A loja de brinquedos

Passava pouco mais das onze horas da noite quando os sons começavam. Tinham lhe avisado há uma semana atrás quando aceitará o serviço de faxineiro que a loja de brinquedos era assombrada. Edvan rira e zombara dos seus colegas de serviço, mas por dentro o medo lhe roía as entranhas. Convivera por toda sua infância com casos e histórias de terror. A fazenda dos avós era o cenário perfeito para muitas das histórias que hora ou outra contava para seus colegas de trabalho. A maioria ouvira dos avós e repassava para os amigos adicionando seu toque pessoal. Adorava assustar, mas não gostava de ser assustado.

O corredor que ele limpava estava bem iluminado. Sem sombras sinistras pelas quais os ratos pudessem se esgueirar, no entanto os brinquedos...

— Oras, homem. São só brinquedos — falava pra si mesmo. Precisava ouvir a voz de alguém. Mesmo que fosse sua própria voz. Achava que isso afastaria o terror que o lugar causava, porém isso só contribuiu para aumentar a tensão. O silêncio que se seguia era arrepiante.

Ele se encontrava na entrada. Atrás de si as grandes portas duplas de vidro por quais ele podia ver o estacionamento da loja. Havia dois carros estacionados. Perguntava-se quem deixaria os carros no estacionamento à uma hora daquelas.

Molhou o pano no balde e pôs-se a esfregar o chão. O que queria fazer era largar aquilo ali e voltar para casa e o aconchego de sua família. Precisava do trabalho, mas daria qualquer coisa para largá-lo. Ainda mais depois do tiroteio do outro dia.

Aconteceu no domingo à tarde. A loja estava apinhada de gente. Crianças correndo de um lado para o outro puxando seus pais. Pais procurando suas crianças perdidas entre as monstruosas prateleiras de brinquedos. Um dia normal até que os dois assaltantes entraram na loja causando o terror. Estavam encapuzados e apontavam suas armas gritando para os funcionários e clientes. A funcionária já tinha entregado todo dinheiro do caixa, mas os bandidos ainda queriam roubar os clientes. Tomaram tudo que tinham. Então ao se aproximaram do pobre Edvan, este sem hesitar um segundo foi puxar a carteira que ficava no bolso detrás da calça. Os bandidos se precipitaram achando que fosse algum tipo de arma e disparam contra o faxineiro. Edvan se abaixou no último segundo. E encolheu-se no chão. Nesse segundo policiais armados entraram pela porta da frente e surpreenderam os bandidos. Não eram profissionais. Apenas garotos dando seus pulos errados. Entregaram-se aos prantos.

— Foi por muito pouco — sussurrou Edvan.

Pensava no que poderia ter acontecido com sua família se aquele tiro o tivesse atingido quando ouviu um barulho vindo do corredor mais à frente. Parecia um balde sendo derrubado. Caramba, o lugar era assombrado. Agora não via a hora de terminar aquilo, ir para casa e contar aos amigos no dia seguinte que a loja tinha fantasmas mesmo.

Olhou para o corredor, ainda estava sujo. Estranho... Por mais que limpasse parecia que nunca acabava. Há quanto tempo estivera ali? Não sabia. Apressou o ritmo. Ao longe, ouvia passos e murmúrios.

* * *

Sempre no mesmo horário. Carlos limpava os corredores quando os sons começaram. Passos, balde com água. Parou para ouvir. Parecia vir da entrada. Tinha aceitado o serviço logo depois que o último funcionário morrera tragicamente em um assalto a loja. Pobre homem. Chamava-se Edvan. Fazia uma semana que começara a trabalhar quando foi morto. Carlos ainda tinha que limpar aquele corredor, mas preferiu deixar pra amanhã. Não queria perturbar os mortos.

Sr Terror
Enviado por Sr Terror em 27/12/2011
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