O Viajante - Parte III

Houve um momento em que pensou que seu coração fosse explodir, de tão rápido que batia ao ver aquela mão esticar-se e contorcer-se para fora da mala. O desespero tomou conta dos nervos e inutilizou seus músculos, e nada pôde fazer além de obsvervar tal ato bizarro, já que era incapaz de se mover.

A mão se tornou completamente visível, enquanto o resto do braço manchado de vermelho esforçava-se trêmulamente para sair da mala. Assim que conseguiu atingir o chão de madeira, os soluços aumentaram. Foi então que aquela cabeça loura, de olhos negros e face ensangüentada começou a surgir de dentro da mala bizarra, fazendo com que o horror de Kurt o trouxesse a realidade novamente.

"Se ela me pegar, irá querer se vingar", pensou horrorizado.

Com os nervos regenerados e os músculos voltando a trabalhar, Kurt recuperou sua mobilidade e começou a arrastar-se em direção a janela. Ao apoiar-se na parede, forçando as pernas a voltarem a fazer seu velho trabalho de coloca-lo em pé, Kurt deu uma breve olhada para trás.

A mulher arrastava-se, com o corpo nu e cheio de cortes em sua direção, num êxtase insano mesclado aos horríveis sons de seu soluço perturbador.

Voltando suas atenções para sua tentativa de fuga, Kurt armou um soco em direção a janela, preparado para sentir os cortes provocados pelos estilhaços de vidro, mas isso não chegou a acontecer.

Sua mão, erguida no ar, pareceu pesar cem vezes mais seu peso normal, assim como seu próprio corpo, fazendo com que perdesse o equilibrio nas pernas, dando de cara na parede e em seguida no chão.

"NÃO!" gritou em sua mente, cheio de horror.

De bruços, em desespero, tentou virar-se de face para cima, quando sentiu o toque gélido em seu tornozelo. Em pleno terror, encolheu as pernas e conseguiu virar-se e apoiar as costas na parede, mas a visão que teve fez com que perdesse seus sentidos novamente.

A mulher arrastava-se para cima de seu colo, encharcando-o de sangue com os cortes em seu corpo. Sentiu o frio toque de suas mãos alcançar seu rosto, tocá-lo, fazendo com que o horror tomasse conta de toda sua sanidade. Tentou gritar, mas foi em vão, pois sua voz não saiu, apenas um gemido fraco e sem força.

"NÃO, POR FAVOR, NÃO! OH, DEUS...", choramingou dentro de sua cabeça, fazendo com que as lágrimas escorressem de seus olhos, antes de a escuridão tomar conta de todo o quarto e Kurt desmaiar, sob janela.

***

Ao abrir a porta do quarto, trancada por dois cadeados, o homem chamado Paul encontrou Kurt no chão de madeira, com braços e pernas arqueadas em uma estranha posição.

- Acorde, Cartman - disse Paul, dando um tapa na face pálida de Kurt.