A volta do terror

Se já leram... leiam o fim pois tem informação importante...

- Me dêem licença, por favor. Detetive Mara passando. – Mara era uma detetive do gelo. A primeira do colégio militar em vinte e duas das vinte e oito disciplinas estudadas. Um fenômeno a parte, e isso não era tudo...

Ela estava de terno policial, colete, e óculos escuros, tinha 34 anos, era morena e esbanjava sensualidade com seus um metro e oitenta de altura.

- Há quanto tempo ele estava fora? – A detetive perguntou olhando para o cadáver á sua frente. Um corpo preso a uma espécie de roda de madeira. Ele estava quase nu, apenas um pano cobria suas partes intimas. Havia um martelo de bronze caído ao seu lado, do tipo que era usado em tornearia mecânica. Não havia fraturas expostas, seus pés e mãos estavam firmemente amarrados a roda de uma carroça antiga que pelo visto havia sido roubada de algum museu. Sua pele estava repleta de hematomas, manchas roxas espalhadas por suas pernas e braços, enquanto seus membros jaziam enrolados na roda que estava erguida horizontalmente, amarrada á uma estaca de madeira de pinho.

Mara colocou a mão sobre os olhos daquele homem. O soldado ao seu lado pôde ver os olhos da bela morena cor de jambo se revirarem, como se ela estivesse sendo possuída por algo, e de um esverdeado lindo se perderam em um branco assombroso. As imagens invadindo sua mente. O rosto do assassino. O martelo tocando a pele da vitima que não podia gritar por estar amordaçada, mas Mara podia sentir todo o medo que a pobre vitima havia passado, sentiu a dor, mas aquilo não a afetava diretamente, era apenas a estranha sensação de ter vivido aquilo em algum momento de sua vida. Mara pode ouvir o estalar dos ossos, observou a perícia do executor. Era algo doentio e ao mesmo tempo surreal. A força dos golpes era meticulosamente correta, sendo que a pele não se rasgava quando era atingida pelo bronze, o mesmo bronze que reluzia ao encontrar os raios de sol que queimavam a pele daquele homem que agora parecia um mendigo, algo completamente diferente do que ele era. A dor e agonia eram claras nos olhos do agredido, ele tentava se levantar a cada golpe curvando seu corpo, tencionando seu músculos, contorcendo-se. O assassino sorria para ele, aplaudindo a si mesmo a cada martelada.

- Bravo! Sem uma gota de sangue! Aplausos para o carrasco! – Era como se ele estivesse na época medieval, na própria Holanda cercado por toda uma platéia sedenta pelo terror. Por fim após quebrar todos os membros do violentado ele os enrolou, prendendo-os a roda com fios de arame farpado, e se sentou á um metro dele observando-o agonizar, vislumbrando as lágrimas que escorriam pela face daquele homem, ouvindo atencioso os gritos contidos por um pedaço de pano que tornavam-se apenas gemidos, sussurros de um condenado a pena de morte, suspiros que doíam como diversas agulhas penetrando sua epiderme. Por fim as costas da vitima se apoiaram na roda por uma última vez e ele se entregou a morte não resistindo mais a tanta dor, uma morte lenta e cruel. O assassino olhou para o corpo e decretou sua lei.

- Só posso ser um, Daniel! Que morra o próximo! – Mara despertou de seu transe, ela olhou para o soldado assustado ao seu lado.

- Deus! Não é possível! – Disse Mara ainda aturdida com a informação que acabara de descobrir.

- Ele estava fora há dois dias senhora.

- Dois dias! ...ela ainda estava assustada... E por que não estou sabendo de nada?

- Era apenas um clone... eles bem... são inofensivos. – Disse o jovem soldado trêmulo.

- Qual sua idade soldado? – A voz dela chegou aos ouvidos dele com um tom ameaçador.

- Tenho 20, Senhora!

- Você é cientista? – O soldado tremia levemente enquanto a voz de Mara o visitava.

- Não. Não, Senhora.

- Pois bem! Por acaso acha que alguém inofensivo comete um ato destes?

- Não senhora!

- Então vou te dizer uma coisa soldado Carlos. Eles não são homens, são máquinas orgânicas criadas com fins farmacêuticos e nada mais. Não são amigos! São prisioneiros. E mesmo que sua prisão seja em um laboratório. Eu desconheço a origem destas criaturas, para mim são como os nanoinfectos. E eu sou a superior aqui, e gosto de ter ao meu lado pessoas em que possa confiar. – O soldado se encolhia a cada investida do olhar imponente de Mara. - Se um clone foge tenho que saber. Se um civil morre, tenho que saber antes disso acontecer. Se um nanoinfecto ataca alguém naquele pequeno intervalo de quatro horas do dia onde o sol perde sua força, também tenho que saber!

- Sim senhora.

- Temos um sério problema aqui! Me liguem diretamente com o secretário de defesa Nacional! – Disse Mara indo em direção ao seu carro, enquanto o jovem soldado a observa distanciar dele passando suas mãos pela parede da sala como se pudesse saber por onde estava andando.

...

O ano é 2101, um novo Brasil reina pelas ruas. A maior parte de sua região agora é desabitada, uma nova lei predominava contra o mau, essa lei era a "Pena de Morte", imposta após o Caos do efeito UVA. Milhões de pessoas foram tragadas por uma epidemia, isso aconteceu após o protetor solar ser transformado em um novo remédio. Havia sido criado o fator 3000, um bloqueador em forma de comprimido, desenvolvido através de uma substância anti - oxidante criada em laboratório, seu nome era CENANO. Ao ser ingerida aumentava grandiosamente em minutos a resistência da pele contra o sol, era uma aliança entre as vitaminas “C” e “E” com a nova nanotecnologia, diziam ser a cura contra a intensa radiação solar, mas após seis meses de uso os efeitos do remédio afetavam o sistema nervoso das pessoas, que ficavam irreconhecíveis e começavam a atacar umas as outras. Este período tenso recebeu o nome de “A revolução do sol”.

Como o efeito dos UVA não atingia somente os seres humanos, a fauna e a flora também foram degradadas pelo aquecimento. Grande parte da natureza foi devastada antes que se pudesse fazer algo. A água nas usinas de dessalinização era um dos poucos recursos que restavam, visto que a potável havia praticamente se extinguido, sendo encontrada apenas em alguns pontos desertos do velho Brasil. Pontos estes que infelizmente em sua maioria eram considerados áreas de risco. O presidente Glauco Antônio Araújo, foi o responsável pela volta da Pena de Morte ao país no ano de 2075. Mas aquilo era uma solução iminente, os loucos estavam lá fora. Foi um extermínio sem proporções. Ainda não havia as salas frias, e o número de infectados era enorme. Por fim a grande maioria foi eliminada pelo exército brasileiro que após isto foi abolido e passou a chamar-se por Exército do Gelo. Restou ainda outra parte de infectados, posteriormente chamados de nanoinfectos, os quais se escondiam do sol devido a falta de um protetor eficiente que os protegesse. Eles refugiavam-se pelos esgotos, abaixo das antigas cidades.

Depois de dois anos de isolamento um novo protetor foi criado, a formula havia sido alterada. Para testá-lo eles haviam criado um pequeno número de clones humanos. Um ano e meio após o sucesso do novo fator nos clones, chamado posteriormente de fator 3001, a sociedade voltava para as ruas e era o inicio de uma nova vida para todos, ou pelo menos era o que aparentava...

...

Era uma sala fechada, o suor descendo pelo rosto do homem sentado na cama, seus olhos fixos nas cadeiras vazias á sua frente, um policial perfeitamente alinhado explicava a situação que ali se encontrava.

- Penitenciária Nova Bangu... Execução nº. 40.353.

Meu nome é João Carlos Silva, sou agente penitenciário da Nova Bangu, penitenciária intermediária introduzida no ano de 2066 com o dever de alojar os mais perigosos presos do Brasil para que os mesmos realizem aqui suas passagens. Estamos hoje nesta sala exercendo o dever de cidadãos zelosos pelo bem estar geral da nova sociedade para realizarmos a execução de um dos mais perigosos assassinos dos últimos 100 anos. Responsável por 26 mortes, de forma que todas foram premeditadas. O prisioneiro Daniel de Paiva Lima, idade fictícia, 40 anos, idade correta 66 anos, também conhecido como "Assassino Capital", foi sentenciado à 60 anos em completo isolamento na cápsula de solitária Nanomera, sem direito ao envelhecimento graças a tecnologia que evoluiu a enzima telomerase, unindo-a com a nova nanotecnologia paralisando o envelhecimento das pessoas enquanto estiverem dentro da Nanomera em situação de coma induzido e sendo alimentado por sonda durante este período, privando-se é claro de todos seus direitos de cidadão. Mas devido ao seu julgamento ter sido antecipado e sendo decretada a pena de morte, sua execução começa em 10 minutos...

... enquanto isso...

Um V8 preto modelo aerodinâmico piscava suas sirenes e planava à metros da portaria principal da Nova Bangu. Uma soldado trajada de colete balístico especial feito de Kevlar associado a uma nova tecnologia nano descia apressada.

- Abram os portões!!! Tenente investigativa Mara Torres! Saiam da minha frente! – Dizia ela apresentando um documento em suas mãos.

- Uma Telepática? Disse o policial olhando para os olhos parados da mulher á sua frente.

- Clarividente amigo! Telepática... intuitiva e autoritária! Saia logo ou perderá seu emprego seu imbecil!

- Pode entrar!

- Onde ele está?

- Câmara de execução.

- Ligue e encerre a execução agora!

- Impossível! Não há telefones na sala!

- Então deixe comigo! Onde fica?

...

- O preso quer dizer algo? – Disse o agente penitenciário num tom irônico.

- Vocês por acaso acreditariam em mim?

- Não se for dizer que é inocente.

- Não! Não diria isso agente Silva. Apenas reafirmo que vocês é que são os culpados! Aqueles homens mereciam morrer! E matei cada um deles!

O agente sorriu de volta e voltou-se para o painel á sua frente.

- Liberando o gelo gás. – Em segundos a sala se encheu de uma fumaça branca. Do lado de fora do vidro, vários homens de terno e alguns policiais assistiam a tudo ansiosos pelo desfecho. Dentro da sala apenas estavam o agente Silva que trajava uma roupa especial e o condenado que estava preso a cápsula.

- Preparar injeções de nanomorfina, adrenalina e nanoanestesia! – Quatro injeções saíram do teto guiadas por braços mecânicos.

- Senhor Daniel, esteja ciente de que este é o processo mais indolor pelo qual o senhor poderia passar. Algo que eu pessoalmente não concordo que mereça.

- É claro! – Dizia o condenado já com dificuldade de respirar, isto devido ao gás gelado que deixava seu corpo completamente dormente.

- Você entrará em estado de hipotermia. Pelo decreto 2215312, imposto como lei determinante esteja ciente que serão feitas algumas remoções de órgãos após sua execução. O senhor estará contribuindo para salvar vidas. O oposto do que fez enquanto era um homem livre. O novo estado tem todo direito de fazer qualquer experimento com as partes restantes de seu corpo. Ok?

- Vão me cortar é? – Dizia Daniel.

- Espero sinceramente que te mutilem completamente! – Disse João com uma expressão nada amistosa.

- Por que tanto ódio? – Daniel indagou movendo direcionando sua visão para o agente com certa dificuldade.

- Não é ódio! Chama-se Justiça!

...

Mara seguia desesperada, suas mãos tocavam as paredes, era uma base debaixo do subsolo, todo o novo Bangu era assim. O soldado a conduzia.

- Como a Senhora consegue andar tão rápido? Não tropeçar?

- Quando a gente perde um sentido, outros se aguçam muito mais. Soldado Jonathan. Estamos chegando?

- Sim, estamos quase lá!

...

- Justiça... Ah, sim... estou pagando um preço justo por isso. É uma palavra forte. Um senso extraordinário. – As injeções perfuraram suas veias. Todas as quatro, duas de nanomorfina, uma de adrenalina, e uma de nanoanestesia.

- Você terá direito a ver sua própria morte, e nem sentirá dor.

- Que bom! Essa notícia era para que eu ficasse feliz?

- Faremos tudo direitinho! A última coisa que queremos é te matar!

- Antes querem tirar meus órgãos. – Daniel sorriu.

- Alguns deles! Seu coração prefiro dar aos nanoinfectos. Começar remoção de órgãos em 5 segundos! – Foi um desprazer te conhecer Daniel.

...

- Droga! Estamos ou não chegando?

- Estamos sim, Senhora. Próxima porta á esquerda.

...

- 5...4... Os olhos dos espectadores estavam ansiosos pelo desfecho. Os quatro braços mecânicos saíram novamente com equipamentos necessários para remoção dos órgãos.

- 3...

- Parem!!! Gritou Mara entrando subitamente na sala. É uma ordem do presidente! Soltem este homem agora! Disse ela erguendo o papel na sua mão.

...

- Não! Disse João enfrentando-a. Este homem vai morrer hoje!

- Hoje não agente Silva! – Disse ela apontando sua arma para ele. Interrompa a execução! Daniel virou seu pescoço devagar e olhou para ela naquele momento, seus olhos esverdeados estavam parados.

- Ela é cega? Estou perplexo!

- Bela observação, meu novo parceiro! - Disse Mara. - Você vem comigo!

Continua...

"A Roda" era um meio de execução medieval utilizado na Europa do século XVI. Haviam dois tipos de roda, no outro tipo ela estava cheia de pregos e o condenado era mutilado por eles.

Leiam também O Jogo da Forca...

Bem este é claro, é o capitulo I do conto Pena de Morte, "Pena de Morte capítulo I - O condenado" ... que estava parado e está sendo retomado e corrigido por mim, alguns detalhes estão sendo acrescentados, mas nada que requeira uma nova leitura.

Entre sábado e domingo, dias 06-11 e 07-11, será postado o capitulo IX, da saga, estamos chegando ao fim. Peço desculpas pelos imprevistos e aviso que o conto ja está quase todo finalizado. As datas das postagens dos episódios finais serão informadas na sexta. Estou ansioso para postar e começar logo o próximo conto.

Abraços!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 02/11/2011
Reeditado em 05/11/2011
Código do texto: T3313486
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.