Hector acordou em meio ao caos da pequena sala de sua casa. Abriu os olhos com dificuldade e levantou-se do chão se apoiando no braço do sofá que por diversas vezes havia utilizado como ninho de amor. Ao pôr-se de pé, ainda cambaleante olhou para pequena mesa que ficava no centro do cômodo e correu os olhos por sua superfície, avistando ainda com sua visão enturvada uma fileira de pó branco que se espalhava pela mesa, enquanto o ventilador de teto soprava acima do corte moicano do jovem de apenas dezoito anos. Não era a primeira vez que um porre deixava Hector tão mal. Dirigiu-se até o banheiro e foi de encontro ao lavatório. A torneira estava aberta. Uniu as mãos em forma de concha para que a água se ajuntasse nelas, mas surpreso viu que o liquido caia fugindo dele. Ainda zonzo passou a mão sobre seus olhos esfregando-os, e assim começou a enxergar mais claramente toda a situação em que havia se metido. Com a visão mais clara olhou para o espelho e se assustou ainda mais com o que viu. Colocou a mão sobre seu rosto e a vontade que teve foi de gritar. Agoniado, olhou então para a porta e viu que estava fechada, sentiu-se confuso e levou a mão até a maçaneta tentando abri-la, mas incrivelmente não conseguia. Tentou girar com as duas mãos, e novamente a maçaneta não se movia. Hector parecia estar preso ali. Em meio ao desespero deu dois passos para trás, aparentemente assustado. Precisava entender o que estava acontecendo. O medo o tomava por completo. Recuou ainda mais. Inseguro, aproximou-se ao máximo da parede oposta a porta, e tomou impulso. Correu na direção do obstaculo de madeira, fechou os olhos e só os abriu ao cair no chão. Sentiu que não havia se machucado, e ainda sobre o piso de cerâmica, ergueu sua cabeça e olhou ao seu redor. Aquilo tudo era muito confuso. Enquanto tentava recuperar sua memória, juntando os fatos da noite anterior, caminhou em direção ao seu quarto. No caminho avistou a cozinha. Entre o vão onde deveria haver uma porta que interligava os cômodos, viu o café da tarde posto, mas apenas para uma pessoa. Porém não havia ninguém ali. Entretanto, mais a frente a porta do quarto se mostrava entreaberta, deixando que ele pudesse ver a beldade que estava de costas para ele. A jovem tinha um corpo escultural, era uma mulher de aparência asiática que ele havia encontrado na noite anterior, na boate mais badalada da cidade. Thalita era seu nome, ela agora estava tentando vestir sua blusa que na noite anterior havia sido tirada com bem mais facilidade. Olhando através da janela aberta, ela via os transeuntes, trafegando calmamente pela rua, e ouvia o som potente do Peugeout207 pertencente à algum mauricinho, o som tocava a musica que havia embalado a noite anterior. Hector tinha ido para “Girus”, a boate na cidade de Pará de Minas, onde Michel Teló fazia sua apresentação, e lá mesmo Hector a conheceu. Com a cantada do momento ele a conquistou, ao dizer – Nossa, delicia! Assim você me mata. A vista de seu apartamento revelava a rua, três andares abaixo, e uma visão explendida de todo seu bairro. Hector caiu em si, e pensou no que aconteceria se ele a abraçasse naquele momento. Ela permanecia ainda despida, convidativa, com seus longos cabelos cobrindo parte de seu dorso. Ainda usava aquela calcinha rosa e sexy. Sempre calculista ele aproximou-se devagar e então a abraçou sussurrando em seu ouvido sem nenhuma timidez.
- Assim você me mata! – Thalita sentiu o toque gelado das mãos de Hector, seu corpo todo respondeu aquela situação e ela estremeceu, mas o que mais a surpreendeu foi ouvir a voz do homem com quem ela havia transado loucamente à noite passada. Ela então se virou para ele e a única coisa que pensou em fazer era sair dali correndo. Em meio ao desespero correu da imagem insana de Hector e saltou da janela gritando alucinada indo de encontro a superfície irregular do piso de calçamento da rua daquele bairro. Rachou o crânio deixando que parte de sua massa cefálica derramasse-se pelo chão bisonhamente, junto ao sangue que vazava por onde encontrasse a liberdade. Hector olhou-a com desdém e se viu sobre a cama, ainda com a expressão de socorro no rosto. Lembrou-se da aflição que havia passado antes de morrer asfixiado pelo travesseiro, por aquela maldita psicopata que havia cruzado seu caminho. Ela havia o matado enquanto ele ejaculava dentro dela. Foi um misto de êxtase e angustia.

– Gozado isso. - Ele pensou enquanto entendia o porquê de não haver o reflexo no espelho do banheiro, ou até mesmo de suas mãos não se molharem com a água da torneira. Hector agora era um maldito fantasma que atravessava portas, que apenas sentia o toque frio de suas mãos. Agora estava preso naquele apartamento para sempre. Naquele maldito apartamento assombrado. Muitos ainda temem entrar nele, e alguns mais corajosos advertem:

- Nossa! Ah, se ele te pega, ele te mata!

Fim!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 05/01/2012
Reeditado em 09/01/2012
Código do texto: T3424165
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