Histórias de Chernobyl - A Cidade Fantasma de Prypiat

Localizada na "Zona de Alienação" ou "Zona Proibida", a pequena cidade de Prypiat abrigava operários da usina de Chernobyl. Até o fatídico ano de 1986, haviam ali muitos jovens e uma infraestrutura de dar inveja a muitas cidades.

Após o acidente da usina, toda a população foi retirada, sob risco de contaminação. Tudo foi deixado para trás, mas talvez o mais intrigante local de Prypiat era seu parque de diversões.

Mais de vinte anos após o acidente de Chernobyl e com níveis de radiação mais baixos, a cidade de Prypiat foi aberta à visitação. Me chamo Ralph e sou natural do Colorado, Estados Unidos.

Em 2007 viajei a trabalho para São Petesburgo, e também passaríamos em Kiev.

Terminados nossos trabalhos, sobrou um tempo e um dos colaboradores nos sugeriu um passeio em antigas ruínas da Ucrânia, de cidades abandonadas após o acidente nuclear, mas que estavam abertas à visitação e não ofereciam risco à saúde.

Como sempre gostei desses passeios mórbidos, fui o primeiro a aceitar. Alguns torceram os narizes mas no final, fomos todos até lá.

Andamos por ruas esquecidas, casas abandonadas, prédios e praças. Haviam muitos pertences pessoais jogados, empoeirados, mas o que mais chamou minha atenção foi o Parque de Prypiat, na cidade de mesmo nome.

Sentia um misto de tristeza e fascinação em ver aqueles brinquedos todos parados. A montanha russa, símbolo daquela região, os carrinhos de batida, o carrossel, todos tomados pelo mato, pequenos insetos e outros animais, que aproveitaram para fazer suas casas em meio a tudo aquilo.

Já era tarde e ouvi meus colegas chamando para ir pro hotel. Respondi de longe que precisava tirar umas fotos e para me aguardarem na van.

Então um garoto se aproximou de mim, e falando inglês, com um forte sotaque russo perguntou se eu gostaria de ver a Casa Assombrada. Estranhei a presença dele mas me respondeu que morava por perto, com sua mãe e irmãs. Perguntei a ele se não era proibido morar por lá, mas me disse que, como não tinham para onde ir, acabaram ficando.

Nós dois caminhamos um pouco, enquanto ele falava um inglês difícil de entender. Disse que se chamava Akim, e que aprendeu a falar inglês com sua mãe, de origem americana.

Chegamos até a Casa Assombrada e o que se pôde ver foi o mesmo do restante do parque: abandono.

Então, agradeci a ele, mas disse que precisava ir. Ele insistiu que eu ficasse mais um pouco, que nunca ninguém o visitava e queria alguém para conversar. Lamentei, mas disse que precisava ir assim mesmo.

O garoto se entristeceu e notei lágrimas em seus olhos. Fiquei um tanto comovido mas não podia ficar mais. As autoridades controlavam aquele local e já estava tarde. Ele me olhou e acenou com as mãos. Disse que iria brincar sozinho mesmo, sentando-se em uma das cadeiras da roda gigante. Me virei e dei dois passos em direção à saída. Quando me virei para lhe falar um último adeus, tomei um grande susto. O carrinho estava vazio e não havia sinal de mais ninguém além de mim no local. Não teria como ele ter corrido e sumido, pois esta ala do parque era bem aberta, e não fiquei mais de um segundo de costas.

Tal imagem ficou na minha mente. Quando a van andou uns dois quilômetros à frente, avistamos um antigo cemitério. Pedi para parar por cinco minutos só para tirar umas fotos, sob os protestos de meus colegas, que estavam cansados. Ao entrar no cemitério, avistei uma lápide familiar. Nela haviam vários nomes até ver algo que quase me fez desmaiar. Em um dos túmulos estava escrito em inglês: Akim Korolenk - morto em 1985, o desenho de uma roda gigante e a foto, a foto do garoto que vi no parque.

Na mesma noite embarcamos para os Estados Unidos. Após descansar da longa viagem, resolvi ver as fotos que tirei. Na última tirada no cemitério, atrás de uma árvore, minha namorada notou um pequeno rosto. Não haviam dúvidas. Era o rosto de Akim, triste, procurando um amigo para brincar na roda gigante.

Paulo Farias
Enviado por Paulo Farias em 03/05/2012
Código do texto: T3646662
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