O CAMPO DOS ABENÇOADOS - Parte 2

Albert se sentou numa cadeira e começou a ler o antigo diário de um antigo padre catolico que começava o diario no dia de sua chegada à pequena aldeia escondida nas montanhas, no ano de 1746. No diario o padre Andreas Mansini lamentava o fato de ter sido excomungado da igreja catolica mas nao explicava com detalhes os motivos de seu afastamento, mas deixava a entender que tinha idéias diferentes da doutrina da Igreja e que isso foi a causa de seus desentendimentos desde o principio. No diario o padre registrou que sempre seria um padre e que prosseguiria com sua obra entre os filhos de Deus que moravam ali na pequena comunidade.

O diario relatava o dia a dia do sacerdote batizando crianças, ensinando na escola que ajudou a construir, ouvindo as confissões das pessoas e fazendo a missa todo domingo. Nada de estranho e que pudesse explicar as barbaridades que tinham acontecido até entao. Albert entao começou a passar as paginas do diario mas rapidamente, como se buscando respostas, algum fato para explicar o horror de tudo aqui. Até que encontrou uma pagina marcada e ficou curioso e ao mesmo tempo surpreso com o registro feito a partir daquele ponto no diario.

O diario do dia 25 de Dezembro de 1755 relatava o que aconteceu quando se faziam as comemorações de natal. Alguns aldeões agitados informavam haverem encontrado uma criatura pequena que parecia uma criança-macaco e que estaria vagando pelo cemiterio localizado em um grande campo proximo à Aldeia. Diziam que haviam pego a criatura quando tentava abrir um desenterrar uma pessoa falecida recentemente. Revoltados os familiares da pessoa quiseram matar a criatura imediatamente ao que a criatura correu em direção ao padre e se jogou aos seus pés como se implorando por misericórdia. O padre olhou com pena daquela criatura e gritou em alta voz para que todos ali nao fizessem mal aquela criatura pois ela também era uma criatura de Deus e merecia seu perdão e de todos ali. Muitos Aldeoes se mostraram contra a ideia do padre de acolher a criança-fera mas acabaram desistindo da ideia de sacrificar e permitindo que o padre ficasse com a criatura sob sua responsabilidade.

No diario o padre confessava que via ali na criatura uma situação semelhante ao que lhe havia acontecido em Roma, quando foi julgado e expulso do convivio de todos. O padre registrou no diario que acreditava que todos deviam perdoar a criatura e ajuda-la ao inves de lhe tirar a vida. A criatura entao foi acolhida pelo padre que lhe alimentava e lhe ensinava a biblia. A criatura era muito inteligente e logo aprendeu algumas palavras e já sabia ler alguma coisa. Conviveu algumas semanas na Aldeia e algumas pessoas já estavam se acostumando com a bizzara assistente do padre.

Entretanto, após algum tempo alguns tumulos começaram a ser violados e numa noite de lua cheia a criatura foi pega novamente pelos homens da aldeia no cemiterio onde havia violado um tumulo para se alimentar do cadaver do morto. Desta fez o proprio padre ficou chocado e nao teve como interceder. Novamente a criatura se jogou aos pés do padre implorando misericordia, porem o padre se afastou horrorizado. Os homens da Aldeia se adiantaram para sacrificar a criatura ao que o padre intercedeu pela ultima vez e pediu aos homens que ao inves de tirar a vida do monstro lhe permitissem partir da aldeia para nunca mais voltar, sob pena de que se retornasse fosse morta. Os homens entao ficaram dividos. Alguns concordaram afinal a criatura nao derramou sangue de ninguem. A criatura parecia compreender tudo e olhou para o padre como se agradecendo por lhe poupar a vida. Entretanto, os parentes e amigos dos mortos foram contra a ideia do padre e se adiantaram para sacrificar a criatura ao que o padre se adiantou para impedir e acabou sendo ferido gravemente. A criatura vendo o que aconteceu uivou de forma assustadora e com extrema agilidade fugiu diante dos seus inimigos mas nao antes de dilacerar o pescoço do homem que havia ferido o padre. Os homens ficaram surpresos com a força e extrema agilidade sobrenatural da criatura que rapidamente desapareceu na escuridao. Era a noite fria de 10 de Fevereiro de 1756.

O padre foi levado para a Igreja e tratado da melhor forma possivel mas seu estado era muto grave. Sem cuidados médicos adequados, foi perdendo as forças e sua vida foi chegando ao fim. No dia 2 de Março de 1756 o padre registrou pela ultima vez em seu diario um relato horripilante que dizia algo sobre o que havia acontecido na aldeia nos nas últimas semanas. No relato o padre dizia que primeiro foram os tumulos do cemiterio. Todos foram violados no espaço de poucos dias, sempre à noite. A criatura havia retornado e trouxe consigo varios semelhantes a ele, porem adultos. Os Aldeões que tentaram expulsa-los foram mortos e seus corpos levados para as montanhas, deixando um rastro de sangue pelo caminho. Alguns homens da aldeia organizaram um resgate e partiram seguindo os rastros, porem nenhum deles voltou para casa. Os homens que restaram compreenderam entao o grande perigo que a aldeia corria. Enviaram 3 homens para a distante aldeia vizinha com a missao de trazer ajuda, mas a ajuda nunca chegou. As pessoas se trancaram em casa. Algumas foram à igreja rezar e pedir ajuda ao padre que já nao tinha forças e mandou que todos rezassem e tivessem fé em Deus. Após nao haverem mais tumulos no cemiterio com corpos para serem devorados, foi a vez dos animais da aldeia. Porcos, galinhas e carneiros foram todos mortos, sempre à noite, na semana seguinte. O desespero tomou conta de todos. Alguns abandoram a aldeia em direção às aldeias mais distantes e nao se soube se conseguiram chegar ou se foram mortos pelas criaturas no caminho. Nunca mais se ouviu falar deles. Em seguida foram os homens e velhos que foram sendo mortos. Apenas mulheres e meninas eram deixadas vivas. No ultimo dia de Fevereiro houve uma carnificina e todos os homens restantes foram mortos. Apenas o padre agonizante foi poupado. O padre entao terminou seu diario narrando a macabra visita que recebeu da pequena criatura, agora um pouco mais crescida, e que lhe visitou na noite do dia 2 de março de 1756. Conversou com ele em latim perfeito e disse que nao tinha ódio dele e que havia trazido os seus semelhantes para aquele lugar que seria o lar deles e de seus descendentes a partir daquele momento. Disse que as mulheres seriam as maes de seus filhos e que surgiria entao uma nova raça. A criatura disse ao padre que ensinaria os costumes e os ensinamentos que tinha aprendido com o padre. Disse que ficaria no lugar do padre e que cuidaria de tudo para que sempre houvesse bençãos para todos ali e que ninguem mais seria expulso, como o padre havia sido de Roma e que também ninguem nunca mais iria sentir fome pois o campo sempre teria as caixas, como se referia aos caixões, com comida e roupa para todos e que aquele seria um campo abençoado. Em seguida a criatura cheirou o ambiente e sentiu que a morte do padre estava proxima ao que se despediu e deixou o padre horrorizado com as promessas que ouvira.

O padre então finalizou o diario com recomendações dizendo que as criaturas detestavam a agua e que durante o dia dormiam para atacarem sempre durante a noite. Concluiu o diario fazendo um alerta para que o leitor do diario fugisse da aldeia para o lugar mais distante possivel e que nao deixasse rastros que pudessem levar as criaturas para fora do vale.

Albert concluiu a leitura chocado. Se perguntou como poderiam escapar de uma morte terrivel. Paul ficou preocupado quando pensou em onde as criaturas se escondiam e pensou que talvez ali nao fosse um lugar seguro.

Continua...

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 14/07/2012
Reeditado em 14/07/2012
Código do texto: T3777561
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