O MISTÉRIO DO VELHO CASTELO - PARTE 15

Fischer dirigia seu carro pela estrada esburacada. Enfim estava chegando ao hospital. Mais uns 10 minutos e estaria lá, na segurança de seus companheiros de trabalho. Torcia para que a gasolina rendesse o suficiente para fazê-lo chegar, mas sabia que não conseguiria isso, e mesmo com tantos buracos, ele ia o mais rápido que podia, sem se importar com os estragos na suspensão.

Foi quando chegou à curva em que ele quase tinha caído no barranco, quando o motor desacelerou.

Segurando o volante com as mãos suadas, Fischer apertava constantemente o pedal do acelerador com o pé, tentando tirar algum proveito do veículo, mas este não respondia. Ia andando cada vez mais devagar, até que por fim, parou.

-Certo, daqui vou a pé.

Fischer tirou as chaves do carro, trancou-o e apertou o passo. Sentia que aquela mulher o perseguia, e olhava constantemente para todos os lados, constatando se realmente estava sozinho. Suas pernas tremiam, e ele se esforçava para manter a calma. Tentava correr, mas seu peso não o ajudava. Desta forma, ele andava o mais rápido que podia. Ventava muito e o chão estava cheio de lama pela chuva que tinha caído, o que fazia com que seus passos se tornassem mais pesados, dificultando seu percurso. Olhando para trás, Fischer observava as luzes dos faróis ficando cada vez mais longe, até que por fim, ele se viu só na escuridão.

O barulho dos grilos em meio à mata, e as corujas no alto das árvores não atrapalharam seus pensamentos. Estava atônito e não entendia o que tinha acontecido em sua casa. Não havia explicação que justificasse o ocorrido.

Foi quando notou que diante de si, a sombra de seu corpo ia aumentando, e o caminho ficando mais claro. Olhou para trás e viu que um carro semelhante ao seu se aproximava, vagarosamente até parar do seu lado.

Incrédulo, ele viu sua irmã no volante.

-Entre querido. Temos tanto que conversar...

-Mas Susan, você... Estava...

Ela o interrompeu calmamente. Saiu do carro e pegou sua mão. O calor que emanava dela tranquilizou seu irmão, que a observava com os olhos vermelhos e com a voz embargada.

-Eu sei Fischer. Reconheço tudo o que você fez por mim. Você me curou. Entre aqui comigo. Está frio... quero ir pra casa... pra nossa casa de verdade... eu perdi minha vida fora de lá, e quero recuperá-la, com você do meu lado... – Susan soluçava e lágrimas rolavam de seu rosto.

Fischer chorou descontrolado, e sem saber o que fazer, abraçou sua irmã. Encostou o rosto em seu ombro.

-Susan, você não sabe como esperei por esse dia...

Foi quando olhou em volta e caiu em desespero. Era tarde demais. Pisou no freio com toda a força que tinha e girou o volante, tentando manter o carro na pista.

Ele passou em cheio pelo barranco, caindo de frente sobre uma rocha e depois capotando até parar. Sangrando dentro do veículo, Fischer chorou de dor, não entendo que tipo de alucinação era aquela que sofrera. Tentou sair do carro rastejando, no entanto, estava morrendo. Sentia que seu peito ia explodir, e quando deu seu último suspiro, notou o sorriso amarelado e malicioso, com olhos penetrantes o contemplando através do retrovisor.

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Eram 04 horas quando o relógio de Armand despertou. Sonolento, sentou-se sobre a cama e esfregou os olhos. Estava frio no quarto e ele se sentiu inclinado a deitar novamente. No entanto, ao invés disso, se colocou de pé e tateou a parede em busca do interruptor. A claridade invadiu o quarto e então, ele abriu a porta do guarda-roupa para se vestir. Ainda sonolento, abriu a porta do quarto e foi até o banheiro.

O dia ainda não havia clareado, mas já era possível escutar alguns cantos de pássaros nas árvores do jardim.

Olhou por um instante em direção ao quarto de Ricardo. O lampião continuava diante da porta, no mesmo lugar em que fora deixado na noite anterior. Bocejando, abriu a porta do banheiro e acendeu a luz. Escovou os dentes demoradamente, lavou o rosto, e depois disso, penteou seu cabelo, e abotoou a gola e as mangas da camisa. Olhou para os pés. Ainda estava com as sandálias que calçara quando se levantou. Voltou ao seu quarto e trocou-a pelo seu par de sapatos, rigorosamente engraxados. Pronto. Armand estava impecável, como exigia o padrão de etiqueta dos criados da classe alta.

Seguiu em direção as escadas, e quando passou ao lado da biblioteca ficou curioso pelo trabalho que faria ali. Na verdade, mais ansioso do que curioso, pois desejava logo arrumar aquele cômodo. Pelo visto, a maior parte de suas atividades seria desenvolvida ali, e se Ricardo fosse exigente com a organização dos livros, Armand levaria algum tempo até terminar seu serviço.

Com o lampião aceso em mãos, ele foi descendo as escadas com cautela, pois não queria fazer algum barulho que acordasse seu patrão. O piso abaixo de seus pés rangia levemente, a cada passo que ele dava. Procurou não olhar para a porta do porão, e assim que terminou de descer, foi direto para a cozinha.

O cachorro que agora notara sua presença, começou a arranhar a porta e a ganir, como que pedindo para entrar. Armand abriu a porta, saiu e inspirou o ar gelado que entrava pelos seus pulmões. Gostava de morar ali, a cidade era pacata e o ar fresco o dia todo.

Rex pulou em suas pernas sujando parte de sua calça. O cão abanava o rabo, contente por vê-lo ali.

Lembrando-se da recomendação de seu patrão, para não deixar o animal entrar na casa, Armand colocou uma tábua pequena entre a porta e o quintal. Feito isso, foi até a pia e jogou um pouco de água na barra de sua calça para limpar a sujeira feita pelas patas do cachorro. Ainda não eram 05 horas, e até o dia clarear demoraria bastante. Armand calculou que teria tempo suficiente de preparar o café para Ricardo e ainda organizar sua biblioteca, antes que ele acordasse.

Com a neblina aos poucos se dissipando, o jardim ia ficando mais nítido. Porém, no escuro, ainda não era possível observa-lo com detalhes. Somente após o dia clarear seria possível dar uma volta por ali.

Armand abriu a geladeira e tirou de um saco de leite, um pote com queijo e outro de margarina. A água sobre o fogão fervia, e ele buscou na parte de cima do armário o pote do café.

A mesa estava arrumada, pronta para servir ao Sr. Ricardo, mas ainda faltava o pão. Armand abriu o forno com desanimo. Tudo o que menos gostava de fazer na vida era pão caseiro. Lembrou-se das moedas que tinha na carteira, e resolveu ir até o armazém de Carlos comprar um pouco. O pão ainda estaria quente, e tudo o que ele tinha que fazer era mantê-lo aquecido no forno. Ricardo sequer notaria a diferença.

Saindo da casa, ele notou como a rua estava mais clara. A mata serrada do jardim com certeza o confundiu. O dia ainda não havia clareado, mas ao longe, os primeiros raios de sol começaram a surgir. Algumas pessoas empurravam suas bicicletas pela calçada, enquanto outras andavam apressadas com suas malas nas mãos e chapéus na cabeça.

Ao final da rua, pouco antes da esquina, o armazém estava aberto e Armand pode ver Carlos varrendo a calçada. Acenou de longe, enquanto se aproximava.

-Vai beber a essa hora?

-Deixe de besteira homem – respondeu Armand – vim comprar um pão.

-O mesmo de sempre?

-Sim, o de sempre.

Carlos largou a vassoura sobre a calçada e dirigiu-se atrás do pequeno balcão. Pegou dois pães caseiros e os embrulhou em volta de um papel, entregando-o em seguida para Armand, que largou duas moedas sobre a tábua de madeira.

-Como foi ontem com sua sogra?

-Ela resmunga feito um papagaio. Acha ruim de tudo. Ao menos eu enchi minha barriga.

-Tudo tem uma vantagem nessa vida, não é?

-Eu prefiro o bife duro que minha mulher faz ao morar com minha sogra. Paciência é uma virtude. Algo que nem eu e nem ela temos. Bom dia! – disse mudando de assunto.

-Bom dia Carlos! Armand, que surpresa ver você por aqui – soou uma voz reconhecível vinda de trás dele.

Era o Sr. Luiz Monteiro.

Continua...

Bonilha
Enviado por Bonilha em 06/06/2012
Reeditado em 06/06/2012
Código do texto: T3708964
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