O amigo oculto ( Por Sidney Muniz ) - Você também pode ter o seu...

- Festa estranha com gente esquisita, eu não to legal, não agüento mais birita... –

Renato russo embalava a noite enquanto na sala nos reuníamos para entrega de presentes do amigo secreto. Por muitos anos esperamos aquele encontro. Alugamos uma casa para garantir nossa privacidade e preparamos toda a festa. Estávamos todos lá, bêbados, drogados, mas em nossa loucura ainda nos encontrávamos lúcidos.

Cantávamos juntos o refrão...

- Quem um dia irá dizer que existe razão pras coisas feitas pelo coração...

João Murillo fazia suas caretas enquanto o vinho derramava-se pelo canto de sua boca, tentou levantar-se do sofá quando sentiu uma tontura e seu peso jogou-o de novo no assento, a taça onde havia um velho desenhado, segurando uma bandeira do clube do Ceará balançava no ar aparentemente segura em sua mão, o líquido louco para escapar tal qual um mar feroz. Fernando Calixto ria dele abraçado a uma garrafa de vodka, ergueu-a e beijou-a, depois encostou sua face no vidro frio e disse:

- Eu te amo, ela é tão transparente, tão linda, tão sincera... – Fernando soluçava enquanto falava tremendamente bêbado...

- Esse ta loco mesmo! – Disse Murillo bebendo mais um gole do vinho tinto, ergueu a taça na direção de Mauro que estava sentado ao lado de Dosan e sorriu.

- Caramba Julio, conhecer vocês é algo meio insano.

- Ser insano é com a gente mesmo né Mauro. – Julio disse enquanto brindavam cada um com uma long neck de Stella Artois nas mãos, os dois entreolharam-se e Mauro apontou com o olhar para outro canto da sala onde Michele, May, Lee e Faby riam de alguma possível fofoca.

- Qual delas você teria coragem Julio? – Perguntou Mauro com a cara de sem vergonha de sempre, e sua barba enorme que nunca mais cortou desde que o Vasco retornou a segunda divisão do Brasileiro.

- O Julio pega até avião caindo Mauro, umas beldades dessas, e você pergunta qual ele pega? – Disse enquanto chegava com outra Stella Artois, e me reunia aos dois. - Prontos para o amigo oculto?

- Bora Sidoca. – Disse Julio ainda rindo.

- Vamos logo gente! – Chamou Mauro com sua voz fanhosa e sua gagueira, algo que ele sempre havia nos escondido, daí o porquê de nunca ter falado ao telefone conosco.

- Antes um presentinho de um amigo nosso. – Disse Julio indo em direção ao som. – Vou tirar o Renato um pouco Mauro. Ele então tirou o Cd Mp3 que já tocava a duas horas seguidas, (Ramones, Capital, Legião, Guns, Oásis) e colocou outro e apertou o play. Uma trilha sinistra iniciou-se, seguida de uma risada maquiavélica e por fim uma voz conhecida soou grossa e rouca em nossos ouvidos.

- Aos meus amigos do terror, boa noite. Inicia-se agora “O amigo oculto”, um evento que ficará para sempre em suas memórias. – Ao fundo da voz, gritos aterrorizantes eram ouvidos, e então um uivo assustador. A voz continuou...

- Para que essa reunião maldita fique para sempre em suas memórias, o mestre Dosan teve a brilhante idéia de fazerem um pacto... Hahahahahaha... – A gargalhada maldita penetrou nos ouvidos de todos que se entreolharam surpresos. – Dosan pegou uma faca e colocou sobre a mesinha de centro, uma pequena e afiada lâmina. – Este contrato de sangue selará suas almas e os dará o sucesso que tanto desejam. – Todos ouviam atentos e assustados com a estranha proposta. A voz diabólica soava na cabeça deles tal qual o som de uma trombeta anunciando algo demoníaco. – Vocês podem ter tudo ou negarem agora e terem suas vidas ceifadas pelo diabo. Tem exatamente dez minutos... O tempo começou... – A gargalhada insana surgiu novamente e desapareceu aos poucos, dando espaço ao som satânico de Sepultura que tocava a demente Orgasmatron...

O silencio de todos foi quebrado por Calixto...

- Que doidera é essa que o Guto disse? O Aparelho de som ta drogado?– Ele perguntou ainda bêbado.

- Esse cara com a voz do capeta deve estar mais bêbado que eu! – Disse João desmaiando no sofá.

- Vocês estão de brincadeira né? – Perguntou Lee olhando incrédula para Julio.

- Não moça bonita, não estamos. – Ele respondeu pegando a faca, olhou para todos, pegou uma taça vazia e colocou sobre a mesa. A ponta da lamina cortou a pele da palma de sua mão enquanto o sangue escapou ansioso e quente, louco para encontrar a liberdade que a morte o proporcionava.

- Meu Deus! – Michele disse levando a mão a boca e cheirando um pouco mais de cocaína. – Isso é demais. – Ela foi a segunda a cortar sua pele, numa fincada lateral a faca encontrou sua carne e ela gemeu de dor, mas um gemido sarcástico, depois deixou que sete gotas pingassem dentro da taça, como Dosan havia feito. Calixto levantou-se cambaleante, a vodka desceu queimando sua garganta e então ele olhou para mim. Seus olhos avermelhados então focaram na direção da faca.

- Aaaaaaa... Merda! Isso dói. – Ele disse enquanto contava as gotas que caiam levando sua alma. – Caramba alguém mais aí colocou quatorze gotas? – Disse esfregando os olhos, e depois olhou para Murilo e apanhou o cálice, levou até ele e riu desgraçadamente. – Esse vai acordar com uma ressaca daquelas! – Disse talhando a mão de seu amigo, e em seguida saiu no rumo da geladeira procurando mais bebida.

May, Mauro, Lee e Faby negaram-se a fazer parte daquilo. Ainda inseguro levantei-me e caminhei até a lâmina, e o metal frio tocou minha pele. Eles mal acreditaram que caí naquela armadilha. O sangue misturando-se ao dos outros, enquanto Lee me repreendia com um olhar terno.

- Não Sid, não faça isso!

- Isso é só uma brincadeira, Lee. – Baixei os olhos e cedi minha alma tal qual um vendedor de balas. Michele olhou sem arrependimento, por sua decisão e sorriu na direção de Mauro.

- Você não vem? – Ela disse com uma voz sedutora, feito Afrodite convidando Mauro para uma ultima dança, uma dança com o diabo. Mauro hesitou e quando ia dar um passo a frente foi seguro por Faby. Aquilo fez com que ele tomasse sua decisão e respondesse a diabinha.

- Melhor não, vamos parar por aqui com essa loucura. – Ele disse olhando para todos nós. Mas nossa sorte ainda não estava decretada. Os minutos passavam lentos, bebemos daquele sangue amaldiçoado, mas nada de incomum nos aconteceu naquele momento. –

- Agora vamos começar o amigo oculto. – Eu disse enquanto chupava a ferida na ânsia de estancar o sangue que insistia em escorrer de minha mão.

- Você primeiro Sidoca. – Disse Murilo acordando estranhamente.

- Bem... Vamos lá! Tudo bem... Vou começar. – Peguei o embrulho que estava no sofá, onde o havia esquecido. Calixto pelo visto tinha sentado sobre ele. Ri sozinho daquilo e pedi á todos que se sentassem no sofá, e comecei, segurando o papel que revelava o nome de meu amigo.

- Meu presente é bem singelo. Apenas uma lembrança para esta pessoa que considero tão especial. – Lee e Mauro riam, isso me encabulava ainda mais, sempre fui péssimo para discursar. Olhei para minhas mãos e elas suavam. Mas algo libertino me tomava. – Meu amigo oculto está aqui entre nós, ele gosta de terror... Alguém sabe quem é? – Perguntei sorrindo.

- Somos todos nós? Tem presente pra todo mundo aí? – Brincou Julio.

- Então vou dizer um pouco mais desse meu amigo... Bem ele está bem aqui, está sorrindo, ansioso pelo seu presente... É algo que sempre esteve perto dele, diferente do que acontecia conosco. – O som do sepultura surgia como um sopro do inferno em nossas almas, que se agitavam bisonhamente em nosso ser tomando-nos de uma maneira infernal. – Mesmo a distancia eu sempre senti esse amigo perto de mim... – Eu dizia enquanto meus olhos ardiam e começava a sentir um sentimento fervilhando dentro de mim, minhas veias pareciam mais altas que o normal.

- Hahaha... Ta sentindo ele é Sid... Então não sou eu não. To longe demais pra você sentir algo meu. – Disse Calixto com uma garrafa de vinho que acabara de pegar da geladeira. A música de repente foi interrompida por um toque estranho semelhante as badaladas de úm enorme relógio. A voz do diabo voltou repentina e potente.

- O tempo acabou! Agora me diga o que é melhor, morrer e ir para uma terra prometida que irei corromper como esta, ou viver, entregando suas almas para mim tendo toda riqueza possível aqui na terra? – Mauro, Lee e May entreolharam-se.

- Essa brincadeira já foi longe demais. – Disse May apertando a tecla que abriu a bandeja do som, retirou o DVD e entregou a Julio que sorriu maliciosamente.

- Maldita, cadela dos infernos! – Disse a voz. May correu até o som em pânico e arrancou a tomada em total desespero. A voz gargalhou demoniacamente enquanto o corpo de May estremeceu ao ver que a voz profana surgia do nada.

- Ainda acreditam no céu? – Disse a voz enquanto os demônios tomaram nossos corpos insanamente e asas e escamas peçonhentas brotavam de nossas peles junto a chifres envergados, dentes pontiagudos e olhos avermelhados tal qual um mar de sangue. Todos que haviam bebido do sangue e feito o pacto estavam endemoniados.

- Ah meu Deus! – Disse Mauro tentando abrir a porta de saída da casa quando sentiu as garras de Dosan cravarem em suas costas e as presas de Michele arrancarem sua orelha com uma voracidade incrível. O carioca sentiu-se acuado e clamou pela misericórdia divina enquanto o sangue jorrava pelo arranhado profundo que Dosan o causara. Ele viu a morte chegar aos olhos daqueles anjos amaldiçoados. Dosan e Murilo abriram suas bocas demoníacas e rugiram, almas do inferno saíram de dentro de suas gargantas tal qual o sopro frio da morte. Anjos das sombras, de olhares avermelhados, brilhantes e mefistofélicos. Mauro gritou como uma ave que foge de uma águia sanguinária, aterrorizado. Tentava correr quando me viu caminhando sedento na direção de Lee e sentiu uma fisgada na nuca. A língua sádica de Michele penetrou na pele dele como uma artimanha da besta e atravessou toda a extensão de seu pescoço varando na sua parte frontal e enrolando sobre seu gargalo como uma corda, enforcando-o abruptamente enquanto as almas sombrias entravam por seus orifícios e saiam expulsando sua alma.

Faby foi perseguida por Calixto que bateu suas enormes asas de morcego na direção dela, abraçou-a flutuando no ar. As unhas afiadas, da criatura que Fernando havia se tornado, rasgaram a pele de Faby enquanto ela asfixiava-se naquele cingir letal. Os olhos dela saltaram para fora de suas órbitas num espasmo fulminante e Calixto a soltou enquanto ela caía desprovida de qualquer centelha de vida.

- E agora May, o que está achando dessa brincadeira? – Perguntou João olhando para o corpo sedutor da bela mulher a sua frente, mas seus olhos não expressavam nenhum desejo pela sexualidade da mulher. Ele olhou fixo para ela enquanto Julio e Calixto devoravam os restos mortais de Faby e Mauro. May se encolheu como um leão adestrado ao perceber que o chicote estava nas mãos depravadas do domador, enquanto Murillo a agarrou pelos cabelos e num puxão seco, suas mãos monstruosas arrancaram o couro cabeludo de May. Um grito de dor imensurável surgiu no vácuo daquele quarto, e o sangue espirrou no rosto de João. Ele lambeu aquilo depravadamente enquanto abriu sua boca de uma maneira descomunal, revelando duas outras fileiras de dentes pontiagudos. May olhou pela ultima vez para os restos mortais de Mauro sendo abocanhados por Julio e então sentiu a pressão sendo exercida sobre seu cérebro que foi perfurado espontaneamente e devorado apetitosamente por Murillo.

Caminhei em direção a Lee Rodrigues enquanto ouvia o som do mastigar, os ossos quebrando, os ruídos diversos que aquela carnificina esplêndida me proporcionava, ouvia também os sussurros, os pedidos de desespero dela, podia vê-la tremer a medida que me aproximava, sentia o cheiro do pânico escapar por seus poros, e a pulsação irregular e apressada denunciar o pavor intenso que ela sentia.

- Não me mate, por favor! – Ela suplicou em um derradeiro apelo e se ajoelhou aos meus pés.

- Ah Lee, como você é linda, disse abrindo minha mão e mostrando-lhe o embrulho e um papel que jazia comigo. Ela abriu-o imersa em seu choro e olhou para mim incrédula.

- Eu? Mas por que está me entregando isto? – Perguntou.

- Por que você Lee é a única que sempre foi minha amiga aqui, e agora abra o presente e faça sua escolha. – Ela abriu o embrulho e dentro havia uma bíblia. Na primeira página uma dedicatória que dizia:

“Eu conheço você, e sei do que é capaz! Para minha amiga oculta, não tão oculta assim.”

- Uma bíblia? – Ela disse surpresa. A voz endemoniada surgiu de minha boca.

- Há quanto tempo não sabe o que é isso? Nós somos uma legião Lee, mas obedecemos á um só ser, “Satanás”. E você está indecisa, diferente de todos nesta sala. E como já disse uma vez e continua escrito neste livro, em Atos 19:15; Conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas vós quem sois? Agora digo para você, eu realmente conheço a Jesus, sei bem quem o serviu, mas vós quem sois Lee? – Ela chorou e pediu perdão para Deus naquele momento. As lágrimas rolavam tal qual uma fonte de seu ser.

- Mate-me! – Foram as ultimas palavras dela.

- Feliz mundo novo, Lee! – Pousei minhas mãos em sua cabeça e arranquei-a impiedosamente, parte de seu queixo ficou para trás preso á sua carcaça, bebi todo seu sangue imundo que agora os anjos consideravam limpo. De certo as almas dos quatro vagariam naquele tedioso jardim, onde dizem que tudo tem mais vida, mas é justamente ali que a vida não encontra razão alguma. São apenas espectros servindo á algo que mal conhecem. Nós já conhecemos ao que servimos, pois o mau e sua aparência sempre nos rodeiam.

Devoramos cada pedaço daqueles corpos e iniciamos nossa caminhada para fama, alimentando-nos de todo ser patético que almeje o paraíso, e continuamos juntos; eu, João, Calixto, Dosan e Michele, até que o diabo se apodere de nossas almas.

Fim!

Esta é uma brincadeira que estou propondo no recanto, a medida que os amigos ocultos vão sendo revelados em seus contos, o próximo a postar é justamente o amigo oculto. Esse foi meu presente para Lee, a vida eterna, á minha maneira, é claro.

Lee, Quem é seu amigo oculto? Conta aí pra gente vai...

Leiam...

“Pena de Morte”

“O Jogo da Forca”

“Minha Morte”

“Um Assassinato no recanto das letras”

“Joãozinho Faz de Conta”

Logo posto o Pena de Morte – Capitulo XI ( estava meio doente, já estou quase bom)

De quem não gosta do estilo... vai aí a letras traduzida... (tradução retirada do Kboing)

Sepultura - Orgasmatron

Eu sou o único, Orgasmatron, a mão estendida segurando!

Minha imagem é de agonia, meus servos estupro da terra!

Obsequioso e arrogante - clandestinas e vão!

Dois mil anos de miséria .. de tortura, em meu nome!

Hipocrisia fez paranóia, a lei suprema!

Meu nome é chamado de religião - a prostituta, sádico sagrado!

Eu torço a verdade, eu governar o mundo, minha coroa é chamada de engano!

Eu sou o imperador das mentiras - você ajoelhar aos meus pés!

Eu roubá-lo e eu abate você! Sua queda é meu ganho!

E ainda você joga o bajulador ... e se deleitam com a minha dor!

E todas as promessas são mentiras ... o meu todo o meu amor é ódio!

Eu sou o político - e eu decidir o seu destino!

Eu marcho diante de um mundo martirizado - um exército para a luta.

Falo de grandes dias heróicos - de vitória e poder!

Eu seguro um estandarte ensopado de sangue! Exorto-vos a ser corajosos!

Eu levá-lo ao seu destino - eu levá-lo para sua sepultura!

Seus ossos construirão meus palácios - seus olhos vão mycrown garanhão!

Pois eu sou Marte, o deus da guerra, e eu vou cortá-lo para baixo!

A todos um forte abraço e que Deus os abençoe e ilumine sempre.

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 17/12/2011
Reeditado em 18/12/2011
Código do texto: T3393740
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