VAMPIROS 7 – ENTERRADO

Eu não sei bem o que senti.

Na verdade eu não tinha idéia do que estava acontecendo.

Onde estava?

Porquê?

Fiquei durante alguns segundos tentando perceber o que acontecia. Sentia uma dor muito forte no lado do peito, próximo ao coração. De uma forma estranha me sentia muito fraco. Um medo me assustou, como é que eu poderia me sentir doente? Eu não estava respirantod direito. Como é que um vampiro fica doente?

Nesse meu medo, estiquei o braço, como um reflexo e meu braço foi contido. Havia algo como uma parede, ao meu redor. Fiquei apalpando e notei que na verdade estava dentro de alguma coisa. Eu estava no escuro dentro de uma caixa. Durante segundos eternos no escuro não entendi onde estava. Perdi a noção, talvez por falta de ar e pareceu-me que a caixa rodava, girava, torcia, desmanchava-se e o meu estômago doía numa sensação de dor de barriga, quando a gente come algo que não nos cai bem. O problema é que vampiro não come. Estrelinhas começaram a pipocar na minha frente, comecei a suar muito e desmaiei...

Não sei quanto tempo demorou até que eu acordasse de novo. Abri meus olhos e não vi nada. Estava novamente - ou continuava - no escuro. Agora estava consciente estar dentro de uma caixa.

Com a mente ainda enevoada, de repente me apercebi que estava dentro de um caixão e ferido. Havia algo no meu peito. Uma estaca de madeira? Tudo aquilo assustou-me e comecei a urrar desesperadamente, enquanto me debatia, o corpo todo arrebentando o meu tumulo. Eu estava enterrado vivo. Debaixo do chão. Talvez num cemitério, um lugar sagrado. Não havia ar no caixão. Ainda apavorado tentei pensar. Comecei a bater no caixão, tentando quebrá-lo. A sensação era horrível. A escuridão. A falta de ar. Havia uma tontura. Eu não tinha espaço para tirar, ou tentar, a estaca do peito. Bati no caixão, no que achei serem horas. A principio parecia que nada dava certo. O desespero tomava conta de mim. A dor no peito era dilacerante. Eu suava. A dor. O desespero de morrer enterrado vivo. Eu estava dentro de um caixão. O pensamento me assustava. Onde estava? Quanto de fundura? Se saísse do caixão, conseguiria sair do buraco? Conseguiria cavar a terra. Eu batia na madeira que parecia não ceder. O ar estava quase acabado. A escuridão absoluta me invadia, me assustava. Pensei em Madeleine e comecei a gritar pelo seu nome. Eu gritava o seu nome enquanto as lágrimas da separação, do medo, da dor, da saudade, da morte me abraçavam. Pensei na minha filha morta nos meus braços. Senti a sensação do beijo que Catherine me deu num bordel, há muito tempo atrás. Eu tinha medo. Eu estava com medo da morte. Eu batia na madeira, que não cedia. Eu não enxergava, mas minhas mãos estavam sangrando. Parei, pois ouvi um grito, um uivo, um urro ao longe. Gelou-me a alma ao perceber que era eu quem gritava. Não estava mais lúcido. Parecia que um fantasma de uma mulher estava deitado ao meu lado no caixão. Eu não via, mas ela sorria, me chamando para a morte.

De repente a terra começou a cair dentro do caixão, próximo às minhas mãos, perto da barriga. Bati mais. Afastei algumas madeiras e ai a terra desceu de vez. Senti o peso da terra fofa fazendo um peso enorme sobre mim. A terra entrou na minha boca, nos olhos, nos ouvidos. Não conseguia respirar. Fui me mexendo como dava, cavando, cavando. Como se estivesse nadando fui cavando para cima, ou achava que estava saindo. Quem me colocou ali? Porque me enterraram. Como fui ferido? Porquê não havia mais ar para respirar? Eu cavava. Minhas forças já sumiam. Mas cavava, na terra que caia sobre mim. Eu tinha a impressão que afundava mais. Já estava fora do caixão, mas não conseguia sair. Eu ia morrer ali, na cova de um cemitério.

pslarios
Enviado por pslarios em 16/02/2012
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