A Terceira Invocação - Parte 1

Foi numa manha fria de abril de novembro de 1943 que o general Klaus Von Steinberg recebeu a carta informando a morte em combate do capitão Hans Von Steinberg na frente alemã oriental. Apos ler a carta, o velho general foi até a janela de seu escritório em Berlim e ficou olhando fixamente para o horizonte, pensativo e arrasado pela morte de seu único filho e motivo de grande alegria e orgulho de sua familia. Naquele dia, mais tarde, o general recebeu uma ligação de Goebels, ministro do governo e colaborador proximo de Hitler, que lhe deu todo o apoio e garantiu que o seu filho seria condecorado postumamente com a cruz de ferro. Goebels também lhe assegurou que os restos mortais de seu filho seriam enviados em poucos dias para um funeral digno de um heroi do 3o reich. O general ficou profundamente abatido e foi pensativo para sua casa que ficava em um local afastado de Berlim, em uma região cercada de florestas e lagos. Ali, longe de tudo, o general Steinberg buscou refugio para a alma abatida pela tragédia.

Steinberg ficou em sua casa isolada inconformado pela perda do filho. Nao conseguia superar a perda e decidiu que faria tudo o que pudesse para ter seu filho de volta. Usaria todo o seu conhecimento para poder ter a companhia do filho novamente. Para isso Steinberg iria se aventurar por caminhos sombrios, os quais somente os antigos trilharam num tempo que ficou para tras em épocas passadas. Steinberg conhecia meios para isso.

O general Steinberg comandava uma unidade de elite do alto comando alemao encarregada de experiencias com o ocultismo. O proprio Hittler, fascinado pelo ocultismo e pela magia negra, havia lhe posto no comando e lhe dado todos os recursos disponiveis na época. Naqueles dias, a unidade 67 estava trabalhando na interpretação de antigas runas da islandia que tratavam de ordenanças e rituais pagãos de invocação dos mortos. Hitler acreditava que era possivel formar um exercito invencivel se pudesse controlar a morte e depositava sua confiança do trabalho de Steinberg. Foram trazidos da Islandia e de antigos mosteiros da finlandia e da noruega, antigas runas que detalhavam estes rituais. O problema se resumia na interpretação correta dos pergaminhos, já que muitas partes não eram legiveis e outras foram perdidas. Steinberg era um general brilhante em táticas militares mas também um renomado arquelogo e historiador, doutor em historia e reconhecido pelo comunidade internacional por suas pesquisas sobre antigos povos pagãos. Ele coordenava o trabalho pessoalmente de seu escritorio e visitava o centro de pesquisa da unidade 67 toda a semana para acompanhar o progresso.

No dia seguinte Steinberg retornou a Berlim para receber os restos mortais do filho. Foi informado que o caixao nao deveria ser aberto pois o corpo foi terrivelmente dilacerado por fogo da artilharia inimiga. O general ficou calmo e seu semblante era de quem estava ali apenas para receber uma encomenda. Levaram o caixao para o antigo cemiterio de Berlim, para o mausoleu da familia onde foram feitos os serviços fúnebres numa tarde chuvosa. Steinberg era viuvo e estava acompanhando apenas por alguns poucos familiares e amigos. A cerimonia foi rapida e logo, um a um, os parentes e amigos foram se afastando e o velho general ficou sozinho diante do mausoleu da familia onde foi enterrado Hans. A chuva ficou mais forte e logo iria anoitecer. Steinberg conversou com o filho e prometeu que logo se veriam novamente. Em seguida, caminhou em direção ao portao do cemiterio e desapareceu na escuridão daquela noite chuvosa e fria.

Steinberg tinha em sua casa uma cópia de todo o material de trabalho da unidade 67, incluindo todos os rituais e ordenanças dos antigos, como eram chamados os povos pagaos da europa pré-cristã. Examinou o material e providenciou o material necessario. Sua casa isolada era perfeita para o trabalho que estava prestes a fazer. Leu tudo e preparou tudo, sempre assistido pelo seu ajudante de longa data, o major Fritz Heiner, que integrava a unidade 67 desde o inicio. Em nenhum momento o general Steinberg informou ao major Heiner o seu objetivo principal, parecendo a Heiner que o velho general buscava refugio no trabalho para esquecer o sofrimento causado pela perda do filho. No velho porao, foram posicionados os artefatos macabros para uma ordenança antiga que até os pagãos primitivos tinham receio de executar. Nos registros constava que tal ritual havia sido executado somente 2 vezes pelos antigos habitantes de uma ilha isolada da Noruega, os quais tinham o conhecimento proibido. A ilha era agora totalmente inabitada e nao havia nenhum vestigio do povo que um dia havia vivido ali. Os pergaminhos foram encontrados em um antigo mosteiro perto da costa norueguesa. Os monges foram mortos pela SS uma vez que tentaram destruir os pergaminhos a deixar que alguem levasse embora do mosteiro. Estes fatos foram ignorados por Steinberg mas nao por Heiner que perguntou ao velho general sobre o motivo de realizar a ordenança ali em sua casa e sem o conhecimento da unidade 67. Steinberg desconversou e despediu o ajudante que foi embora em seu carro sem entender o destino que os aguardava.

Embora tivesse tudo pronto e preparado, até mesmo Steinberg sabia que nao deveria ir adiante sem antes conversar com seu antigo professor dos tempos da universidade. Steinberg nao dormiu direito à noite e se levantou cedo e viajou de carro até uma mansão distante localizada nas montanhas. A viagem foi longa e cansativa mas Steinberg chegou ao seu destino pouco depois das tres da tarde. O velho professor morava em uma antiga mansao que estava em péssimas condições, mal iluminada e tendo em volta um jardim totalmente abandonado. A velha mansao parecia abandonada há anos e Steinberg ficou se perguntando se por que o amigo quis ir morar ali tao afastato. Tocou a campainha e uma criada o recebeu. Era uma jovem muto bonita, loura, seios fartos e apos se certificar de quem era o convidou a entrar. O general mandou que os dois oficiais que o acompanhavam e o sargento esperassem no carro, ao que a criada o levou ao interior da mansao diretamente até o quarto onde estava seu amigo e antigo professor. Ao entrar o general percebeu que seu amigo estava muito doente e que provavelmente tinha muito pouco tempo de vida. Muito abatido e cansado o velhor professor reconheceu imediatamente o antigo aluno e declarou feliz em ver o amigo uma ultima vez antes de partir. O velho mestre sentia a proximidade da morte mas parecia nao se importar. Dizia que estava pronto para morrer e que a morte faz parte da vida, tinha vivido uma boa vida. Perguntou entao o que havia levado o general ali, apos tantos anos sem terem contato. Steinberg perguntou ao velho professor o que ele sabia sobre um antigo ritual de invocação dos mortos que foi obtido de antigos povos pagaos que viveram na Noruega. O velho professor mandou a criada deixa-los a sos e entao perguntou porque Steinberg se interessava por tal ritual ao que Steinberg desconversou. Ao perceber exatamente qual ritual pagao especifico que Steinberg pensava realizar o velho professor ficou mudo por uns instantes e depois pediu mais informacoes a fim de se certificar de que Steinberg sabia realmente os passos da ordenança macabra. Entao o velho fez um esforço para ficar sentado e olhou por um longo tempo com olhar de reprovacao para o antigo aluno. Depois disse a Steinberg que ele deveria abandonar tal ideia e destruir os pergaminhos pois eles continham a descricao de um ritual sombrio muito antigo e que concedia sim o controle sobre a morte mas nao para quem invoca o ritual e sim aos mortos. Era um convite aos mortos para deixarem seu mundo e entrarem no nosso mundo. Steinberg ouvia tudo atento, sem responder uma só palavra e sem demonstrar nenhuma alteracao emocional. O professor pediu agua e seu remedio para a dor e em seguida explicou que os antigos acreditavam na existencia de dois mundos paralelos, o mundo dos vivos e o mundo do mortos e que os mortos ora agiam para ajudar e ora agiam para destruir os vivos, dependendo das circunstancias. Em seguida o professor disse que antigos relatos diziam que o ritual era na verdade uma maldição para quem o invocava e lembrou que nao havia sacrificio no ritual, nem de criança, nem de animais e nem de virgem, porque era a propria pessoa que invocava que era sacrificada de uma forma pior do que a propria morte. Nao havia informacao alguma sobre os povos que o executaram, sobre o que aconteceu com eles. Apenas lendas e relatos perdidos no tempo da antiguidade. Steinberg ficou sério, pensativo e calado ao que o professor implorou que destruisse os pergaminhos e fez duras criticas à Hitler e ao governo por buscar tais conhecimentos proibidos pelos antigos e tão sombrios. Conhecimentos sombrios. Algum tempo depois o professor se deixou cair abatido na cama. Estava muito fraco. A doença havia lhe consumido totalmente. Tinha pouco tempo de vida e parecia ter gasto suas ultimas forças na tentativa de alertar ao amigo e ex-aluno do perigo que corria ao se aventurar com o que chamou de lado mais sombrio da magia negra. Por fim, exausto lhe pediu que anotasse o nome de um colega, Paul Kietel, que era professor na universidade de Berlim. Orientou ao ex-aluno que caso precisasse de ajuda, deveria procurar o Dr. Kietel o mais rapido pois ele poderia lhe ajudar, e somente ele. Apos alertar o amigo o antigo professor pareceu mergulhar em sono profundo e antes de fechar os olhos disse a Steinberg "Nem sempre encontramos aquilo que procuramos e nem sempre controlamos o que criamos". Em seguida o velho dormia profundamente. A criada pediu que Steinberg o deixasse descansar. Steinberg olhou o relogio e viu que o tempo passava rapido e que devia sair dali imediatamente se quisesse descer a montanha antes de anoitecer. Se despediu do amigo e antigo professor que tantas vezes o ajudou com leituras antigas e interpretação de textos pagãos. O velho dormia profundamente. A criada o acompanhou até a saida e ficou na varanda o observando sem dizer uma unida palavra. Lá fora os dois oficiais e o sargento o aguardavam em silencio. Antes de entrar no carro Steinberg olhou pela ultima vez para o quarto no andar superior da mansao e lá pareceu ver a silueta de seu antigo professor lhe dando adeus ao que Steinberg retribuiu o gesto para entao entrar no carro que lhe levaria de volta à Berlim. Já era fim de tarde quando partiu da mansao esquecida entre as montanhas.

Continua...

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 06/07/2012
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