Lembranças do Apocalipse - Epílogo
 
 
Dor. Somente dor.
Meu corpo era rasgado. Minha vida se partia. Apenas sofria a perda de tudo que mais amei nessa vida, João, Charlotte, o filho que nunca conheci, meus amigos, meu mundo todo acabou.
- Vanessa! – uma voz me chama – Vanessa, acabou. Acabou Vanessa.
A lembrança daquela voz me desperta, eu a conhecia: era João!
Abri os olhos, sim era ele, meu amado, parecia um pouco mais jovem que antes, mas era ele.
- João! – gritei ao vê-lo – meu amor, meu amor!
Nos abraçamos apaixonadamente e choramos os dois. Só então olhei em volta, estávamos em um quarto, não o nosso quarto de antes, mas o quarto da casa onde vivíamos quando nos conhecemos.
- O que aconteceu João? Aquilo tudo foi real? – perguntei.
- Eu achei que fosse um sonho, mas foi tão intenso – disse ele segurando seu braço, o mesmo braço que vi ser mutilado.
- Sim, tenho certeza que era real – eu falei colocando as mãos em minha barriga.
- Vocês estão certos – ouvimos uma voz e nos viramos assustados, lá estava aquele homem alto, belo e misterioso que vimos antes, estava de pé bem a nossa frente vindo não sei de onde.
- Quem é você? – nós perguntamos quase ao mesmo tempo.
- Apenas um Mensageiro.
- Você é um Anjo? – perguntei me lembrando do significado da palavra.
- Me chamam de muitas coisas – ele falou.
- Aquilo aconteceu de verdade? – perguntou João.
- Não, mas em breve vai acontecer, vocês tem alguns anos pela frente antes que tudo se cumpra. Enquanto isso, devem vigiar e se preparar.
- Mas porque nós? – perguntei.
- Foram escolhidos a contemplar o futuro, a razão nem eu sei – e depois disso ele brilhou intensamente e desapareceu tão rápido quando surgiu.
João e eu nos olhávamos, um era testemunha de que o outro não enlouquecera.
- Acho que devemos partir – disse ele.
- Sim, vamos embora.
Descobrimos que éramos jovens de novo. Abandonamos nossa cidade, antes passei em uma pequena loja de animais.
- Veja João, é ela – disse mostrando a pequena filhote de labrador em uma jaula.
Eu a peguei no colo e a abracei.
- Nossa pequena Charlotte.
- Só resta um lugar para irmos agora – falou João.
E nos dirigimos para a Catedral, onde um homem já nos aguardava.
- Eu sabia que viriam meus filhos – disse o padre Octávio – entrem, estávamos apenas esperando.
Dentro da igreja reconheci os três jovens soldados, eram agora apenas meninos, e várias outras pessoas que não conhecia.
- Hoje meus filhos vai começar uma nova e triste era para todos nós.
O padre Octávio deixou a Igreja Católica, foi expulso e excomungado pelo papa por causa de suas ideias apocalípticas, mas ele reuniu seguidores do mundo inteiro que simplesmente vinham até ele sem serem chamados. Criamos nossa própria comunidade e construímos nossa própria igreja, uma fortaleza no meio de uma imensidão erma. E um dia, muito tempo depois dentro dessa igreja eu acompanhava um sermão do padre junto com João.
- João – eu disse a ele – tudo vai começar em breve.
- Como sabe? – ele perguntou.
- Estou grávida João – eu respondi.
Ele então me abraçou com força.
E em poucos dias o mundo lá fora conheceria seu julgamento final.

 
FIM,
Ou apenas o início?
Luciano Silva Vieira
Enviado por Luciano Silva Vieira em 16/05/2012
Reeditado em 16/05/2012
Código do texto: T3671693
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