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PÂMELA ANGELS X IGOR
 
Esta é a terceira e última parte do texto cujo primeiro título é: A prostituta Sharon. Sugiro que leia os dois primeiros capítulos: A prostituta Sharon (1); A prostituta Pâmela Angels (2)

            Verônica baixou o olhar encabulada. Sorveu vagarosamente um gole do vinho tinto e de repente deparou-se com aquele homem ali, na sua frente.
            _Com licença, senhorita. Eu estava ali te observando e me pareceu que você está um tanto triste e preocupada. Posso te pagar uma outra dose desse vinho?
            Verônica suspirou profundamente e teve a impressão de que já conhecia aquele homem. Sorriu e respondeu:
            _Por que não?
            O homem estendeu-lhe a mão enquanto se sentava:
            _Prazer, meu nome é Igor!
            _Oi Igor, meu nome é Verônica.
            Igor estava num turbilhão de sentimentos e pensamentos. Ao bater os olhos naquela moça ele teve ímpetos de tê-la sob o seu domínio, mas... “Ela não era uma de suas prostitutas, era apenas uma linda e deslumbrante moça qualquer. Não, ele não fazia isso com mulheres que não fossem da vida!” Os olhos azuis da garota tinham um ar de mistério que o encantaram. Ao mirá-los profundamente teve a sensação de que já os conhecia.
            Verônica... Pâmela... Igor... Três nomes, duas pessoas, inúmeras personalidades. Uma pessoa mais sensível que passasse por ali sentiria no ar o turbilhão de sentimentos que emanava daqueles dois seres.
            Não perceberam o passar das horas. O vinho os embalava em doce sonolência despertada. Igor se encantava com a moça tão fina e educada. Verônica vivia um misto de sentimentos por aquele homem, ora parecia tão gentil e elegante, ora tornava-se sisudo e reflexivo. De vez em quando falavam ao mesmo tempo e riam, de outra vez tornavam-se calados.
            Naquela noite acabaram ficando juntos. E várias outras noites e dias também. Os sentimentos de Igor por aquela mulher crescia a cada dia. Verônica não conseguia definir seus sentimentos por aquele homem. Às vezes sentia falta, às vezes não sentia a menor vontade de vê-lo. Igor já havia pedido sua mão em namoro e ela demorou mais de duas semanas para responder que sim.
            Verônica estava tendo problemas com sua vida dupla. Não conseguia deixar Igor nem conseguia deixar de ser Pâmela Angels durante algumas noites.
            Igor, em algumas noites deixava Verônica em paz e nesses momentos Verônica tornava-se Pâmela Angels. As noites em que não se encontravam era um bálsamo e um tormento para os dois. Pâmela recebendo muito dinheiro para estar nos braços de outros homens. Igor satisfazendo seus mais insanos desejos. Igor sumindo com os tapetes dos motéis vagabundos.
            O relacionamento era um tanto conturbado, Verônica às vezes queria terminar o namoro, mas Igor estava profundamente apaixonado por aquela mulher e fazia de tudo para reatar o namoro. Igor sofria com sua dupla personalidade agora, ele queria ser um homem normal, casar e ter filhos com Verônica, mas seus instintos o dominavam e de vez em quando ele tinha que dar vazão ao ímpeto que o consumia.
            Naquela noite Igor saiu sem rumo, desesperado... E se fosse pego? Perderia Verônica para sempre. Caminhou muito pela cidade e sem saber o porquê, desviou-se da boca do lixo e seguiu rumo às chiques boates do centro da cidade. Entrou meio perdido entre tanto luxo e caminhou até o barzinho onde de longe avistara uma beldade que agora estava de costas para ele. Seu desejo e instinto incendiou seu coração e ele sentiu que literalmente ele comeria aquela prostituta pedaço por pedaço muito lentamente. Seu monstro interior quase ganhou vida própria enquanto se encaminhava para aquela que ele já sabia: seria sua próxima vítima. Aproximou-se por trás e chegando bem perto do ouvido da moça disse: “Olá!”
            Igor quase caiu de costas quando aquela bela mulher virou-se para ele. Era Verônica, vestida feito uma prostituta qualquer. O sorriso nos lábios de Verônica deram lugar ao horror de ter sido descoberta.
            Segundos que pareciam horas se passaram.
            _O que é isso? Gritou Igor descontrolado.
            Verônica, sem ação, saiu correndo. Suas lágrimas manchavam a forte maquiagem.
            Igor a alcançou já entrando em seu carro. Verônica deu a partida e Igor conseguiu entrar e sentar no banco do passageiro.
            _Como você explica isso, sua vagabunda? – Igor chorava revoltado.
            _Sai do meu carro! – Gritou Verônica esmurrando-o.
            _Você quer ser tratada feito uma prostituta? Então é assim que vai ser!?
            Verônica arrancou com o carro, sem se importar em morrer. Sua vida estava acabada.
            Igor assustou-se, pois Verônica entrou numa contramão e em questão de segundos passava dos cem quilômetros por hora. Corria ultrapassando todos os sinais vermelhos. A sorte é que já eram altas horas da madrugada e o trânsito estava quase deserto. Igor tentava tomar o volante para ele, mas era quase impossível, pois sem o cinto de segurança pendia de um lado para o outro feito um boneco de pano.
            _Pára com isso sua louca! Você vai nos matar!
            Verônica continuava correndo e de repente entrou por uma estrada de terra onde o que predominava era mato dos dois lados. O carro agora sacolejava levantando poeira pela madrugada afora.
            Igor arregalou os olhos ao reconhecer o caminho que sempre fazia. Verônica olhou para ele com os olhos estatelados e gargalhou:
            _Reconhece esse caminho meu bem? – Verônica não entendia por que estava falando aquilo e parecia que não tinha controle sobre seus atos.
            _Pára com isso, Verônica! Não tem graça! – Disse ele dominado pelo medo.
            _Meu nome não é Verônica, é Pâmela Angels! Fui a primeira habitante do lago. – Pâmela olhou para Igor que agora estava aterrorizado. – Jurei que voltaria e voltei. Estamos te esperando para sua última morada. A morada eterna no fundo lodento daquela represa.
            _Não, não, não!!!! – Gritava desesperado o homem enquanto Pâmela gargalhava e seu semblante tomava feições demoníacas.
            Ao longe a represa apareceu e no instante seguinte o carro voava em direção às águas. Igor, estarrecido, viu num relance várias cabeças fora da água sorrindo para ele.
            Enquanto o carro afundava, Igor ouvia os murmúrios lamentosos que mais pareciam uma música infernal:
            “_Igoooor! Venha para nós...”
            Verônica abriu os olhos e o sol já estava forte, metade do corpo estava dentro da água. Lembrou-se do carro afundando naquele lago, não conseguia firmar o pensamento e suas lembranças eram um tanto desconexas. Lembrou-se também que fora trazida à tona pelos braços de várias mulheres que a depositaram na beira da represa e em seguida voltaram para a água. Verônica levantou-se toda trêmula e ao chegar na estrada pediu carona. Nunca contaria aquela história para ninguém.