O ÚLTIMO GRITO.

Três horas da tarde. Com olhar vazio, observo o pátio lá fora. Pessoas gritando por justiça, um pequeno tumulto aqui, outro ali. Meu dia havia chegado.

Sempre acreditei que viveria para ver meus netos brincando no solário do meu casarão. Mas isso nunca aconteceu. Desde que matei minha mulher, uma cela fria e uma cama dura eram minhas companheiras.

Não era pra menos. Ao vê-la com meu irmão, me traindo a sangue frio, sem se importar com a minha presença. Ali, imóvel naquele quarto, chocado diante da cena que se desenrolava.

Matei os dois. Não pensei duas vezes. Busquei uma faca na cozinha e a desferi contra as costas de meu irmão freneticamente até ele cair morto em cima daquela vagabunda. Nua, ela me implorou pela vida, mas era tarde demais. Eu já havia sujado minhas mãos com o sangue daquela traição. Ela não seria perdoada.

Desferi um golpe mortal em sua garganta e a vi agonizar. Seus olhos foram perdendo o brilho, até se imobilizarem, fixos em mim, sem sinal de arrependimento. Apenas um reflexo fugaz de seu prazer em transar com meu irmão.

Feito isso, liguei para a polícia. Quando eles chegaram, eu estava sentado no sofá, vendo televisão. Eu estava com meus olhos vermelhos e inchados. Mas não chorei. Dei uma olhada no restante da casa antes de sair escoltado e entrar no camburão.

Jamais imaginei que terminaria aqui. Agora, olho para fora e vejo o verde das árvores, os pássaros cantando, e me lembro do último olhar que aquela vadia dirigiu a mim. O seu gosto em me trair, a sua satisfação.

-Vamos assassino. Sua hora chegou.

Caminho sereno a passos firmes em direção à forca que me espera. Saio e a forte luz bate em meu rosto, e aos poucos vejo o rosto da multidão que grita meu nome, completamente enfurecida.

O nó ao redor do meu pescoço é frouxo. O chão se abre. Em poucos minutos estou morto. A multidão silencia, e agora, me vejo em um corredor escuro e longo, no qual ao fim deste, os olhos de minha falecida esposa me aguardam para queimar junto a ela pela eternidade no inferno.

Bonilha
Enviado por Bonilha em 27/03/2012
Reeditado em 03/05/2012
Código do texto: T3579286
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