O MISTÉRIO DO VELHO CASTELO - PARTE 6

Fischer girou a chave com força, mas a porta do carro não abria. Olhou ao redor buscando o carro de Josh e não o encontrou. O velho ônibus que levava os funcionários ao hospital estava encostado em um canto do estacionamento. O capô estava aberto um cheiro de óleo rescendia do motor. A “carroça dos loucos” como era conhecido, de fato era um veículo que aparentava ser muito mais velho que o hospital. Caindo aos pedaços vivia quebrado, e, não era de esperar encontrar um mecânico arrumando o seu motor em pleno sábado, naquela hora e lugar.

Afastado do centro, no meio de montanhas cobertas de uma mata espessa, o Instituto Psiquiátrico Dr. Adolfo Bastos era ligado por uma estrada esburacada e mal iluminada. Anteriormente localizado no centro de São Paulo, fora transferido em 1955 para o bairro dos Imigrantes dando lugar a Escola Primária Papa Clemente III. Desde então, Fischer assumira como diretor, substituindo Drumond, que morrera de infarto, duas semanas antes da mudança.

- Tenho que arrumar esse ônibus logo ou o conselho vai me matar – durante a semana era alugado um ônibus que levava os funcionários em três turnos do centro até o hospital. Como não havia linha que fazia o trajeto até lá, o jeito era recorrer aos fretados. Nos finais de semana um micro-ônibus levava os plantonistas, levando embora os funcionários do terceiro turno, e só voltava na segunda-feira. Em caso de alguma urgência como aquela, o funcionário ia de taxi e era reembolsado depois. – não dá para pagar taxi toda vez que alguém precisar vir aqui.

Fischer achou estranho Josh ter ido lá de taxi, dependendo da hora em que chovesse, sabia que Josh não iria embora, mas, essa já não era a primeira vez que ele dormia lá. Já ia voltar para dentro, quando a chave de seu Impala finalmente girou.

-Já não era sem tempo – disse consigo mesmo. O veículo era espaçoso, confortável e as vezes ele se perguntava se não tinha dado dinheiro demais naquele carro. De qualquer forma não fazia diferença, o conforto valia a pena. – É, vai chover.

O tempo havia fechado completamente, e mal havia dado partida no carro, quando a chuva, pesada começou a cair. Ligou os faróis e rumou para a estrada.

- Cinco horas da tarde, mais parecem dez horas da noite.

Durante o trajeto, a chuva ficou mais forte e Fischer pensou se não seria bom encostar o carro por uns momentos, o limpador não vencia tanta água. “Melhor não” – pensou consigo mesmo – “Quanto antes eu chegar, melhor”.

Dirigindo com cuidado pela pista molhada, se esforçava para enxergar além do volante com tanta água caindo lá fora, o breu que cercava o lugar era tão intenso quanto a chuva e Fischer sentiu um vento frio entrando no carro. Ligou o ar condicionado e em pouco tempo já estava aquecido. Mesmo assim, sentiu um frio gelado percorrer-lhe pela espinha, algo o incomodava, olhou no retrovisor e não viu nada, mesmo assim, sentia uma presença ali com ele. Sentiu os pelos do braço se arrepiarem completamente quando ouviu um barulho no banco de trás. Olhou novamente pelo retrovisor e viu uma garota de branco correndo meio da rua. Com os cabelos ensopados em frente do rosto, sua expressão era de completo desespero. Aquela menina era sua irmã. Fischer esfregou os olhos e abriu novamente. Nada. Não muito tempo atrás, vinha sonhando constantemente com sua irmã, que era residente do hospital desde que enlouquecera quando criança, no dia em que viu seu amigo morrer afogado em um rio. Fischer ingressara na medicina mental com a esperança de poder curá-la um dia, mas já sabia a muito tempo, que nada poderia fazer por ela, a não ser lhe dar amor e carinho. Uma lágrima rolou de seu rosto. Pegou um lenço em seu casaco para enxugar os olhos e subitamente o carro foi em direção oposta a da curva.

-Merda, como não vi isso??? – Fischer girou o volante com toda a força que tinha tentando manter o carro na pista. Com a chuva que caia, o carro rodopiou escorregando na pista e indo em direção a barreira de contenção, sua traseira se chocou violentamente contra ela pelo lado direito, a mureta se desfez, e por pouco o carro não caiu barranco abaixo. Fischer olhou pelo retrovisor. De lá não dava para visualizar o estrago na lataria, mas com aquela chuva, não estava disposto a descer para ver como tinha ficado. Engatou a primeira marcha, e só então se deu conta de que com a virada do carro havia ido parar na contramão.

Respirando ainda assustado, deu meia volta e voltou à faixa certa escutando logo atrás o som irritante do pára-choque se arrastando no chão.

-Bem, ao menos estou vivo.

E com esse pensamento, foi dirigindo com cautela até poder sair daquele misto de lama com asfalto e ver o estrago na lataria do carro. Ainda assim, sentia uma sensação estranha, como se alguma coisa estivesse errada, e alguém estivesse o vigiando.

Continua...

Bonilha
Enviado por Bonilha em 27/08/2011
Reeditado em 03/05/2012
Código do texto: T3185765
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