Continuação - A Confissão de Sharpe

(primeira parte aqui - http://www.recantodasletras.com.br/contossurreais/2860929)

Em algum lugar dos suburbios da cidade William Sharpe estabeleceu o seu refúgio.

Um prédio abandonado, antigamente usado por uma gangue de traficantes foi o local escolhido.

Por algum motivo, ninguém se atreve a entrar no local.

Talvez porque a gangue de traficantes que o habitava apareceu morta, 3 anos atrás.

Todos de alguma forma adoeceram, ou foram assassinados.

Na antiga lavanderia do prédio há uma entrada secreta que leva ao porão onde Sharpe repousa.

Apesar da decadência, não há ratos no local... Ninguém sabe o motivo, mas as Serpentes que vivem no prédio têm que se alimentar.

No primeiro andar existe uma sala com televisão e um computador que William raramente usa.

Ele não se acostumou aos modos dos novos séculos. Mas a tecnologia se mostrou irritantemente útil para este vampiro do século XVIII.

Desde que se mudou para este prédio William nunca trouxe ninguem, vivo ou não vivo, ao local.

Mas hoje, as coisas mudaram.

Átila acordou dentro de uma banheira coberta com um plástico preto.

Ele tentou gritar mas não pôde.

Uma faixa cobria sua boca.

e ele sentia gosto de sangue.

Estava extremamente fraco e se debateu até que ouviu som de passos, e um chocalho que fez um arrepio percorrer sua espinha.

A lona foi removida e ele se viu no escuro.

-Boa noite, padre Atila.

uma bela contradição no seu nome, não concorda?

Eu sou péssimo em historia... péssimo. Mas lembro que foi um homem chamado Átila que quase derrubou o império romano, e foi criativamente chamado pela sua igreja de, "flagelo de Deus". Um padre com o nome de Átila é algo bastante curioso, não acha?

Mas voltando...

como foi seu dia? Dormiu bem?

O padre tremeu, gemeu e depois se acalmou, enquanto o homem falava.

Tentou buscar na memória como tinha chegado àquela situação.

ele lembrava que tinha recebido uma carta.. sim... uma carta que dizia que alguém denunciaria ao Vaticano os seus pecados.

denunciaria o que ele fazia com as crianças de sua paróquia.

Ele tinha ido a um local nos subúrbios tentar negociar o silêncio do autor daquela ameaça. Ou então, cala-lo com o silêncio da morte.

automaticamente Átila levou as mãos ao bolso e percebeu que seu revolver ainda estava lá.

Sorte! - ele pensou.

Mas por que o homem não tinha lhe retirado a arma?

os pensamentos de Átila foram interrompidos pelo homem, que pigarreava.

- O que você quer de mim? - Trovejou o padre

- Ora, ora, Padre. quero ajudar a espiar os seus pecados.

Eu tinha decidido matá-lo. mas algo que vi, quando suguei seu sangue podre... me fez pensar de forma diferente. Eu vi, quando drenei a primeira gota do seu vitae o sofrimento de cada uma de suas vítimas... eu vi tudo o que você fez. Então decidi que a morte é pouco para você .

- Me mate logo, monstro! Deus sabe que o inferno é punição suficiente para mim. .

- Vocês cristãos são um povo notável. Pensei em dar a você o mesmo destino de seu Deus pregado, o que acha?

O padre tremeu assustado... e nenhuma palavra saiu de sua boca.

Há... não, não... estou brincando Padre.

Crucificação daria muito trabalho, muito mesmo.

eu precisaria de madeira, pregos grandes, uma coroa de espinhos... um inferno!

e para você seria uma honra morrer da mesma forma que o filho do seu deus Judeu.

o deus dos escravos...

bem. eu pensei em amaldiçoar você... dar a você o mesmo destino que me deram... mas também você não tem honra suficiente para ser um dos meus.

pelo menos não agora...

seu caráter teria que ser... Moldado...

só o tempo fará isso...

Então, decidi... você vai ser o meu lacaio. Meu escravo. Sua vida me pertence e eu vou arranjar alguma utilidade para ela.

Você é ruim demais para estar solto nesse mundo e pior ainda para ir para o inferno, ou qualquer outro lugar.

Saiba. você não vai morrer, mas você vai pagar.

Primeiro, vou privar você do instrumento que você usava para torturar suas crianças. É... agora você vai ter que urinar sentado.

e pensando bem...

Os padres todos deveriam fazer isso... daria menos problema ao Vaticano.

Então, a porta se fechou, e ninguém ouviu os gritos de Átila.

...

Átila abriu os olhos...

tinha tido pesadelos o dia inteiro...

ainda sentia dor pelo seu membro amputado, mas William havia dado sangue suficiente para que ele fechasse a ferida... mas não o suficiente para regenerar tudo, se é que isso era possível.

Ele se sentia miserável.

estava trancado novamente. no quarto onde estava só havia um colchão úmido, uma escrivaninha com uma bacia d'água, uma navalha e dois pacotes de biscoito.

o quarto era iluminado por uma lâmpada de 40 watts e a pouca claridade era enervante.

Embaixo da porta havia uma carta e rapidamente o padre foi lê-la.

- Meu caro Atila, nesta carta seguirão as instruções para o aprendizado deste mês.

Talvez eu venha visitá-lo, talvez não.

Você bebeu meu sangue pela terceira vez ontem, então verá que será muito difícil você me desobedecer.

Muito mesmo.

Então, já que você mostrou ser um verme, um rato imundo, resolvi que eles são a melhor companhia pra você. se puder perceber, devem haver uns 10 deles soltos aí.

eles tem o péssimo hábito de comer carne humana, e me ajudavam a me livrar dos corpos mortos que eu produzia. Bem, você tem três alternativas, aprenda a dominá-los com o poder do seu sangue, mate-os, ou seja devorado quando estiver dormindo.

você vai descobrir que os biscoitos que deixei não são o suficiente para um mês, e que os ratos ficarão felizes em come-los se você deixa-los à toa.

Bem, divirta-se e não se mate

Se você fizer isso, garanto que irei atrás de sua alma e a escravizarei.

é, vampiros podem fazer isso.

Cordialmente,

William Sharpe.

Átila se deixou cair depois de ler a carta e constatou que preferiria estar morto.

mas algo o impedia de tomar a gilete nas mãos e cortar seus pulsos.

Algo em seu sangue.

de certa forma ele sabia que merecia aquilo

e amava William.

Ele era o seu redentor.

por mais pervertido que aquilo poderia parecer

William era o seu Cristo.

...

Átila tinha dado trabalho... mas futuramente ele poderia ser útil.

agora a segunda parte do plano de william começaria.

Ele precisava de alguém para trabalhar na sociedade mortal.

Átila poderia fazer isso no futuro, mas não da forma que ele precisava agora.

William precisava de uma mulher e uma mulher inteligente e não um boneco de sangue pervertido.

ele tinha visto o anuncio no jornal

Kriska Barchenowa.

Estudante de jornalismo que se prostituía para pagar a faculdade.

Eram tempos diferentes. uma mulher que vendia o próprio corpo para pagar os estudos.

Era mais fácil quando elas não tinham que estudar e só servir o marido.

Mas esse fato mostrava que ela tinha determinação e podia se submeter a situações difíceis para alcançar os seus objetivos.

Eles tinham se encontrado num café 3 noites atrás.

ela estava interessada no caso do desaparecimento do padre Átila e William disse que tinha informações para vender.

Tinha falado sobre os casos de pedofilia em que o padre estava envolvido e a garota mordeu a isca.

William marcara um encontro em sua residência, e agora Kriska tocava a campainha

e estava sozinha.

Tola, mas corajosa.

ele gostava dela cada vez mais.

Kriska olhou a fachada do prédio antigo.

Devia ser dos anos 30 e estava em péssimas condições.

havia pouca luz lá dentro e ela imaginou que não havia ninguém.

Tocou a campainha 2 vezes e ouviu um barulho vindo lá de dentro.

O homem que ela conhecera há 3 noites estava lá.

William, foi o nome que ele deu.

ele pareceu agradável. Diferente... tinha um sotaque e uma forma de falar charmosa.

um vocabulário rebuscado, como se tivesse vivido no século anterior.

Não era bonito, mas algo nele sugava sua atenção.

Era difícil não olhá-lo.

ele não parecia ser muito inteligente. Tinha uma forma de pensar muito simples. Era um homem direto e objetivo.

de alguma forma se sentiu atraída por ele. No entanto ele não parecia estar interessado nela. Pelo menos fisicamente.

ele a deixou entrar e a guiou pelo salão mal iluminado até uma saleta onde havia um sofá.

Ela se sentou e ele puxou uma cadeira para poder ficar a sua frente.

então ele abriu um envelope.

aqui, está uma carta de confissão do padre Átila.

ele confessa todos os seus "pecados" e crimes contra as crianças de sua paróquia.

aparentemente é uma carta de suicídio.

como pode ver, ela tem a assinatura dele e o sinete da igreja.

Dentro do envelope também há o documento de identidade dele.

assim poderá ver que a assinatura confere.

Kriska sentiu um arrepio na espinha ao ler o conteúdo da carta e se perguntou mentalmente como William havia conseguido aquilo tudo. no entanto resolveu não perguntar isso.

- Sei que parece estranho, mas o próprio padre me deu isto.

Ele ia se suicidar e evitei que ele fizesse isso.

Ele se arrependeu e fugiu para procurar redenção. ele pediu que eu divulgasse tudo e é isto que eu estou fazendo. Falou William interrompendo os pensamentos de Kriska.

- Isto tudo é realmente muito estranho e me pergunto, o que você quer em troca dessas informações. afinal poderei vende-las a um jornal e talvez até conseguir uma posição com isso. .

- O preço, vamos negociar agora.

As pupilas de William ficaram subitamente amareladas e os olhos de Kriska foram atraídos violentamente para elas.

Ela não conseguia se mover e seu coração batia disparado com aquela situação inusitada.

então ele falou.

- Minha querida, você é uma preciosidade. Não vou lhe fazer mal.

mas eu preciso de você. Vou lhe dar algo que vai mudar a sua vida e vou pedir muito pouco em troca.

Quanto menos você saber sobre mim, melhor para você, mas você vai ficar comigo pelas próximas 3 noites e depois poderá ir embora com sua informação e fazer o que quiser com ela.

agora, simplesmente relaxe e aproveite.

Então a língua de William ficou comprida como a de uma serpente e andou até o pescoço de Kriska. então com um pequeno corte começou a drenar seu sangue.

Kriska gemeu de prazer e então desmaiou.

quando acordou, estava no quarto de um hotel, com um gosto de sangue na boca.

na cama estavam os documentos sobre o Padre Átila e o dinheiro equivalente a 3 programas.

ela não sabia o que pensar, mas só pensava em William, e como havia chegado ali.

Olhou em seu celular, e percebeu que haviam passado 3 dias.

(Continuarei)

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 26/01/2012
Reeditado em 16/06/2015
Código do texto: T3463023
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