Laços de sangue

Uma batida fraca a acordou, então ela ouviu uma vozinha fina pedir: - Bia deixe-me entrar, por favor! Tenho medo, não quero ficar sozinha. Por favor, abra a porta. Tremula de medo Beatriz cobriu a cabeça. Aquilo fora do quarto não podia ser sua irmãzinha. Baby morrera há uma semana, dois dias antes de completar dez anos de idade. A casa ainda tinha o cheiro das velas e das coroas de flores. Lembrou então das vezes em que a irmã batera na sua porta no meio da noite, implorando para ficar depois de um sonho ruim. A curiosidade foi mais forte e Beatriz se levantou para ver quem é que se passava por sua irmã para assustá-la. Abriu a porta e espiou o corredor, estava vazio. Devo estar imaginando coisas pensou, e logo voltou para a cama e dormiu. Sonhou que alguém acariciava seus cabelos e beijava seu rosto. Era um carinho tão gostoso que nem se importou em não ver quem a tocava e muito menos quis saber por que aquela mão era tão fria. Quando despertou pela manhã, seu travesseiro estava ligeiramente úmido e estava no canto da cama, como se tivesse sido usado por outra pessoa. Não se lembrou de nada que aconteceu na noite anterior. Na noite seguinte acordou novamente com batidas na porta, mas desta vez fingiu não ouvir, e depois de vários minutos escutou passos se afastando e indo na direção do quarto do irmão mais velho. Teve vontade de ir até lá e descobrir o mistério, mas a cama estava tão quentinha que preferiu se enroscar e dormir. Vai ver imaginara tudo novamente. Pensou. Na hora do café estranhou a ausência do imão. Ele era sempre o primeiro a descer. Perguntou aos seus pais, se Bruno havia saído mais cedo e como disseram não saber, decidiu verificar. Encontrou a porta do quarta entreaberta. O irmão estava virado para o outro lado e parecia dormir profundamente. Sorrindo Beatriz se aproximou para acordá-lo, mas gritou apavorada quando percebeu que o irmão tinha os olhos esbugalhados e tinha sido sufocado com alguma coisa cor de rosa. Os pais ao ouvirem o grito correram para acudir. Quando o médico chegou para assinar o laudo da causa da morte, retirou da boca do rapaz um ursinho de pelúcia. Beatriz e os pais se entreolharam. Aquele brinquedo era o favorito de Baby, e Bruno sempre implicara com a menina por ser tão apegada a ele e o escondia. Algumas noites mais tarde, as batidas na porta voltaram a acontecer. Beatriz chorou assustada, mas não abriu a porta. No dia seguinte encontrou o gato da casa e alguns passarinhos estrangulados. Temendo que os próximos a morrer fossem os pais, tomou uma decisão. Todas as noites deixava a porta aberta e de olhos fechados, escutava a irmã falecida entrar e se enfiar debaixo das cobertas. Hirta de medo fingia dormir, enquanto as mãozinhas geladas lhe faziam carinho. 01/06/2012 Vânia Lopes