O Lobisomem - Cap. Final - Memoria Sanguinea

"Estou na porra do laboratório, por culpa deles assassinaram minha esposa e do ventre dela arrancaram nosso bebê. E agora me pedem COOPERAÇÃO? Depois de tudo isso?"

- Ela precisa de você Raul. - diz o médico. "E pior, se eu quiser tirar minha filha daqui vou ter que cooperar. Mas antes quero respostas"

- Quero ver minha irmã, Dr. Kalbleisch.

- Claro, você nunca viu ela em forma humana, vamos apenas cuidar da sua filha e em seguida...

- Não. AGORA!

- Tudo bem, venha comigo.

"Entro na sala e lá está ela, com o rosto apenas para fora do saco. Da pra notar que ja foi muito bonita, somos parecidos. De repente um estranho anseio me assola. É o lobo, mas não que assumir o controle, quer apenas que eu faça algo. Ele quer que eu toque o rosto dela. O sangue lateja em minhas veias e meus ossos estremecem como se passasse uma corrente elétrica em minha mão. Quando a toco vejo porque o lobo quis que eu a procurasse. Ela queria me dizer algo. Tentava me contar tudo."

"Final de agosto, estou no colo dela. Agora estou em um berço , e ela passa pela porta do quarto até o banheiro, não se sente bem. Meu pai cuida dela e minha mãe me segura. Eu choro porque os grunhidos da minha irmã me assustam. 22 de outubro de 1963, os médicos se enganaram, ela não precisava estar a céu aberto para se transformar. Estava na própria cama com medo de acordar o bebê. Esta com medo e furiosa, mas tem um certo controle da fera. Porque meu pai quer atirar nela com uma espingarda? 'Não, não, papai, sou eu...´ ela grita. Ele não escuta e a fera assume de vez o controle e lhe da uma patada bem no rosto. Ela foge, sabe que esta fazendo o que não deveria mas ninguém a deixa explicar, todos tentam mata-la. Minha irmã sabe que tem alguém que a ouvira sem tentar abate-la: seu irmãozinho. Ela quer pegar ele no colo, mas sabe que não deve, então passa apenas o indicador sujo de sangue na testa dele e deixa uma pequena mancha de sangue nele. De repente um ruido no corredor, os policias estão na casa. Renata foge e me deixa lá pros policiais. Renata, minha irmã mais velha".

- O nome dela era... - vai dizendo o dr.

- Renata - completa Raul.

- Extraordinário. Ela te revelou isso neste momento, não foi?

- Mas que diabos, as imagens? Essas lembranças não são minhas!

- Não mesmo. Eram dela. É um tipo de memória sanguínea, que estamos estudando graças a você. A cada vez que recebia uma transfusão do seu sangue ela começava a falar de você como se tivesse acabado de vê-lo. Ela falava com riqueza de detalhes, nós gravamos para averiguar a veracidade depois e apesar da distancia que separavam vocês e embora nunca mais tenham visto um ao outro desde a noite do massacre era tudo verdade.

- É um tipo de elo sobrenatural. - continuou o dr. - Por isso quando você fugiu não tivemos escolha. Ela era a unica pessoa capaz de rastreá-lo, mesmo fragilizada do jeito que se encontrava. Porém ao descobrir sua noiva Cassia, Renata ficou confusa, ela farejou o seu sangue, ela sentiu a presença do bebê...mas não conseguiu encontrar você. Até que hã..resolveu desenterra-lo. Nosso esquadrão intercedeu antes que sua filha sofresse algum ferimento mais grave, mas quanto a Cassia...bom, você já sabe o que aconteceu. - ao voltar pra sala anterior, o médico percebe que Raul tomou a filha em seus braços - Bom, Raul, você terá todo o conforto e o que precisar aqui, só basta cooperar. Não vai nos causar problema vai?

- Se tocar em nós, você morre.

- Raul, pensa na sua filha, ela pode ter uma futuro brilhante aqui, Se hoje já é forte imagina com doses do sangue do papai. Nós teremos com ela a chance que não tivemos com sua irmã.

- Vou começar por você, coroa.

- Pense bem antes de se transformar, pense na vida que repousa em seus braços.

- Estou pensando. - os olhos de Raul ficaram vermelhos - Já pensei!

- Você esta cometendo um grande err... - Raul começa a grunhir e o bebê a chorar, aos poucos o lobo vai tomando forma - Isolem a era. Enfermeira Camila, libere o metilfentanil, dosagem máxima. - O gás amarelo foi borrifado no local.

"Minha irmã me deu mais que meras lembranças. Me passou a capacidade de coexistir. Passei anos tentando combate-lo, chega, pois agora percebo que não tem lobo de uma lado e lobo de outro, somos a metade de um todo, somos um"

Raul dá uma patada violenta no rosto de dois seguranças armados ao mesmo tempo, o mais próximo tem sua bochecha aberta pelo golpe.

- Garota imbecil. Acha que você é o único mostro por aqui? Abram as celas 38 e 47. - ordena o médico.

"É claro que sei o que estou fazendo caralho. Abra logo essas porras! Eles são os únicos capazes de deter este monstro

profano? Acho que não"

Da cela 38 sai um ser vampírico, magro, apenas quatro dedos finos nas mãos: - Acho que farejei um bebê. Passa esse vir-lata pra cá.

- Fique longe de mim - grita Raul com sua voz estrondosa de lobo e parando a criatura com as costas do braço e dando um empurrão, o bebê caiu da outra mão, Raul conseguiu se virar mas deu as costas ao outro monstro e ele o mordeu no pescoço tão violentamente que o sangue espirrou nas paredes.

- P-Parem, P-por favor. E-eu q-quero que vocês fiquem qui-quietos. - disse outra criatura ainda mais asquerosa, de pela cor cinza-jumbo e com marcas de costuras pelo corpo, uma enorme cicatriz de pontos no peito e varias marcas de retalho pela cabeça. O monstro segurou Raul nos pelos do pescoço com as duas mãos. - P-pare de rosnar.

- Vou te matar! - gritou Raul mas o bicho o jogou longe, ele apenas girou o corpo para proteger a criança, deu um salto e com a pata arrancou o braço esquerdo da criatura, mas com o direito o monstro afundou sua cara no chão.

- Sangue doce de bebê. - disse a criatura vampira tomando a criança de seus braços, Raul deu um chute violento que acertou no segundo monstro fazendo seu maxilar se deslocar para o lado e atordoando a criatura.

- Ela não é sua, filho duma puta! - Raul disferiu vários golpes com as patas no monstro vampiro mas o mostro se esquivava, a outra criatura voltou a si grunhindo palavras que não se entendiam nas costas de Raul, ele agarrou o vampiro e o colocou entre ele a criatura, que estava golpeando com um soco, mas acertou em cheio o coração do vampiro, o soco atravessou o peito do monstro jorrando sangue em Raul, que pegou sua filha novamente - Ta tudo bem lindinha - A criatura segurou o braço dele e o girou, fazendo o osso do ombro de Raul quebrar e se expor além da pele, mas Raul chutou poderosamente a cabeça do monstro e que arrancou fora, a criatura levou um tempo para cair, ficou trombando nas paredes com o sangue esguichando do buraco da cabeça decapitada.

"Minha tolerância a dor evolui a níveis absurdos, não sinto nada, soma-se a isso o alivio de ter minha filha em meus braços e de sentir que podemos escapar daqui vivos"

Raul saltou de uma janela e se deu na parte de fora da clinica, livre para ir embora, a não ser que deu de cara com o Dr e a a enfermeira, os dois armados.

- Caso se pergunte esta arma não esta carregada de bala de prata, mas sim um composto químico que desenvolvemos, sua irmã ajudou a testar e disse que ardia fortemente. - dito isto o médico disparou bem no rosto de Raul que caiu pra trás.

"Meu rosto queima e parece que respiro fogo. Apenas pressiono minha filha contra meu peito, mas eles a tomam de mim, não tenho forças pra lutar, mas tentou reagir quando a enfermeira entrega minha filha ao médico, mas a ultima coisa que me lembro e dela disparando um tiro no meu peito. Hoje se passaram dez anos, eu conto os dias pela frequência regular das picadas de agulhas e da troca de sondas e tubos. Mas hoje é diferente, porque minha memoria sanguínea foi reativada, as 3:15 da manhã."

- Amor? É você meu bem? -pergunta a enfermeira ao acordar a noite. " Eu sei onde você esta, nessa casa com ela, a mulher que te forçaram a chamar de mãe assim como me forçaram a me chamar de pais um casal desconhecido" - Que foi meu bem? - pergunta a mulher a chegar no quarto da menina

- Eu tive pesadelos mamãe - responde a garotinha

- Como foi o sonho princesa? - "eles acreditam que você é era jovem demais e não se lembra de mais nada. Idiotas, não tem noção de como meu sangue fala com você, de como ele contou tudo"

- Eu sonhei com minha mãe de verdade... - os olhos da garota começam a mudar de cor e sua pressas crescerem - ...e o que fizeram com ela! - a garota se transforma e dilacera a enfermeira Camila.

"Tal conhecimento despertou a loba antes do previsto, concedeu a você uma compreensão que nunca tive. Além disso recebi uma dadiva, que além de minhas amarras e da mortalha de tubos, fios e narcóticos que me envolve. A dadiva da paz. Afinal sei que logo vou te ver de novo. É isso mesmo Dr. não adiante tentar chamar a segurança, eu já me transformei e sim, vou arrancar sua cabeça do corpo e fugir daqui de uma vez por todas. Sinto que tem coisas que são genéticas, minha filhinha também escreve coisas na parede, eu sei o que você escreveu querida: 'To indo de buscar papai´. E eu to indo de encontrar"

Renan Pacheco
Enviado por Renan Pacheco em 25/02/2012
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