cada sombra parecia ter vida e cada barulho parecia ser alguém ou alguma coisa. Acelerei os passos.

Parecia ouvir vozes e passos, mesmo olhando para a frente à minha volta parecia que vultos corriam e ria me vendo ali apavorado.

Quando cheguei á beira do lago os bambus pareciam mesmo terem vida própria. E olhei para o lago e vi nitidamente algo mergulhando nele. Na verdade ouvi muitos barulhos na água.

E a sensação que tive era de que o tal atalho estava sendo muito mais demorado do que o de costume.

Eu já estava quase correndo quando atrevessei todo o atalho e cheguei em minha casa.

Minha mãe me esperava e se assustou quando me viu chegando pálido e quase sem fôlego.

Eu disse que tive de atravessar o atalho pelo escuro mesmo pois minha lanterna havia falhado e que talvez a pilha estivesse descarregada.

Ela me disse que não era possível isso, pois havia colocado pilhas novas naquela manhã.

Quando liguei a lanterna para mostrar a ela, para minha surpresa, o clarão que saiu do bocal da lanterna era muito superior aos dos dias anteriores.

Quase joguei a lanterna no chão. Entrei apavorado e fiquei o final daquela semana sem ir para a escola.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 14/07/2011
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