LÚGUBRE LUAR

Os pés da garota já estavam cansados e feridos. Seus passos, minimizados. Já fazia mais de duas horas que ela corria sobre aquele pasto de vasta imensidão. O horário também não colaborava muito. Fim do crepúsculo tardio, a noite chegava lentamente. Seu olhar estava mais perturbador do que antes, desorientado, sem saber para onde avistar.

O terreno era árido, deteriorado e quase que como perdido no meio do nada. As árvores, espinhosas, estavam todas secas e sem vida, mas, mesmo assim, ainda eram muitas, formando um labirinto florestal, com a colaboração de moitas e arbustos. Não se via casas e nem animais por perto. Não pode se ver algo que não existe. Não naquele lugar.

Muito ofegante e com ligeiras lágrimas nos olhos, a garota segurava algo entrelaçado em seus braços. Talvez, não fosse nada importante. Pelo menos, não tão importante para a criatura que a estava perseguindo. Por várias vezes ela caia sobre o pasto, se levantava e tentava fugir, em algo que pudesse ser uma tentativa de correr. Mas não dava mais. Ela estava no seu limite. Nem um ser humano comum conseguiria correr naquelas condições desastrosas. Talvez, nem um atleta. Era inimaginável pensar que alguém realizasse alguma fuga com os pés feridos, o corpo exausto e o medo iminente. Um verdadeiro terror psicológico.

Demorou, mas aconteceu. A garota, completamente perdida, segue em direção a entrada de um dos arbustos que formava o labirinto florestal. Noção é uma palavra que não devia ser grafada. Os espinhos do matagal cortavam seu curto vestido, rasgando sua pele, algumas vezes, profundamente. O tempo fecha e a chuva cai. Rapidamente forma-se uma tempestade. Em seguida, a garota tropeça e cai sobre um pontiagudo galho de um tronco sobre o chão. Sangue. Muito sangue. As gotas cristalinas do tempo se misturavam com as gotas escarlates.

Ao se levantar, a garota vê pedaços de suas entranhas caírem de seu corpo ferido. O grito dela não pode ser ouvido. Foi um berro vazio, mas, não menos doloroso. Uma de suas mãos deixou o entrelaçamento e tentou tampar a ferida na barriga. A garota continuou a fugir. Ela não podia parar nem um segundo para descansar. A criatura em seu encalço estava se aproximando.

Agora, além de estar fisicamente desgastada, com uma das mãos protegendo algo sobre seu peito, a garota também estava perigosamente machucada, não parava de sangrar. Metade de suas entranhas tinham ficado no caminho, para trás. A visão dela estava turva. As árvores e arbustos se distorciam ao seu olhar. Ilusão, alucinação, talvez delírios. Ela também babava muito. Em certo momento, a garota quase se afogou com sua própria saliva. Aparentava chamar por alguém, pedindo socorro, ajuda. Mas, nenhuma tonalidade oral ouvia-se de sua boca.

Ela estava mais perdida do que nunca. O que antes era um vasto campo aberto, naquele instante, tinha se tornado um matagal fechado e sombrio. Os ruídos que a criatura emitia estavam ficando mais agudos, talvez este fosse um sinal de sua aproximação. A garota ainda tentou mais uma corrida antes de se deparar com o seu perseguidor. As suas pupilas indicavam pavor.

Num gesto veloz, a criatura decepou a cabeça da garota e, em seguida, desapareceu. A garota não era só uma garota, era uma menina, uma criança. E o que ela carregava anteriormente entrelaçada entre os braços era uma boneca. Provavelmente ela não sofreu por este ato assassino. A visão que teve segundos antes não era para ser vista por olhos humanos. Antes de perder a cabeça, a menina já estava morta.

Douglas MCT
Enviado por Douglas MCT em 13/12/2006
Código do texto: T316900