VAMPIROS 6 – VaniaDi e Samantha

Quem olhasse de longe a moça, viria uma cena comum, apesar de bela: uma linda moça, debaixo de uma árvore, comendo uma maça. De longe não dava para se notar o quanto Samantha era feminina. Lá pelos idos da Idade Média, esse era um requisito imprescindível. De alguma maneira as mulheres iam perdendo a delicadeza, no trato diário da vida. A sociedade local era agrária, sobretudo. E de alguma forma não avançava, não crescia. Era inexplicável, mas algo travava a comunidade toda, os engessando, não os permitindo avançar mais, e prosperar, como dizia a Bíblia. Algumas explicações religiosas surgiram, assim como profetas, mas não deram muita importância ou não entenderam. O resumo de muitas pregações e profecias era que demônios estavam atacando a comunidade e por isso eles não estavam prosperando. Deus requeria santidade.

Samantha não pensava nada disso. Aliás ela pensava exatamente o contrário, seus pensamentos não eram bons, na excência. O que ela queria fazer mudaria a vida de alguém radicalmente, para sempre. Era um caminho de ida, sem volta. E pior, a pessoa não tinha opinião sobre o assunto. O envolvido era apenas um joguete, nesse jogo maligno. Mais ou menos próximo à moça, um menino, um jovem, de uns treze, ou mais anos, bastante alto para a sua idade, de cabelos loiros, desgrenhados e sujos, assim como o seu rosto e pés descalços no chão, roupas velhas e sujas, brincava, ou melhor, passava o tempo, jogando pedras o mais longe possível. Samantha pegou uma das maças, caídas do pé, onde estava e jogou para o menino que estava de costas para ela, não muito longe. A maça chegou rolando até os pés do mocinho, que claramente era tímido.

“Menino. Venha aqui, por favor. Preciso lhe perguntar uma coisa. Me indique para onde vou agora. Sou uma viajante. Você está me ouvindo?”

Estava. É claro que estava! Aquela era a moça mais linda que já vira na sua vida. O perfume macio que usava chegava às suas narinas, transformando o seu coração de forma inexplicável. Ele nem sabia direito o que sentia a respeito da moça. Ela deveria ser a mãe de alguém, pensou, pois ela aparentava ter mais idade que ele. Era estranho ver uma nobre tão próximo. Ela usava um vestido azul claro, com detalhes brancos e pretos e azuis, que era típico da corte. O quê alguém da nobreza fazia ali? Com certeza estava perdida. Mesmo de longe ela o enfeitiçava como homem. Ele já tivera algumas relações com as jovens que iam aos domingos nas igrejas da cidade e sabia o gosto do desejo. Mas ele nunca nem dera a mão para alguém além da sua idade. As jovens mães dos amigos nunca souberam o efeito que elas tinham sobre ele. Elas eram tão inocentes, ou tão expertas, que o evitavam.

Aproximando-se da senhora nobre, sentada, cansada, com fome – ou pelo menos era o que aparentava, ele perdia o que ela falava, observando-a. Ela era meiga, de um sorriso tão lindo, no rosto belo, macio, de pele lisinha e um pouco mais branca que o normal. O jeito de ela estar sentada, quase deitada, o cansaço no rosto belo, os cabelos muito lisos e negros, pretos, faziam seu coração disparar loucamente. Ele não conseguia nem falar e nem pensar. Ela falou alguma coisa, mas calou-se. Parecia que ela estava lendo seus pensamentos, pois parou também embevecida, um olhando longamente para o outro. Os olhos que se encontraram disseram mil palavras impronunciáveis. Se é que existe paixão, ou amor à primeira vista, bem... eles se amaram ali, então, para sempre. O destino dos dois havia sido traçado ali, quando seus olhares se encontraram. Samantha que já estivera perante reis e poderosos, gaguejou frente ao menino. Tentando dirigir a conversa ela conseguiu começar a falar, o que fizeram a tarde toda e parte da noite. Debaixo da lua que os observava, eles se amaram naquela noite. No peito do moço, a vampira derramou lágrimas de amor.

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Samantha viera fugida de outras localidades, quando parou debaixo de uma macieira, naquela manhã. Quando acordou um lindo moço estava próximo à ela, ela teve a impressão que ele a estava defendendo, vigiando o seu sono. Ela sorriu com esse pensamento inocente.

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VaniaDi detestava a sua família, a sua casa, a sua cidade, tudo e todos ao redor. Ele cria que nascera para coisas maiores do que ser um camponês pobre, num lugar feio e horrível. A insatisfação de aceitar seu destino só era aplacada pela mensagem da Palavra de Deus. E só um pregador conseguia tocar o seu coração e mais ninguém. Esse pregador era o seu pai. VaniaDi nunca era repreendido pelo pai, por não estar escutando a mensagem, ou não estar se dedicando ao trabalho na Igreja, junto ao pai e a mãe. Suas irmãs e o seu irmão, sobretudo esse, eram repreendidos constantemente, por não levarem a sério a obra.

Ele andava à toa, desgostoso, quando viu a moça, tão linda e cheirosa, dormindo debaixo da macieira, naquele dia de um sol escaldante, de noites quentes e carentes. Ele se aproximou dela e se ajoelhando sentiu o seu cheiro gostoso. Não agüentando ele apertou seu seio direito, sentindo a maciez da sua roupa bonita. VâniaDi não resistiu e beijou a boca macia da mulher uma, duas... cinco vezes. Acariciou seus cabelos durante o tempo que pareciam horas e observou que ela levava ao peito um colar estranho, um símbolo, um medalhão, escrito numa língua desconhecida da humanidade. Com a palma da mão aberta ele acariciou mais uma vez aquele rosto lindo, de lábios macios. VaniaDi esperou quase duas horas, até a moça acordar. Isso porque ele jogou, da cerca onde estava, algumas pequenas maças verdes, no pé da moça. Ele precisava ouvir a sua voz, de qualquer jeito.

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Foi com um ódio mortal que Samantha transformou seu marido num vampiro. A vontade era simplesmente matá-lo, destruí-lo para sempre, mas para surpresa dela ele se transformou num vampiro. Muitos ao serem mordidos simplesmente morriam, alguns poucos eram transformados em vampiros.

Aquela noite era típica na vida deles. As brigas de ciúmes da esposa, pelo seu marido mulherengo eram famosas. Já tinham até sido convidados para irem embora daquela cidade, de novo. O que era mais uma cidade que lhes trazia os mesmos motivos de brigas e confusões. VAniaDia era muito alto agora. Lindo com roupas chiques, o casal vivia de roubar e perambular de cidade em cidade. Os dois se amavam perdidamente mas uma enorme nuvem entrou em suas vidas quando numa noite, em que não a encontrava ele viu um vampiro beijando à força a sua esposa. Esse fora o segundo vampiro que ele vira na vida. Ele atacou o vampiro que só não o matou porque ela o salvou. Mas VaniaDi saira com feridas que quase o mataram. Samantha cuidara dele no mausoléu de um cemitério desativado. Os fantasmas do lugar a atormentavam, dizendo que ele iria morrer, enquanto eles riam alto, zombando do amor deles. Os fantasmas tinham inveja de um amor tão lindo. Quando ficou bom VaniaDi colocou na mente que queria virar um vampiro e iria matar quem beijou a sua esposa. Aquele vampiro estava jurado de morte, mas ele precisava virar um vampiro. Samantha não o queria transformar, pois o amava. Mas ele envelhecia. No dia em que se conheceram, fugiram durante a madrugada e passaram a viver como um sonho. Para ela ele era como um local onde se agarrar. Ela gostava quando ele falava do livro desconhecido para ela, a Bíblia. Gostava de ouvir aquelas palavras. Sabia que ele fora destinado para a grandiosidade. Mas como? Ela não queria transformá-lo pois sabia que a Ordem o acharia um dia e iria corrompê-lo, Ela era uma princesa da Ordem que vivia fugindo daquela vida e encontrara repouso nos braços do lindo lourinho. Mas um vampiro, muito velho e magro, a achara e cobrara a volta dela para o castelo. Eles não sabiam de VaniaDi até aquele momento e ele estragara tudo aparecendo. Durante vinte e quatro horas, durante todos os dias, após ficar sarado, ele pedia para ela o transformar em vampiro. Ele estava obcecado em matar quem beijara sua esposa. Ele tentara de tudo para ela o transformar. Ele aprendeu a arte da guerra e da esgrima com os melhores. Transformou-se em um soldado do rei graduado. Lindo, com sua roupa vermelha, com detalhes pretos, ele despertava as mulheres, que sempre o assediaram. Nas mulheres ele encontrou uma maneira de forçar Samantha a transformá-lo. Ele só saia com mulheres que seriam descobertas por ela. Ele não queria outras mulheres, ele queria ser transformado em vampiro. Desde que fora atacado pelo vampiro, a maldade aflorara em seu peito. VaniaDi só era bom com sua esposa. Ele odiava o mundo. E tinha uma meta agora, descobrir quem era aquele vampiro. Haviam mais? O que é que ela nunca lhe contou? Samantha matou muitas das mulheres que saíram com seu marido, mas logo descobriu que ele não ligava para as mulheres e quando ela matava uma, ele logo arrumava outra. De cidade em cidade ele dormia com mulheres jovens, casadas, com mulheres da vida, com nobres e plebéias, só para forçá-la a transformá-lo em vampiro. Ela nunca sabia exatamente quais eram seus pensamentos e nem o que ele estava tramando.

Mas o cumulo ocorreu devido a uma moça muito pura e meiga, que lembrava em tudo a própria Samantha. Nos braços daquela jovem ele de verdade esquecia-se do que estava fazendo. O soldado passava a gostar da moça e pensava até em ter uma vida mais quieta, com filhos, coisa que Samantha não podia fazer. A moça, muito simples e pura, uma cristã genuína, o que lhe agradava, pois crescera na religião de seus pais, mexia com seus sentimentos. Até o momento, em tantos anos com Samantha e em tantos braços em que andara, ninguém conseguira fazê-lo aquietar seu coração, em relação ao mau no seu peito. Ela dava-lhe paz. Talvez devido à presença de Deus dentro dela. Samantha sabia que a moça era um perigo enorme, porque em quase um mês, ele ainda não tinha dormido com ela e nem a beijado ainda. Ela via ele ficando amigo dela. Uma noite em que não o encontrava em lugar algum e que bebeu quase uma garrafa de vinho, saindo da taberna com ar ameaçador, enquanto passava em frente a Igreja, o viu saindo dela com a moça, enquanto riam tímidos um para o outro. Ela escondeu-se, bêbada, no escuro de alguma parede, enquanto os via irem-se em direção, o que adivinhou, ser a casa dela. Quando estavam num lugar mais ermo, numa estradinha de terra, à luz do luar claro, como a tarde de sol, ela os atacou com fúria. Ela os atacou para matar os dois. VaniaDi, nunca tivera medo dela, até aquele momento. Com as unhas quase arrancou o braço da moça, que fora jogada longe. Com seus dentes pontiagudos e ar ameaçador tentou matar o marido. Cega, sem enxergá-lo, só parou, quando ele, debaixo de si, sangrando disse baixinho, enquanto morria, uma lágrima nos olhos pela moça morta ao canto: “Me transforme num vampiro, meu amor...”

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Samantha mordeu o pescoço de VaniaDi com ódio de um dia tê-lo conhecido... Morta de ciúmes.

pslarios
Enviado por pslarios em 02/02/2012
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