VAMPIROS

Era uma vez...

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Ele olhava pela janela do quadragésimo segundo andar. Apenas o que o dividia do mundo naquele momento era o vidro. Ele podia tanta coisa, mas estava com medo, do que o futuro o reservava. A firmeza demonstrada em outros tempos idos, como no navio do capitão Arrab Jhonson, numa vida que se pudesse ele gostaria muito de voltar. Uma lágrima vem quando ele lembra do pai, morrendo em seus braços. Arrab não era seu pai verdadeiro, mas foi quem o acolheu quando ele se transformou num vampiro e não tinha mais pra onde ir. Arrab o achou caminhando nas montanhas geladas, com calça e camisa brancas, porém manchadas do sangue, que descia dos seus lábios. Sua primeira vitima era também o seu primeiro amor, que servira na fazenda do seu pai como professora. A convivência com Madeleine o fez apaixonar-se ainda enfante. Ela era onze anos mais velha que ele, quando começou a ensinar aquele menininho de cinco anos. Com dezoito anos era evidente a paixão arrebatadora, que queimava o peito, de um para com o outro. Os olhares denunciavam o amor, o desejo de se entregar, a vontade de beijar e apertar no peito o amor e nunca mais, nunca mais soltá-lo. Quando Arrab morreu um pedaço de Christoferson foi-se com ele. O pedaço que sobrara, pois durante cem anos Chris vagou nesse mundo como um zumbi, matando, roubando, criando amores aqui e ali, mas sem amar. A solidão o arrastara para as casas de mulheres fáceis e vinho barato. Sua vida era um torpor constante. O vinho vermelho o embriagava. Dessas mulheres queria o beijo roubado e o sangue. Apenas uma ele largou, sem matar, Anadi. Mas ela se tornou vampira, Joshua, o profeta a transformou.

Lembrar-se do profeta era amargo, o ódio entre os dois os tornara rivais poderosos. Na Secessão um ficara ao Norte e o outro ao Sul e duelaram a principio com baioneta e tiros de pólvora. Christoferson odiava Joshua e todo o seu bando, por causa de Anadi, que o amava. O amor de Anadi o fazia esquecer de Madeleine e de quem ele era: um vampiro. Um ser mortal, assassino, fadado a viver eternamente, sem nunca morrer. Ele era um assassino que matava as mulheres que amava. Ele era um ser vil. Christoferson, o vampiro, era um dos dez príncipes da Ordem de Calazar. Ele era o príncipe dos vampiros. Muitos dependiam dele, mas seu coração era vazio, despedaçado, pelo amor das mulheres que amara e destruira. Pelo amor de quem lhe queria tão bem e carinhosamente, mas que tinha medo de magoar. A fita larga, vermelha, com o símbolo da Ordem de Calazar escorregara de sua mão, lentamente, enquanto Christoferson chorava lentamente, amargamente, enquanto a chuva invadia o quarto em fúria, que fazia voar os móveis da sala e seus lindos cabelos pretos, encaracolados e longos. Seus quase dois metros de altura, faziam com que Christoferson parecesse um gigante. Mas naquele instante, aquele gigante, de cabeça baixa ,não passava de um garotinho, querendo voltar ao colo da linda Madeleine, que lhe contava historinhas de nanar. A medalha caiu no chão, afinal...

pslarios
Enviado por pslarios em 22/01/2012
Reeditado em 22/01/2012
Código do texto: T3455098