As alunas de Itaquatira

"-Não cara, larga essa arma. Que brincadeira besta.

-Vamu lá, roletinha russa, de boa...

Após um disparo, o garoto de quinze anos cai no chão. O sangue escorre deliberadamente pelo seu rosto, mancha sua camisa e cria uma possa no chão."

Itaquatira, 11 de março de 2003

As aulas de 2010 seguiam seu ciclo normal. Ju discutira com as meninas e ficara no recreio mas afastada, sentada num banco perto do campinho. Brigas de meninas, coisa do cotidiano e que, como de costume, até o final da tarde acabaria em boas risadas.

De repente, a menina de treze anos avista um aluno desconhecido. Sim, porque em cidade pequena do interior, tudo mundo conhece todo mundo.

O rapaz alto e moreno caminhava cabisbaixo, com uma das mãos sobre a cabeça. Sentida atraída por aquela figura masculina e nova no local, a garota se levanta para olhar melhor.

Há alguns metros apenas, a jovem atraída ensaia um "oi" tímido. Sem resposta aumenta o volume da voz e nada. Aproxima-se mais um pouco, e como de costume no local pronuncia: "ei, menino, tá perdido?"

Lentamente, o rapaz desconhecido vira a face. A visão aterrorizante causa histeria à moça. Um olhar sombrio, de um jovem com apenas um dos olhos, uma perfuração profunda e ensanguentada na testa, além de alguns bichos saindo da boca, já em estado de decomposição.

Tomada por gritos incontroláveis, a pequena garota cai no chão. Os demais ouvem seus gritos, inclusive as amigas da discussão anterior. Tentam contê-la, mas sua força violenta depende de mais de cinco pessoas para contê-la.

A voz da pequena engrossa e pronuncia palavras desconhecidas. Pronuncia palavras sobre "eu não queria, tá sangrando".

De repente uma das meninas no local entra em histeria também. A multidão se junta para conter as duas garotas, até que uma terceira entra no mesmo estado.

Uma ambulância é chamada. Os agentes de saúde não conseguem agir até que são aplicadas ampolas de tranquilizantes. São levadas ao hospital da região no qual permanecem sedadas e em observação.

A escola é fechada e inicia-se uma investigação. Após entrarem em si, ambas relatam ter visto o mesmo rapaz moreno, caminhando pela escola.

Alguns psicólogos tentam explicar a histeria coletiva mas não conseguem relatar com maiores detalhes. As três meninas apresentam alguns hematomas pelo corpo e testa e o caso vai parar na justiça.

A polícia inicia investigação criminal, procurando localizar o tal rapaz. Segundo o delegado poderia tratar-se de algum foragido que tivesse violentado as garotas e após vê-lo teriam entrado em tal estado de estresse.

Semanas depois o caso é arquivado, a escola é reaberta e as aulas voltam ao normal. As três meninas porém são transferidas para outra escola.

O mistério permanece sem explicação até os dias atuais. As marcas do sangue de um rapaz, morto há sete anos ainda mancham o campinho de futebol, vítima de uma brincadeira macabra de "roleta russa". Eu disse para ele parar com essa brincadeira, mas não me ouviu. Busco formas de fazer com que ele descanse em paz e pare de atormentar as meninas, mas ele não me ouve. O que fazer?

Paulo Farias
Enviado por Paulo Farias em 23/05/2012
Código do texto: T3684239
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