O Último Beijo - III

Lady Bella assustou-se ao abrir os olhos e notar que estava num ambiente desconhecido - não era o seu quarto nas dependências do castelo do seu pai, o rei Humberto I. O rei tinha laços curtos com a igreja - para alguns não passava de um boneco nas mãos dos bispos, arcebispos e até mesmo o padre da capela do castelo tinha mais autoridade do que o mesmo. A fogueira impunha seu terror, ainda.

Lady ergueu-se da cama, tinha o corpo exausto, agia com fraqueza, como tivesse sido dopada. Assustou-se ao ver a criada sentada numa cadeira, ao lado de sua cama, em silêncio, observando-a com um olhar seco, gélido. Postura de cão de guarda.

- Minha senhoria, está muito fraca para querer erguer-se da cama.

-Quem é você? Onde estou? O que fizeram comigo?

-Vou trazer uma sopa para que possa recuperar suas forças, minha senhoria.

- espere, fique, diga-me onde estou, o que fizeram comigo?

A criada abriu a porta e saiu sem nada dizer. Um estalo seco passou-lhe a idéia de que a porta do quarto havia sido travada por fora. Estava prisioneira, havia sido raptada, indagava-se. Correu o olhar pelas dependências. Avaliou que estava num ambente charmos e rico, apesar do aspecto sombrio do local. O teto era alto e decorado com madeira de lei. Paredes de pedras escuras. Piso de rochas cortadas. Sim, estava num castelo, talvez num burgo - pensou assim, ao ver a grande muralha que circundava o local. Pequenos casebres eram ordenados nas cercanias, alguns soltavam fumaças pela chaminés, revelando que estava num local onde havia outras pessoas, além dos que viviam no castelo. Ficou um tanto aliviada, por não estar num castelo em região isolada. Poderia ter ajuda, talvez para fugir dali. Não tinha forças para gritar por socorro, sua voz estava fraca, sem forças físicas para tal.

-Meu deus, onde estou, o que fizeram comigo?

A luz do sol pouco alcançava as dependências do quarto, parecia ter sido planejada a arquitetura para tal. Pequenas coberturas de telhas pousavam de toldos que impediam a luz solar de alcançar além das paredes.

Camponeses plantavam, colhiam e ordenavam animais. estava ao seu alcance dos seus olhos tal rotina. Foi ao banheiro e viu a tina pronta para o banho. Ao acionar a alavanca a água morna caiu sobre a tina de madeira. Tinha sais, sabão natural e folhas aromáticas. Disposta, despiu-se e entrou na tina banhando-se com lentidão na água morna.

A criada adentrou no quarto e dirigiu-se para ajudá-la no banho. Esfregou suas costas com o esfregão e ensaboou seu corpo de pele de brancura diáfina.

- Minha senhoria não deve fazer tal tarefa sozinha, tem criada para tal.

-Mas, como? não é minha criada, sou aqui uma estranha...

-Tem roupas limpas para sua escolha, estão sobre a cama.

-Onde estou? Quem vive neste castelo?

Mais uma vez a criada nada disse, cumpriu com suas obrigações e retirou-se do quarto, deixando-a mais uma vez trancanfiada.

O sol baixava no horizonte por sobre os montes, desenhando uma sanguínea celestial. Morcegos davam vôos rasantes por entre as árvores e circundavam as torres do castelo. A noite estava chegando.

Dirigindo-se para o lado oposto do janelão, onde olhava o ambiente, pôde ver o cemitério. Uma visão sinistra. As tumbas revelavam-se por entre os arbustos e árvores desprovidas de beleza. Eram tantas a ponto de chegar á conclusão de que ali, eram enterradas as pessoas que faleciam no burgo, coisa pouco comum naquela região, onde os mortos eram cremados - uma exigência da igreja, após o surto de lepra e da gripe que havia matado ás centenas. A igreja, também, queimava gente sadia, por heresia, e oposição ás suas idéias.

-Como pode ter um cemitério com tantas tumbas, incrível. Aterrador,amedrontador, e de frente para este quarto.

O cemitério fora tomado de arroubo pela neblina. O piar de corujas espalhava-se por entre os galhos das árvores secas. Nuvens frenéticas de morcegos pululavam por entre as torres do castelo. O vento sibilava anunciando mais uma noite com ares de mistérios. O ambiente era o retrato vivo de uma cena umbralina. Lady Bella, em contraste,com a sua beleza.

-Deus, Deus, como pode alguém habitar em local tão amedrontador?

Passos vagoroso subiam as escadas de pedra. lady Bella, ouvia-os, com sofreguidão, e medo. O coração palpitava a ponto de lhe faltar o ar nos pulmões. os passos se seguiam, sem pressa. Subiam as escadas na direção do seu quarto. Ela recuava buscando um canto para se esconder. O coração lhe saía pela boca, mas sufocava a vontade de gritar.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 02/06/2012
Reeditado em 16/06/2013
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