No escuro

Acordou no meio da noite. Que horas eram, não sabia. Deitava em sua cama mas não conseguia fechar os olhos. O silencio. Doía-lhe os ouvidos. O escuro. Os olhos feridos. Tudo era um nada e o nada o engolia.

Começou a pensar nas coisas ao seu redor. Era um quarto simples, uma cama, um guarda roupas, e paredes brancas. Mas, sentia uma estranha sensação. Que cheiro era aquele?

"Há algo aqui. Algo VIVO aqui! Mas somente eu deveria estar neste quarto. Devo acender as luzes? Mas ele pode estar do meu lado. Bem aqui do meu lado. Se eu levantar e esbarrar o que vou fazer?" -- pensou.

Havia se certificado que não havia ninguém naquele quarto. Naquela casa. A janela em momento algum se abriu, e nem ouviu barulho de portas em nenhum comodo da casa. Droga, ele ouvia seus próprios batimentos cardíacos, e de mais nada. Mas tinha um cheiro peculiar que surgiu do nada. Pelos? Sim, era cheiro de pelos. Cabelos humanos? Algo lhe dizia que não. Por via das duvidas, resolveu falar algo. No silencio, sua voz saiu como um grunhido.

"O-o-olá?"

Sem resposta...freck, freck, freck...freck, freck, freck...unhas? "Eu devo estar maluco, barulho de unhas? Mas, foi tão baixo...minha imaginação deve estar pregando peças em mim...". Virou-se e se escondeu embaixo do cobertor

"Idiota. Se é para tremer de medo, levante-se e acenda a droga da luz, imbecil!" Mas não saía do lugar. Suas pernas tremiam. Ele OUVIA elas tremerem. Era um silencio infernal. Se fosse mesmo barulho de unhas, teria parecido ruido imenso. Claro que não tinha nada ali.

Decidiu que ia se levantar e tirou a perna fora da cama. Pisou numa barata. Isto foi nojento e agravou a sensação de panico. Levantou com tudo motivado pela repugnância e vontade de limpar os seus pés, e finalmente acendeu a luz. Nada, nada no quarto. Era tudo coisa de sua cabeça. E por isso agora estava com seu pé daquele jeito. Tentou abrir a porta.

Estava trancada. Problema. Aquela porta não tinha chave. Fazia dias que perdera a chave, e nunca sentiu falta dela, já que morava sozinho. Tentou, tentou, tentou, mas, era como se ela estivesse pregada na parede, não abria de forma alguma. Chutou, nada, tentou arrombar com o peso do ombro, nada. Repetiu por alguns minutos enquanto sentia a coisa ficar séria.

"Devo estar sonhando...aposto que se eu me deitar, notarei que a qualquer momento estarei despertando." Mas isto não acontecia.

"Não consegue me achar, não é?" Como uma criança cantarolando algo, "la-la-la-la-la, la você não me pega" soou a voz. Era fina, e seu cantarolar era horrendo. Seu corpo tocava bateria com seu coração.

Pensou em se levantar, acender a luz de novo, quando ouviu o barulho de unhas arranhando de novo. E ouviu alguma coisa além disto. Um coração, que descompassado com o seu, acelerava mais e mais.

"Ninguém vem te salva-ar" Porque cantarolar daquele jeito infantil? Não fazia sentido. Estava ficando maluco...não? Era um pesadelo, bem realista...não? Começou a rezar de olhos fechados...

"Amém" respondeu a voz quando ele, com os olhos encharcados, interrompeu um pouco a oração. Não importa o que fosse, gostava de zombaria.

"APAREÇA SEU DESGRAÇADO!!!" Gritou. Nenhum som. Um forte odor de pelo de animal estava impregnado no quarto. Até havia esquecido da sensação nojenta em seu pé, ou da porta fechada.

"Hm, hm, hm, hm, hm....hm, hm, hm, hm, hm....ninguém vem te salva-ar"

O medo se tornou raiva, e raiva o fez recobrar as forças. Estava tudo perdido, então encararia o que quer que fosse e terminaria com aquilo de uma vez. Fez menção a se levantar quando as luzes se acenderam.

Quando olhou, só pensou uma coisa "era o que eu mais temia...que porcaria..." Aceitou o seu destino e sorriu.

"Ninguém vem teee salvaaaaaaaaaa-aaaaaaaaaaaaar...."

Psycho Vincent
Enviado por Psycho Vincent em 18/12/2011
Reeditado em 31/07/2020
Código do texto: T3394573
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