O Jogo da forca - Episódio III - Fase II - Entrando para o jogo
 

Max estava agora dentro de um banheiro fétido de um posto de gasolina. Imagens se repetindo em sua mente. Ele jamais havia visto alguém morto antes, a não ser que o defunto já estivesse num caixão, e principalmente nunca havia pensado sequer em matar um animal, tampouco uma pessoa enforcada, mas aquele era um dia fora do comum.
Ele abriu a torneira, sentiu a água gélida tocar seus dedos, o calor escaldante se misturava com seu nervosismo, molhou seu rosto, seus ombros e punhos ainda ardiam (vestígios de uma briga alucinante com a porta do banheiro onde havia sido trancafiado em sua própria casa), mas o que mais lhe doía era a dor da perda de sua esposa assassinada a tesouradas frias pelas mãos daquele assassino, a angustia de ter seu filho mantido refém por este mesmo psicopata, e por fim a sensação de cárcere que estava sentindo, pois se via aprisionado em um jogo mortal onde ele só tinha duas opções, matar ou simplesmente permitir a morte de seu filho.

A imagem de Jonas enforcado ainda vagava em sua mente, os sons, a respiração, o trincar dos ossos, será que ele havia merecido tudo aquilo? Ele olhava para seu rosto no espelho, sentia algo diferente em seu olhar, sua cabeça ainda latejava, mas ele não tinha tempo pra essas dores e dúvidas. Respirou fundo e saiu em direção ao seu carro.

Aquele era um dia diferente em sua vida. O caos estava corroendo sua tão segura consciência. O autocontrole até agora era sua principal arma contra o jogo. Ainda sentia um nó na garganta, um enorme aperto no peito, mas incrivelmente não haviam arrependimentos, estava inseguro quanto aos motivos desta ausência, mas não era tempo para refletir sobre isso. Á passos secos entrou no carro, pagou ao frentista e deu partida. Passaram-se 15 minutos e ele continuava sem decifrar a segunda charada.

Nome de homem com 3 letras,tira 1,fica 4, tira 2 fica 5?

- Maldição! Que porcaria de charada é essa? Há poucos nomes que conheço com três letras, Ari, Rui, Léo, Pio, Jaú e alguns são mais apelidos.
- Tira 1, fica 4? O que isto significa?
- Depois tira 2, fica 5? Droga! Droga!Droga! Esse cara é um louco. Como é que vou tirar letras em uma palavra e a quantidade de letras irá aumentar se o nome só tem três letras.

Por mais que tentasse limpar sua mente, o clímax daquela insana situação acabava o impedindo. Lembranças vagavam em sua memória. Daniela ainda se recuperando, Bernardo tinha 13 anos de idade quando tudo havia acontecido, uma simples discussão e um erro que poderia ter acabado com tudo. Depois de dois anos de intensas terapias, e quando tudo parecia ter voltado ao normal, de repente se transforma num pesadelo ainda maior. Os minutos pareciam passar cada vez mais rápidos, ele parecia ouvir o tic tac do relógio pulsando no interior de seus tímpanos, arranhando seu cérebro, sua enxaqueca apenas aumentando.

- Nome de homem com três letras... Quem seria desta vez?

Foi quando o telefone tocou e ele atendeu vendo que novamente o número era diferente.

- Alô?

- Como está indo Max? Respondeu aquela conhecida e doentia voz mecânica.

- O que você acha?

- É melhor que decifre logo, pois estou ficando ansioso demais, olho para o Bernardo, e as vezes penso em como seria interessante ver este pescoço dependurado, escutar o trincar de ossos, sentir seu cérebro inchando e sua língua caindo no canto da boca...

- Pare com isso seu doente mental!

- Estou apenas desabafando amigo! Não se irrite! Meu desejo é louco, mas tenho um trato com você e respeito sempre as regras de um jogo. E não sou doente Max. - disse enquanto ria friamente. - Pelo contrário amigo sou mais são que toda esta corja que vive ao seu lado, um bando de traiçoeiros que não tem respeito por nada. Eu estou aqui como a cura pra doença que te rodeia, sou o anticorpo pra esta praga, e estou te ensinando a usar seu mecanismo de defesa, nada mais que isto.

- Você é louco! Estou fazendo o que pede! Deixe-me pensar seu cretino.

- Você está pensando em quê Max. Vejo cada passo seu, onde você está, sei até o que pensa e sua mente está longe demais agora. Precisa se concentrar mais! Esqueça-se de tudo que te aflige, não pense no Jonas nem na Daniela. Eles não importam mais! O passado não pode te perturbar agora!

- Quem é você? De onde me conhece? Qual é seu nome covarde?

- Eu sou o presente Max! Sou a chave do destino de seu filho.

- Eu vou te encontrar maldito e juro que vou te matar!

- Sim, sim. Entendo perfeitamente sua ira Max. Você realmente sempre foi muito obstinado, um ótimo pai, um bom marido e um amigo extraordinário e o que isto te torna Max? Você é o homem perfeito pra ser enganado pelos que te rodeiam. Como disse Max, eu sou a chave, o que adianta a chave sem uma porta. Você tem que primeiro encontrar a porta, depois terá a chave.

- O que você quer desta vez?

- Quero te ajudar! Vá até a lanchonete e salve a garota, pois você tem apenas dez minutos ou ela morre!

- Por que eu me importaria com ela? O tempo continua a correr contra meu filho?

- Por quê? Bem, por que você não é um Urubu carniceiro como eu, que espreita a morte. Até mais Max.

- Urubu? Por quê? Deixa isso pra lá. Max não pensou duas vezes, virou o carro e acelerou rumo à lanchonete, passaram-se cinco minutos e lá estava a porta daquele estabelecimento.
Por incrível que parecesse a porta estava fechada. Uma placa na frente... “ESTAMOS DE LUTO”. Que se dane! Ele pensou. Deu a volta pelos fundos. Era um beco sujo, com duas enormes caçambas de lixo, se assustou com um cachorro horroroso e fedido que estava caído ali, morto, sua barriga estava aberta, como se acabasse de ter passado por uma cirurgia, suas tripas esparramadas pelo chão perto da lixeira.
Max desviou o olhar e forçou a porta, mas ela estava trancada. Havia um enorme espaço de vidro na porta, mas era fumê e não dava pra ver nada lá dentro. Procurou algo no chão e por fim achou um cano de ferro com cerca de oitenta centímetros. Deu uma pancada certeira no vidro e ele se quebrou. Arrancou o restante do vidro e passou pelo buraco.

O que ele viu o assustou ainda mais. Era algo na parede escrito a sangue,

“Quando nasce é branco, quando cresce fica preto. A vida pra ele é morte, a morte pra ele é vida.”

“Acertem ou morram?”


Não havia ninguém na cozinha, mas havia uma enorme bagunça por ali, frangos descongelando-se pelo chão, hambúrgueres, carnes de vários tipos, garrafas de refrigerantes quebradas por toda parte, as moscas faziam algazarra, era uma verdadeira desordem.
Ele atravessou a porta e se deparou com um massacre. Haviam 6 pessoas caídas pelo chão, estavam amarradas pelo pescoço, mas não foram mortas enforcadas, foram mortas a tiros, tiros certeiros, mas sempre no pescoço, na nuca, sempre naquela região. Ele procurou por Nadia, mas ela não estava entre os corpos, pelo menos não entre aqueles.
Max foi até o balcão, procurou ao redor, mas não viu nada. Os corpos ainda estavam quentes, o sangue ainda escorria dos cadáveres, formava poças no chão, dava pra sentir o medo nos olhos das vitimas. Até que uma gota caiu em sua testa. Ele primeiro passou o dedo sobre o lugar e olhou temeroso pra descobrir que liquido era aquele. Era vermelho como havia imaginado “sangue”, então ele olhou para o teto e lá estava ela:

“Essa é pra você”

“Atrás de uma porta, entre paredes de pedra, uma pedra que flutua na água, se demorar a verá completamente paralisada.”

“Salve-a amigo!”


O sangue escorrendo pelo teto. A garçonete não estava morta, era mais uma charada, e ele tinha que decifrar aquele enigma. Max repetia as palavras enquanto andava de um lado para o outro.

- Atrás de uma porta? Mas não há mais portas aqui. Entre paredes de pedra? Quais paredes? Uma pedra que flutua na água? Pedra que flutua? Se demorar a verei paralisada, mas como, pense Max! Pense! – Ele dizia pra si mesmo. Agora ele estava concentrado naquela charada, a adrenalina parecia ter feito com que ele esquece-se de tudo que havia acontecido por um breve instante, ele havia criado um escudo contra suas ansiedades.

- Pedra que flutua na água, é claro! O gelo! O gelo é uma pedra que flutua na água. Se demorar ela vai estar paralisada! Entre paredes de pedra? Atrás de uma porta? Entre paredes de gelo!! Atrás de uma porta! Meu Deus é o...

Max saiu correndo em direção a cozinha, escorregou na água e ia caindo quando se apoio no freezer e equilibrou-se. Rapidamente abriu a porta e lá estava ela amordaçada e totalmente imobilizada por cordas e fitas adesivas, estava com aquela mesma roupa que ele havia a visto mais cedo. Ele a pegou e tirou-a lá de dentro. Nadia ainda estava viva, respirava, porém estava fria como um iceberg. Depois de tirá-la de dentro do freezer e remover as cordas e fitas, buscou uma roupa mais quente de um dos cadáveres e vestiu na garçonete, que tremia, os lábios estavam roxos e as mãos enrugadas como pele de bebê.

- Você está bem? – Ele perguntou.

- Sim, sim, estou! – Ela disse ainda batendo queixo, seus dentes batiam uns contra os outros enquanto Max a abraçava na tentativa de aquecer ainda mais o corpo dela.

- Ele matou meu pai! Ele matou meu pai! – Ela disse enquanto os olhos permaneciam vidrados, focados no rosto de Max. Aquele estranho homem que por mera coincidência ela teria ajudado.

- Como?

- Meu pai está morto! Ele o enforcou com um cinto... – Ela dizia enquanto as lágrimas teimavam em surgir de seus olhos até caírem no ombro esquerdo de Max, onde ela apoiara seu rosto.

- Se acalme Nadia!

- Eu vou matá-lo! – Ela disse se levantando e desvencilhando-se dele. – Ele disse que a única forma de eu pega-lo é te ajudando.

- O que aconteceu aqui?

- Recebi o telefonema de minha irmã mais velha – Nadia dizia ainda ofegante – disse que acharam meu pai morto. Imediatamente fechei a lanchonete e coloquei a placa de luto, a mesma lanchonete que ele me deu. – ela lamentava e chorava – Quando estávamos para sair, eu e os funcionários, ele simplesmente chegou numa moto de entregas pelo beco, uma máscara de frio tapando o rosto, entrou apontando uma arma de cano silencioso, e nos fez reféns. Deu ordem para que nos sentássemos no chão, pegou sangue e escreveu aquela charada na parede dizendo que quem adivinhasse teria a chance de continuar vivo. E perguntou um a um, mas eles não sabiam. Ele matou todos!

- E você, respondeu?

- Sim! Ela era muito fácil, muito mais fácil do que aquela sua. É o urubu! Ele nasce branco, cresce e fica preto,e ele precisa dos mortos pra ter vida. Se só houver a vida ele morre, mas com a morte ele se alimenta.

- Droga! Você é muito boa nisso. E aí ele te botou no freezer. Você realmente foi ótima, e suportou muito bem, mas precisamos ir! Temos apenas 21 minutos!

- Qual é a próxima charada? – Ela perguntou.

- Nome de homem, três letras, tira um, fica quatro, tira dois, fica cinco.

Ela olhou para Max, curiosa o perguntou:

- O nome é Ivo, mas quem é Ivo?

Continua...
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 10/02/2012
Reeditado em 10/02/2012
Código do texto: T3491908
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