A Terceira Invocação - Parte 3

Steinberg passou a noite na biblioteca relendo e estudando o ritual de invocação dos mortos, tal como era descrito pelos antigos. Era um ritual que prometia o poder sobre a morte para trazer de volta os que foram mortos. O ritual descrevia uma oração antiga que deveria ser feita à meia noite. Simples e sem sacrificios de animais ou coisa parecia. Steinberg se lembrou mais uma vez da advertencia de seu antigo professor de arqueologia, que lhe advertiu sobre os perigos deste ritual mas ele acreditava que o ritual era a chave para nao somente trazer seu filho de volta mas também salvar a Alemanha da derrota certa uma vez que teriam o exercito perfeito, invencivel com o poder sobre a morte, cujos soldados seriam imbativeis.

O general tomou café e em seguida chamou a criada e lhe orientou a dispensar todos os funcionarios da casa para passarem o final de semana com a familia. Em seguida dispensou a criada lhe pedindo que fizesse o mesmo. Saiu em seguida, sem ler o jornal e foi ao seu escritorio em Berlim. Chegando lá, delegou ordens aos seus subordinados, fez alguns despachos e deu ordens restritas com relação à unidade 67 e de como queria que fossem encerrados os trabalhos de pesquisa paranornal e ocultimos. Todos os oficiais acharam tudo aquilo estranho mas as ordens do general foram todas cumpridas. Saiu do escritorio quando era noite e caia uma chuva fina sobre a cidade. Chegou a sua casa sozinho e entrou na mansao vazia. Foi direto ao porao onde havia preparado todos os artefatos para o ritual.

Antes de iniciar o ritual ainda olhou para o retrato da familia que carregava consigo. Uma velha foto da esposa falecida e de seu unico filho Hans, morto em combate dias atras. Em seguida vestiu um manto negro escarlate e iniciou a leitura da antiga oração de invocação dos mortos. A chuva fora da mansão aumentava sua intensidade e Steinberg prosseguiu com a oração até conclui-la completamente ao que todas as velas apagaram como que se um vendo forte soprasse ali. O porão ficou em completa escuridao. O velho general Steinberg ficou ansioso e assustado. Acendeu uma a uma as velas mas elas voltavam a se apagar como se algo quisesse manter a escuridao permanente no lugar. Steinberg entao resolveu sair do porao e subir à sala da mansão para aguardar o retorno do filho.

As horas passaram até que Steinberg ouviu os caes de vigia latirem alto e ficarem assustados para serem, logo em seguida, silenciados para sempre. Steinberg sentiu que não estava sozinho. Pareceu ouvir passos subindo a escada que levava até a varanda da casa e finalmente ouviu passos na varanda indo em direção à porta da frente. Um cheiro de podridao forte tomou conta do lugar e Steinberg teve certeza que o ritual havia funcionado e que os antigos espiritos cumpriram sua promesse. Ouviu a macaneta da porta girar e a porta se abrir lentamente. Chovia e ventava forte e de pé na soleira da porta estava o que um dia havia sido seu filho Hans. Steinberg reconheceu o uniforme do filho. Ali diante do velho general estava o seu filho Hans trazido de volta dos mortos. Sua cabeça era coberta por um saco e notou que seu braço direito tinha sido semi-destruido. Steinberg se levantou e ficou olhando a criatura parada na porta e em seguida mandou o filho entrar ao que a criatura emitiu um som alto e grotesto que parecia ser algo como 'Pai'. A criatura arrastava uma perna e se movia de forma lenta mas sem vacilar. Steinberg observou que a criatura ao inves de ir para seu quarto, foi direto para o porao. Havia um cheiro insuportável ali no ambiente. Um cheiro de morte. Steinberg se apressou em fechar a porta da frente e foi até a varanda quando viu os três cães vigia mortos no gramado em frente à mansão. Seus pescoços e mandibulas haviam sido dilacerados. Steinberg deixou para tratar disso depois.

Steinberg foi ao porao e descobriu a criatura que um dia havia sido seu filho preparando o porão para um outro tipo de ritual macabro. Steinberg tentou iniciar uma conversa com que achava ser seu filho Hans. O general disse que estava feliz por te-lo de volta. A criatura interrompeu o que estava fazendo e ficou observando em silencio o general que iniciava uma conversa. Stienberg prosseguiu dizendo que jamais abandonaria ele novamente e que tinha planos para realizar o ritual para montar um exercito com poder sobre a morte, um exercito invencivel que daria a vitória total à Alemanha e que ele, Hans, poderia comandar exercito. Steinberg ainda estava falando quando a criatura soltou o que pareceu ser uma gargalhada macabra e em seguida ficou olhando fixamente para o general Steinberg que perguntou se queria comer alguma coisa ou beber algo. A criatura respondeu negativamente com a cabeça. Steinberg entao pediu a filho que lhe perdoasse por ter permitido que fosse morto no campo de batalha. A criatura respondeu com uma voz deformada e estridente que a morte ainda era com ele agora também e que em breve seria com todos. Steinberg percebeu algo errado e ficou em silencio. Se retirou do porao e deu ordens a criatura para que nao saisse de lá até que 'tudo estivesse pronto'. A criatura soltou uma outra gargalhada macabra e ficou olhando para o general que notou que no braço deformado havia nascido um ferrão, tal como uma lança.

Steinberg estava assustado. Aquilo no porão nao era seu filho. Nao o filho que tinha visto crescer e que havia se tornado um homem disciplinado, sério e obediente, acima de tudo um filho amoroso e bondoso. Steinberg se lembrou dos avisos de seu antigo professor. Passou a noite na biblioteca lendo sobre rituais antigos e tentando buscar nos materiais e documentos de pesquisa da unidade 67 algum trecho, uma frase que fosse, que lhe ajudasse a ter mais compreensão do que havia feito. Nada. Amanheceu e Steinberg nao teve coragem de se ausentar da mansão. Foi até a caixa do correio e recolheu o jornal que diariamente era deixado pelo jornaleiro. Leu a seção de noticias e ficou horrorizado ao ler no noticiario da cidade a noticia de que o zelador do cemiterio e seus dois filhos foram encontrados mortos, todos com o coração e olhos arrancados. Steinberg compreendeu entao que grave erro havia cometido. Enterrou os caes e pegou o carro para ir à cidade. Ao seguir pela estrada viu a caminhonete do jornaleiro parada e decidiu ver o que estava ocorrendo de errado. Se aproximou do carro e sentiu um cheiro horrível, quando viu o jornaleiro morto e com o coração e olhos removidos. Assustado o general tentou fugir e caiu na estrada. Se levantou e tentou correr na direção do carro mas estava tão nervoso que nao viu o carro que dobrava a curva e acabou sendo atropelado.

Steinberg acordou no hospital de Berlim, cinco dias depois do acidente. Esta confuso e tonto e foi logo atendido pelo medico de plantao que foi chamado pela enfermeira. O medico lhe disse que teve sorte e que havia sido atropelado, tendo sofrido ferimentos leves mas ficou desacordado por ter sofrido uma batida forte na cabeça. Stienberg perguntou quanto tempo estava ali e foi informado que ficou por 5 dias internado. Acho estranho ninguem da unidade 67 ter procurado noticias suas. Perguntou se alguem havia procurado ele e o medico respondeu que nao para em seguida lhe administrar um tranquilizante.

No fina da tarde Steinberg acordou e foi informado pela enfermeira que dois oficiais da gestapo estavam aguardando ele para fazer algumas perguntas. Apos se apresentarem, os agentes da gestapo lhe fizeram uma série de perguntas, onde havia estado nos dias anteriores ao acidente, se conhecia o jornaleiro morto, se viu algo estranho entre outras coisas. Steinberg respondeu as perguntas e perguntou por que ele estava sendo investigado pela gestapo quando lhe responderam que acharam estranho ele ser o unico sobrevivente da unidade 67 que ainda estava com vida. Steinberg ficou chocado com a noticia e perguntou o que havia acontecido. Os agentes responderam que em uma unica noite todos os membros da unidade 67 foram assassinados barbaramente com suas familias. Todos foram mortos, junto com esposas e filhos, nem os animais foram poupados e tudo sem que ninguem disparasse um unico tiro. Ninguem viu nada, nenhum vizinho, nada. Muito estranho disseram os agentes. O mais sinistro era que todos os membros tiveram o coração e olhos arrancados pelos assassinos.

Steinberg sentiu um frio na espinha e os agentes perceberam que ele sabia de algo. O velho general perguntou como sabiam que era mais de um assassino. Os agentes disseram pelas pegadas e pela forma com os corpos foram pendurados no teto das casas. Um ritual macabro. Uma unica pessoa jamais poderia ter feito aquilo tudo sozinha em uma unica noite. Steinberg se sentiu mal e o medico resolveu interceder e pediu que os agentes deixassem o general se recuperar. Os agentes disseram que voltariam para mais interrogatorios, que o general nao deveria deixar Berlim e que seria levado para propria segurança para o quartel da gestapo em Berlim até que todo o caso fosse esclarecido.

Steinberg sabia que nao havia tempo a perder. Durante a noite descansou e na manha seguinte vestiu-se e saiu como se fosse um visitante. A deixar o hospital pelos fundos ouviu os apitos dos guardas alertados pelos medicos de sua fuga mas já era tarde pois o velho general já havia desaparecido pelas ruas de Berlim.

Steinberg se lembrou do seu professor e do nome que ele havia lhe dado de um pesquisador que poderia ajuda-lo, Dr. Paul Kietel da universidade de Berlim e pegou um taxi indo direto para a Universidade de Berlim à procura da única pessoa que poderia ajuda-lo agora. Chegou a Universidade e apos mostrar sua patente de general foi rapidamente levado ao escritorio do Dr. Kietel que ficou surpreso em receber a visita de um oficial do alto comando alemão. Steinberg entao lhe disse o motivo de sua visita e explicou detalhadamente ao professor Kietel tudo o que havia acontecido. O Dr. Kietel ficou aterrorizado com a revelação de Stienberg e ficou em choque por alguns minutos para em seguinda informar a Steinberg sobre a série de assassinatos que estavam ocorrendo em Berlim nos ultimos dias, crimes barbaros em toda a parte e o que é pior, os corpos mutilados, sem coração e sem os olhos. Agora sabia porque aquilo estava ocorrendo sem que a policia tivesse pistas. Dr. Kietel disse que havia desconfiado que houvesse algo de ocultismo naqueles crimes e corpos mutilados mas depois achou que era impossivel que isso acontecesse. Mas agora viu que era pura realidade o medo maior dos antigos povos do norte.

Steinberg disse que de tudo o que havia lido e estudado dos pergaminhos, aquilo era apenas uma lenda, mas agora via que na verdade era uma maldição terrivel e que precisava saber o que era aquilo tudo e como parar a matança e controlar o filho que invocou do mundo dos mortos. Dr. Kietel disse entao que aquilo que voltou nao era seu filho, mas um antigo demonio que havia sido um guerreiro poderoso mas que foi amaldiçoado por ter assassinado sacerdotes druidas e por querer usurpar o trono de um rei celta, havendo sido condenado à morte e a ter seu espirito vagando pelo mundo dos mortos para sempre. Tinha usado o corpo de Hans Stienberg mas nao era ele que havia voltado e sim o demonio. Kietel disse que o ritual era na verdade uma arma de guerra e que nao havia sido descoberto pelos antigos povos do norte da europa mas que veio das antigas ilhas britanicas e que foi usado pelos ingleses como arma contra os antigos vikings que saqueavam e atacavam as antigas ilhas britanicas. Era na realidade uma maldição preparada pelos antigos sacerdotes druidas para destruir completamente o inimigo viking ou pelo menos mostrar a ele que podiam ser atingidos em seu proprio solo, coisa que os ingleses nunca fizeram. Entao os druidas fizeram chegar ao conhecimento dos vikings como se fosse uma oração de invocação para obter o poder sobre a morte mas na verdade era uma armadilha. Ao conseguirem os pergaminhos os vikings levaram ao rei que desconfiado sabiamente ordenou que o ritual fosse feito em uma ilha isolada e distante ao norte. Foram levados os corpos de guerreiros vikings mortos em combate, muitos já em decomposição, para o ritual que seria realizado na ilha. Tres galeras vikings partiram rumo a ilha e nenhuma delas jamais regressou. O rei compreendeu que se tratava de uma maldição e proibiu qualquer viagem ou contato com a ilha, sob pena de morte. E a ilha ficou esquecida e abandonada por muitos seculos. Ouve relatos de pescadores que se aproximaram da ilha e nunca mais foram vistos e até mesmo as comunidades da costa proxima à ilha tiveram que se mudar para o interior do pais. Apos muitos seculos guerreiros do norte visitaram a ilha e encontraram os restos dos tres navios e os pergaminhos. Nenhum deles se perdem pois foram à ilha durante o dia e voltaram rapidamente para o continente, quando ainda era luz do dia e os pergaminhos foram guardados em um mosteiro.

Steinberg retrucou que sabia das historias e que tudo foi documentado e analisado mas que no fim ele e os historiadores chegaram à conclusao de que eram apenas lendas. Dr. Kietel olhou com reprovação para o general perguntou se o que estava acontecendo, as mortes, as mutilações e os assassinatos pareciam ser uma lenda ao que o general se calou. Dr. Kietel olhou a noite que se aproximava e entao procurou por velhos livros antigos e entao mostrou detalhadamente e passo a passo,ao general o que poderia ser feito para quebrar a maldição. O general compreendeu o que precisava ser feito e perguntou ao Dr. Kietel se havia uma alternativa para resolver a questao, se era possivel negociar ou manipular a criatura ao que Dr. Kietel respondeu dizendo que nem sempre podemos controlar o que criamos e lhe mostrou a situacao na qual a Alemanha se encontrava, perguntando em seguida se alguem havia pensado que a situacao sairia de controle como aconteceu. Dr. Kietel alertou Steinberg que teria que passar a situacao adiante para as autoridades pois inicialmente o pais inteiro corria perigo, nao somente a cidade, mas em pouco tempo a europa inteira correria perigo e pegando o telefone deu alguns telefonemas, seguido de Steinberg que também ligou para algumas pessoas do governo explicando a situacao. Kietel informou que no primeiro dia foram 3 assassinatos, no segundo 73, no terceiro 134, no quarto dia 345 ao que foi interrompido pelo general Stienberg que disse que já javia entendido a gravidade da situacao. Dr. Kietel começou a pegar documentos e livros e colocar na pasta ao que Steinberg questionou se ele planejava sair da cidade ouvindo do Dr. Kietel que mesmo com a guarda nas ruas e a gestapo investigando com todo o seu pessoal, Berlim não era mais segura e que agora ele tinha certeza, dizendo que os assassinatos realizados no quinto dia foram cometidos dentro de residencias em bairros seguros e orgaos do governo e que uma quarnição inteira foi massacrada sem que um unico tiro fosse disparado. Kietel disse entao a Steinberg que agora ele sabia exatamente o que fazer para parar a maldição mas que ele, Kietel, nao iria esperar para saber se Steinberg iria ser bem sucedido em sua tentativa. Ficar em Berlim era morte certa, e uma morte terrível, dolorosa e cruel.

Já era noite quando o general Steinberg e o Dr. Kietel desceram as escadas do predio da universidade. Nas ruas poucas pessoas eram vistas e os bondes passavam vazios. Dr. Kietel relembrou o general todos os passos para quebrar a maldição e o alertou que teria apenas uma chance porque apos perceber que o conhecimento para quebrar a maldição era sabido pelos habitantes deste mundo, a criatura tomaria precauções para tomar a quebra da maldição quase que impossivel. Entao Steinberg teria apenas uma chance. Dr. Kietel recomendou a ele esperar os reforços da SS e da tropa de elite do exercito ao que o general ficou em silencio, em seguida, o Dr. Kietel chamou um taxi e ordenou que fosse direto para a estação de trem.

Steinberg ficou vendo o taxi se afastar e ficou refletindo em como havia sido tolo e como faria a ordenança para quebrar a maldição.

Continua....

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 09/07/2012
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