Pacto com o demônio

O homem corria desesperado. Em seu encalço um ser metade homem, metade bode soltava urros medonhos. Suas passadas pesadas faziam tremer o chão. A rua esburacada dificultava a fuga e o homem sentia a proximidade do fim. Com um gemido percebeu que algo bloqueava a saída e aterrorizado se viu frente a frente com dois monstros idênticos a seu perseguidor. Os cascos riscavam o chão e um forte cheiro de enxofre se espalhou no ar.

Sandra sacudiu o marido, era o terceiro pesadelo que ele tinha essa semana. Ainda se debatendo João abriu os olhos e abraçou aliviada a esposa. Foi só um pesadelo, disse ela. O homem concordou com a cabeça, mas no íntimo sabia que era mais do que isso. Ele fizera um trato com o demônio, e agora estava sendo avisado de que o prazo estava expirando.

João sempre foi ganancioso. Almejava a riqueza, mas nunca gostou de trabalhar. Odiava os que melhoravam de vida. Pensava egoistamente que ele é quem deveria possuir boa casa, belos carros e passar temporadas viajando. Para sustentar a mulher e três filhos, João se dizia vidente. Cobrava consultas e prometia solucionar problemas através de trabalhos espirituais, mas oque arrecadava era muito pouco e ele queria muito mais. Um dia conheceu um sujeito estranho, que lhe ofertou um livro de orações fortes e se ofereceu para apresentar João a seu mestre, o demônio. Disse ainda que quem se aliasse ao diabo, teria em mãos toda riqueza e poder desejado. Marcou então um encontro em uma encruzilhada numa sexta feira á meia noite. João estava com medo, mas sua ambição falou mais alto. Depois de espalhar velas coloridas em cima do desenho de uma cruz, de decepar fora a cabeça de duas galinhas que trazia numa caixa e de acender um fedorento cachimbo, o estranho homem invocou o diabo. Por alguns segundos nada aconteceu, mas de repente um vento gelado apagou as velas e uma figura muito alta envolta numa capa preta apareceu. O barulho de um trovão ecoou distante e uma voz rouca perguntou: “Quem me chamou?” Apavorado João quis correr, mas seu companheiro o segurou firme e disse ao demônio oque o seu amigo queria dele. Com uma gargalhada terrível o ser das trevas, prometeu fazer de João um sujeito muito rico, mas em troca queria sua alma. O prazo para ele cobrar a dívida seria de quinze anos. O acordo foi aceito e João se tornou um dos homens mais ricos da cidade. Sua esposa sem desconfiar de nada atribuía a fartura a um golpe de sorte. Nesses quinze anos a família fez viagens ao redor do mundo, compraram iates, carros de luxos, imóveis. Matriculou os filhos nas melhores escolas particulares, deu festas regadas a bebidas finas e iguarias requintadas. Dinheiro nunca faltou.

Tudo começou há desmoronar quinze dias antes do fim do prazo. Dois dos filhos de João morreram em um acidente de carro. A filha que se casara há pouco tempo, descobriu que seu marido era infiel e se suicidou com um tiro na boca, mas antes assassinou o marido com uma forte dose de veneno e atropelou e matou a mulher com quem ele tinha um caso. Era uma noite chuvosa, sentado na luxuosa varanda João esperava. Adoentada sua mulher estava no quarto dormindo, sem saber que o mal estava chegando para cobrar uma dívida. João sabia que não havia escapatória para ele, mas queria proteger sua amada esposa, por isso decidiu esperar do lado de fora. O relógio marcava meia noite, quando um barulho forte veio de dentro da mansão. Assustado João foi até o quarto e encontrou sua mulher com o pescoço virado num ângulo estranho. O sangue jorrava de um ferimento no pescoço e ao seu lado estava um enorme gato preto de olhos avermelhados. Hirto de medo, João viu o animal se transformar na figura dos seus pesadelos e com enormes pés de bode pular em sua direção. Percebeu então que foi muito infeliz ao fazer o pacto, pois foi ludibriado pelo demônio que pagou apenas por uma alma, mas arrastou para o inferno toda a sua família. Vânia Lopes 25/06/2012

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