Lágrimas de Sangue

Ian Einsamhertz

Segunda-feira.

Doce senhora que encanta meus sonhos e povoa meus delírios, sofro por saber que já não posso tê-la, pois a fria tumba em que jaz teu belo seio se assegura disso, envolvendo-a com seus dedos gélidos e firmes.

Mas seu perfume se entranhou em minha memória, e alma, tanto que por vezes julgo que o sinto pela casa como se vós caminhastes comigo pelos cômodos como antes. Infelizmente sei que isso é impossível já que vi, com esses olhos que a terra há de comer, a mortalha fechar-se sobre seu rosto, como um véu de noiva que nunca ostentou.

Na minha cama o contorno de seu corpo permanece, e nas noites frias meu soluço preenche o vazio deixado por vós e ecoa pelo vazio que deixaste em mim.

Em todos os cantos da casa sobrevivem resquícios de sua presença, como um fantasma a atormentar-me, e a dor, a dor é sempre mais forte durante as noites, pois sei que você já não atravessará a porta vindo ao meu encontro em nosso eterno leito de amor, com seus doces olhos azuis, profundos como o mar.

Doce amada, dois dias fazem que partistes, mas a mim parecem anos. Em certos momentos, uma raiva intensa apossa-se de mim e eu me pergunto como tivestes a ousadia de partir e me deixar, mesmo quando jurastes não me abandonar jamais.

E meu coração sangra amada, sangra por ti.

Terça- feira.

Insônia, maldita serpente que a mim se agarra como um parasita sedento por minha dor, que me faz permanecer acordado a rever fotografias esquecidas da perdição amada e perdida, que me faz lembrar de tudo aquilo que me foi tirado quando ela se foi.

A-M-O-R: ainda dói meu odioso coração ressentido.

Não podias deixar-me assim amada, não podias, deverias cuidar de mim como disse que o faria. Por que se foi, oh sonho meu? Queria que ao menos me levásseis com vós...

Às vezes, a dor é tanta que me sinto afundar, perdendo me em lembranças do que passamos, com a esperança que retornes aos meus braços, ou que ao menos eu afunde ao teu lado pelos véus obscuros da morte.

Quarta-feira.

Obsessão, só pode ser isso. Enlouqueci! Já não posso suportar, a ausente presença dela me tortura, além de seu cheiro, agora ouço sua voz. Algumas vezes distante, outras ao pé do meu ouvido, de tal maneira que todos os meus cabelos arrepiam-se, se de medo ou anseio, não me compete dizer.

Por Deus, eu a vi sendo enterrada, sua tumba branca fechando-se em volta de seu belo corpo e seus doces olhos, os mesmos que haviam me conquistado, se encontravam fechados para sempre. Parecia dormir o sono dos justos, mas ah Deus, ela nunca mais acordaria daquele sono, e eu jamais a veria sorrir novamente e me encarar com interesse ou qualquer outro sentimento transbordando pelos olhos.

Os mortos não voltam à vida, é o que sempre me disseram, mas como pode estar morta se sua presença se faz mais viva do que nunca ao meu redor. Mesmo já havendo passado 4 dias de seu enterro, 3 dos quais venho registrando meus pensamentos em seu caderninho de anotações para não enlouquecer.

Seu cheiro pela casa, sua voz pelos corredores...

Eu sempre soube que nunca poderia esquecê-la, no entanto não imaginava que seria assim tão torturante. É como se ela estivesse aqui, escondida, brincando com a minha sanidade, me torturando com um prazer doentio.

Quinta-feira.

Já não posso suportar, não durmo há dias, e quando o faço é porque estou dopado por ervas e poções que o curandeiro me fez. Que Deus me perdoe, vou enlouquecer, tenho medo de cometer uma loucura, pois não suporto essa dor sem fim.

Quando olho no espelho já não me reconheço, é como se eu fosse apenas um espectro do homem que fui. Pálido, com olheiras gigantescas, meus cabelos perderam o brilho, estou mais magro do que jamais estive e meus olhos... Meus olhos que antes transmitiam alegria e interesse, hoje possuem a aparência de uma triste tempestade em que as nuvens encobrem todo o brilho do sol.

Tenho medo de mim! Inimigo único do qual não há como fugir.

Diaba! Todas as noites seu rosto me atormenta, seu gosto, seu cheiro, sua pele...

Sinto-te em mim quando durmo e em meus sonhos repletos de luxuria são dotados de tal realismo que acordo nu na cama, com os lençóis bagunçados a minha volta. Sinto-me fraco como se estivesse há dias sem comer e com muita, muita sede.

Enlouqueço e sei que o faço, no entanto não há nada que eu possa fazer a não ser por um fim nisso, as facas da cozinha me atraem com um brilho doentio nas raras vezes que sinto vontade de comer. Que Deus me perdoe, creio que sucumbirei.

Sexta-feira.

Essa noite definitivamente foi a pior de todas, e ao mesmo tempo a melhor, se considerarmos alguns fatos positivos que nela transcorreram.

Como o fato de ter encontrado o diário de minha amada, por exemplo, eu o reconheceria mesmo que estivesse todo sujo e rasgado, o que não é o caso. Sua identidade pessoal transborda de cada pedaço dele, as linhas transpiram a alma dela, e o cheiro dela tão doce e intrigante, aqui, permanece puro e límpido, assim como ela era na alma.

Existem vários poemas que ela escreveu, alguns dos quais falam de mim, e meios olhos choram de felicidade sempre que vejo o modo como ela me amava, e sei com toda convicção que se ela pudesse escolher, não teria me deixado. Ela me amava.

A minha doce e bela Anastasia... Sua essência transborda de seu caderno/diário, assim como o fazia de seus olhos.

É claro que eu não deveria lê-lo, mas como não o faria? Era meu contato maior com ela, pois obviamente era um pedaço de sua alma, seus pensamentos mais íntimos, seus sonhos, seus desejos, seus sofrimentos, tudo estava ali. Em alguns momentos, posso ouvir sua voz melodiosa e poderosa recitando alguns de seus poemas para mim, é uma tortura, é claro. Me rasga e me mastiga, retorcendo-me pedaço por pedaço e acabo adormecendo abraçado com seus pensamentos esquecidos, como se fossem ela.

Minha senhora, como queria tê-la comigo, é algo que não posso expressar com palavras e a dor da distancia é inexplicável, e palavras simplesmente não seriam o suficiente para compreendê-las. É simplesmente inconcebível para mim a mera suposição de que não voltaras para meus braços. Todas as noites lhe espero na cadeira de área, como o fazia todos os dias após chegar do trabalho, pois sabia que vós logo viria da horta ou jardim dos quais cuidava com tanto esmero.

Essa tarde após ler um poema sobre suas flores fui ver seu jardim, está horrível querida, surtarias se o visse. Volte amor, volte para mim e para sua vida, ou me leve contigo, pois não posso suportar mais isso, cometerei uma loucura, pois sou um louco que a cada dia perde mais de sua sanidade em meio ao vento frio que sopra consigo seu perfume...

Sábado.

Ouço ruídos pela casa, são como passos apressados que me atormentam, e os sussurros que atravessam as paredes, são como adagas que me perfuram a alma. Meu medo é quase palpável no ar, o terror que me atormenta é tão grande que mal consigo escrever, minhas mãos tremem borrando o pergaminho em vários pontos.

Seria o diabo vindo me buscar? Mas não, é a voz dela que ouço sendo trazida pelo vento e seu riso que vem zombeteiro e cruel pelo ar, estalando como chicotes sobre meu peito, tal a intensidade com que me atingem.

A porta está trancada, pois tenho medo dela, minha Anastasia não sorria assim, seus olhos não eram vermelhos como os daquela coisa que se parece com ela e me espera após a porta.

Aquela não é ela, como pode ser, se a imagem dela que vejo sempre que fecho os olhos e relembro quando a vi é tão diferente dessa, quanto a lua o é do sol.

Já era noite, e eu estava como sempre, sentado no sofá da sala, quando escutei seus sussurros vindos do lado de fora da casa. Nem parei pra pensar, acreditei, em minha tola inocência, que minhas preces teriam sido atendidas, e terias finalmente voltado para mim.

Bem, ela realmente voltara, mas não como eu poderia ter desejado. Logo que abri a porta e me deparei com ela, me assustei, todos meus cabelos e pelos se arrepiaram como que por instinto.

Sua pele era cadavérica, seus olhos vermelhos transbordavam de pura maldade, em seus lábios rubros um sorriso diabólico habitava. Ela se encontrava com a mesma roupa com que fora enterrada, agora rasgada e suja de terra, era uma visão infernal para qual eu nunca poderia ter me preparado e quando ela falou comigo, sua voz era a mesma, porém mais forte e envolta em pura malicia corrompendo a memória dela, que era a única coisa que me restara.

_Olá querido, porque o espanto? Pensei que me quisesses de volta pelo tanto que me chamastes – disse ela com aquele sorriso diabólico a corromper lhe a face cândida.

_Você não é Anastasia – afirmei em meio ao medo que me deixava praticamente catatônico.

_Claro que sou, não me reconheces mais, Ian? Pensei que fossemos amantes... – continuou ela com a voz odiosa escorrendo pelo ar.

_Como poderia? Vi minha amada ser enterrada bem diante de meus olhos! – gritei para a criatura que se parecia horrível e desesperadoramente com minha amada, mas não era ela, não podia sê-lo.

_Querido, tenho certeza de que deves estar confuso, mas posso provar lhe que sou eu, deixe-me abraça-lo, beija-lo... Como fazíamos antes de toda essa confusão, sempre serei vossa e voltei por vós.

_Eu... Não entendo...

Eu estava confuso no momento, pensava que deveria ter enlouquecido e estava alucinando como o louco que era e me deixei levar por ela, me permiti envolver por seus braços e a trouxe para perto de mim. Nem tive tempo de trazê-la ao quarto, nos beijamos e acariciamos ali mesmo, no chão da sala, saciando toda a saudade que eu sentia, e imaginava que ela sentisse também. Éramos um do outro de forma completa de novo e toda a dor em meu peito se dissolveu no momento em que seus lábios tocaram nos meus. Era intenso, profundo e mágico o modo como nossos corpos se encaixavam. Eu quase me esqueci que ela havia morrido. Quase.

Mas então, logo depois do ato de amor, ela subiu em mim e foi beijando meu pescoço, passando a língua por toda a linha de pele que encobria minha veia, até aquele momento nada de estranho, pois a sensação era divina. Meus olhos se turvavam enquanto ela me lambia, mas em um momento algo sinistro aconteceu. Algo tão forte que teve o poder de quebrar o encanto que ela exercia sobre mim, uma dor lancinante me inundou partindo do ponto que segundos antes ela acariciava, afastei-me bruscamente e pude ver, graças à luz do luar de lua cheia, que meu sangue transbordava de seus lindos lábios, e seus olhos eram a imagem de um demônio. Ela sorria com aquele sorriso vermelho insolente, que tanto me atormentara no momento em que a vi na porta de casa, e soube, naquele instante que algo estava errado, muito errado.

Levantei-me e corri o mais rápido que pude para o meu quarto enquanto ela me observava partir com um ar divertido.

E desde então permaneci aqui, prisioneiro de meu próprio leito, atormentado por meu próprio sonho, apavorado demais para fazer outra coisa que não seja escrever.

O silencio se propaga pela casa, é como um mau agouro, pois sei que esse silêncio não pode representar boa coisa, e estou certo.

_Ian! Deixe-me entrar, precisas fazê-lo, sou eu, seremos só nós dois pela eternidade, não era o que querias? Sei que o eras, pois eu o ouvi todos esses dias, chorando pela casa, sofrendo por mim. Li até mesmo suas anotações, dormi em seus braços, embalei teu corpo enquanto sonhavas! E cuidei de tua dor! – gritava ela batendo com força na grande porta de cedro que separava nosso leito do resto da casa.

_Como?! – perguntei antes que pudesse me conter.

_Eu renasci Ian, como era pra ter sido! Deixe-me entrar e posso contar-lhe!

_Não! Faça-o dai!

Ouvi seu suspiro do outro lado da porta.

_Querido, quer mesmo saber? Pois o que agora lhe contarei abalará tudo aquilo em que acreditas.

_Sim! – respondi sem pensar duas vezes.

_Mas antes, deves me prometer uma coisa, me perdoaras e me deixará entrar tão logo eu termine de contar-lhe.

_Não!

_Deves fazê-lo, Ian, só assim poderemos ficar juntos pela eternidade e além dela como querias. Prometa, Ian. Não confias em mim, amor?

_Não éres mais minha doce, Anastasia – solucei exasperado, indo me encostar na porta.

_De fato, eu mudei, mas continuo sendo Anastasia, pensei que me amarias para sempre não importando o que acontecesse... mas vejo que mentias...

_Por Deus, não! Eu a amo! Diabos, prometo!

_Sendo assim, sente-se, pois agora saberás toda a verdade sobre a minha morte...E vida.

***

AnastasiaTieflust

“Não me lembro exatamente como tudo aconteceu e sempre que tento é como se um buraco negro me preenchesse e sugasse minha energia fazendo com que minha cabeça e corpo doam profundamente.

Tudo o que me lembro é que era um sábado normal, como outro qualquer, eu cuidava de minhas flores com o mesmo carinho de sempre, totalmente distraída, quando escutei vozes chegando aos meus ouvidos pela estrada. O crepúsculo envolvia o mundo possessivamente com seus dedos frios e belos. E a lua já começava a ser perceptível no céu. Levantei-me cambaleante e me aproximei da estrada para ver-se eras tu, Ian, quem chegava mais cedo para os meus braços.

Quisera eu que pudesse permanecer onde estava, ou fugir o mais longe possível.

Assim que meus olhos caíram em sua pele fantasmagoricamente pálida, meu coração acelerou-se, eu queria correr, mas minhas pernas não me respondiam. Seus olhos negros e profundos me sugavam, acorrentando-me ao chão. Eu era prisioneira de meu próprio corpo e o sabia, instintivamente, é claro, ele nenhum movimento fizera desde que chegara em seu cavalo negro como a morte.

Ele estava a apenas alguns passos de mim, eu queria com todas as minhas forças correr, mas eu era a caça do dia, por mais que sua expressão fosse gentil.

Ele desceu do cavalo e veio em minha direção saboreando o momento e meu medo, eu sabia o que ele era, essa criatura. Histórias que minha avó me contara quando criança apitavam em minha cabeça, histórias essas que eu lacrara em meu pequeno relicário mental.

Seus cabelos eram escuros como a noite, e a lua cheia brilhava derramando-se sobre ele, transformando-o na coisa mais linda que eu já havia visto. Sua pele era cadavérica como a face da morte, suas mãos de dedos longos continham unhas igualmente compridas, ele era alto e forte, e mesmo que fosse humano, eu não teria a menor chance, nem você, Ian.

E sabendo disso eu rezei com toda a minha alma mudamente para que não viesses para casa naquele momento, e pedi a Deus, e aos deuses nos quais minha família acreditava, para que você ficasse a salvo... Pois eu suportaria tudo e já havia me resignado com o fato de que morreria... Mas eu não podia perdê-lo para a morte, aquela amante ingrata que ceifa vidas como quem colhe flores de um jardim.

De olhos fechados eu sentia aquela respiração pavorosa em meu pescoço, e era fria, fria como a água em degelo, fria como a ponta de uma adaga.

_Eres tão linda, que penso se não seria útil faze-la minha, ando só há muito, muito tempo.

Eu não me mexia, eu mal respirava, e tremia enquanto sentia suas presas afiadas a rasgar-me.

Eu sentia o frio me invadindo, cortando-me, ao mesmo tempo em que meu sangue, minha vida, me abandonava.

Minhas pernas perderam a força, eu já não podia pensar e a única coisa que me segurava ao chão eram seus braços.

Logo senti que a dor, e por Deus, o prazer, já não me afligiam e tentavam penetrar na barreira de meus pensamentos, tudo o que restava era... Nada, um vazio terrível e excruciante, e em seguida, tudo foi escuridão.

Quando acordei, estava no meu próprio túmulo a sete palmos de chão. Eu tentava gritar e batia louca e frenética na madeira que me enclausurava, mas nada acontecia, até que desisti de minhas investidas inúteis e fiquei totalmente quieta pensando, era tudo confuso, mas quando se tem tempo, não é tão difícil organizar os pensamentos, que foi o que fiz.

A primeira coisa de que tive certeza foi que estava morta e aquela era minha genuína mortalha. O resto veio fácil, eu por certo não estava completamente morta, tão pouco viva, já que não asfixiava na ausência de ar de minha cova. Eu era uma morta-viva, uma vampira.

Depois de um tempo que não é possível contabilizar, ouvi o barulho de terra sendo movida, em seguida, senti a tampa sendo retirada e lá estava meu mestre, meu criador, lindo em sua glória fria. Era tudo tão intenso, os detalhes, as sensações, era tudo muito único e... Confuso.

A lua brilhava enquanto ele me ensinava tudo que eu necessitava saber, mas foi preciso menos que uma noite para que eu me lembrasse de ti, meu amor.

E foi por isso que voltei, todas as noites, após separar-me de meu mestre e um pouco antes de retirar-me para nossa cripta, eu o visitava, Ian, porque meu amor era maior do que minha fome e meu desejo doloroso por seu sangue. Como deves imaginar, não foi difícil convencê-lo a me convidar para nossa... Sua casa.

Todas as noites eu o via dormindo e chorar chamando meu nome, além de ler suas anotações, e, foi por isso que apareci, porque eu não suportava mais vê-lo sofrer. Doía em minha carne, eu sentia como se fosse rasgada por dentro, como se estivesse morrendo novamente, mas pior.

E... Eu decidi vir despedir-me, pois devo partir com meu mestre, mesmo que eu não o quisesse, eu iria, pois não posso recusar-me a atender um chamado de meu criador. E agora, Ian, eu o amo, assim como lhe amo, de uma forma diferente, pois sem ele eu morreria, por motivos mais do que óbvios.

E é por isso meu amor, que devo partir, e, dessa vez, é realmente para sempre.

E agora, eu lhe pergunto:

_Ian, me perdoas? Por tudo?

_Sim. Sempre, não vá!

_Eu preciso... Adeus, Ian...”

***

Ian Einsamhertz

E dizendo isso, ela se foi, como uma brisa fria e leve como uma pluma, deixando-me com as respostas que tanto desejei, mas que hoje desejaria não ter. E o vazio em meu peito, era como um buraco negro que ameaçava sugar-me para o meu interior sangrento, pois em mim agora, tudo era dor e ausência. O fato de saber que ela não se fora era ainda pior, pois a cada crepúsculo, eu inutilmente esperava por ela, mas ela jamais apareceu, ao menos eu não a vi mais. Talvez ela tenha conseguido me esquecer, mesmo que eu nunca seja capaz de fazer o mesmo.

Anos depois eu me casei com uma moça que conheci em uma de minhas andanças em busca de informações sobre vampirismo, temos dois lindos filhos, uma menina e um menino, chamados Erika e Alfred, eles são agora a razão de minha vida e a esperança que pensava nunca voltar a ter.

Amália, minha esposa, não sabe de tudo que aconteceu com vós, somente que morrestes, ela não precisa carregar o fardo que carrego em minha alma desde aquele dia, sete dias após vossa morte.

Sei que em breve partirei para os véus desconhecidos pelos quais todos os Homens inevitavelmente passam um dia, sinto isso, meu corpo já não é o mesmo e minha saúde definha a cada dia que passa, mas eu não me importo, eu fui mais feliz do que pensei que seria, porque depois que partistes eu me sentia morto por dentro.

Os dias agora são longos e as noites curtas, imagino que não deves gostar disso, mas as crianças adoram, elas passam o dia todo brincando com os animais, adorarias ver isso, a alegria e inocência deles é contagiante, é como um gole de água fresca após horas no sol quente, refrescante.

Deves de estar perguntando-se por que escrevo isso, ao pé das cartas alucinadas que escrevi naqueles sete malditos dias, pois bem, é porque sei que quando meu corpo estiver aprisionado a mortalha que encerará minha carne para sempre, irás visitar nossa antiga casa. Lá, haverá para vós, esse pequeno diário em que decidi contar-te o fato, de que apesar de tudo, eu encontrei a felicidade, e caso ainda se sinta culpada por abandonar-me, isso sirva de refrigério para vosso cansado coração.

Desejo sinceramente que sejas feliz da melhor forma possível;

Ian