UM DEFUNTO ESTRANHO

Que tristeza, o Prefeito Dr. Rodrigues Pedrosa morreu. Santa Rosa era uma cidadela tão pequena que mal tinha funerária, muito menos Padre.

O Vice-Prefeito enviou o motorista Tomé e seu ajudante Zé Otávio até a cidade vizinha de Palmas buscarem um caixão de Mogno, digno de se enterrar um Prefeito tão querido pelo povo.

Palmas não era tão longe, mas a estrada era uma tristeza, cheia de buracos e barrancos escorregadios. No caminho de volta, o tempo estava nublado e começa a chuviscar fino. Já era fim de tarde, quase noite, e o caminhãozinho de caçamba aberta trazia aquele imponente caixão marrom com alças douradas.

Zé Otavio, o ajudante de motorista, olhou pra estrada e viu alguém acenando com a mão pedindo carona. – Nossa! É o Toninho da venda para pra ele Zé. Toninho nem acredita na sorte que teve. – Oi Zé, oi Tomé! Ta escurecendo e sai tarde da casa do meu primo. Vocês me levam pra Santa Rosa? - Sobe ai atrás Toninho, estamos levando um caixão pro enterro do Prefeito, mas tem espaço. Toninho subiu na caçamba feliz da vida pela carona.

Já escurecia e começou uma chuvinha bem fina, daquela bem chata mesmo. Toninho estava se molhando muito e olhando para aquele caixão quentinho, bem fechado logo pensou. – Acho que não tem nada de mais me deitar lá dentro pra fugir da chuva. E assim fez, que até cochilou.

Uns 5 km para chegar a Santa Rosa, o sereno engrossou. Na beira da estrada eis que surge outro sujeito pedindo carona, homem meio desconhecido, mas o motorista Tomé já havia visto ele por ali. Era algum morador daquelas casinhas que ficam ao pé da serra. Gente boa. O desconhecido aborda o motorista Tomé que lhe diz: - Sobe ai atrás com o “outro” meu amigo, dá se um jeito e a gente leva os dois.

O homem sobe na caçamba do caminhão e dá de cara com aquele caixão sinistro, o “outro” que também seguia viagem, na verdade era Toninho que dormia dentro. Bem, pensou o homem: - Eu não mexo com ele e ele não mexe comigo e tá tudo certo, mas não tem jeito, ficou aquele clima de “sei lá”, entende?

O caminhão seguia pela estrada, o homem estranho olhava o caixão com aquela cisma. Já era noitinha e estava escuro, quando Toninho desperta dentro do caixão, abre a tampa, olha fixo pro estranho e pergunta: - E ai meu amigo, já parou a chuva? O pobre do homem dá um berro, se levanta e pula do caminhão como um raio barranco abaixo.

Assim é a vida, cheia de imprevisto. Lá vai Tomé e Zé Otávio de volta para Palmas buscar outro caixão, afinal, o falecido Prefeito terá companhia de um defunto estranho.

Geraldo Faria
Enviado por Geraldo Faria em 01/07/2012
Reeditado em 18/08/2012
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