O CAMPO DOS ABENÇOADOS - Parte Final

Albert concluiu a leitura em silencio. Paul e David se olharam assustados. Albert olhou pela janela e viu que os aldeões permaneciam do lado de fora durante todo o dia e então pensou em como as coisas haviam chegado aquele ponto. Começaram entao a conversar de que maneira poderiam sair daquele lugar maldito. Aparentemente os aldeões não entraram na Igreja, talvez por serem pagãos ou por respeito ao lugar sagrado. De qualquer forma, os 3 alpinistas nao poderiam ficar ali para sempre. Foi quando Paul sugeriu que procurassem uma passagem encondida na Igreja e que pudesse leva-los para fora dali em segurança. Albert e Paul olharam para o amigo ouvindo atentamente ao que David prosseguiu explicando que havia visto passagens secretas e tunes de fuga em várias Igrejas católicas na Europa. Como historiador David havia pesquisado inúmeras Igrejas para concluir sua tese de mestrado. Ali David tinha certeza de que também haveria um tunel ou uma saida escondida que poderiam usar para escapar. Albert e Paul ainda ficaram desanimados com a ideia de explorar aquele lugar sombrio mas na medida em que o dia avançava nao encontraram nenhuma outra alternativa. David explicou que tais passagens sempre ficavam escondidas no porão daquelas Igrejas. Por fim concordaram em realizar a busca quando já era tardinha naquele dia nublado e frio. Examinaram todos os comodos cheirando a mofo e por fim descobriram um corredor que tinha uma porta com escadas. Aquele era o caminho para o porão.

Desceram lentamente e muito apreensivos. Ao chegarem no porão encontram móveis antigos, alguns baús e artefatos da igreja catolica utilizados em missas e coisas deste tipo. viram uma estante com alguns livros muito antigos e algumas ferramentas enferrujadas numa grande mesa de madeira. Tudo sujo e esquecido pelo tempo. Examinaram todo o lugar e foi David que descobriu uma passagem estreita que conduzia a um tunel. Albert e David se animaram e entao os tres prosseguiram confiantes. Apesar de estreita a passagem conduzia a um tunel largo e longo. O grupo caminhou durante algum tempo até encontrarem uma galeria larga e que tinha outras duas passagens. Escolheram uma delas e prosseguiram, nao queriam se separar, apos mais algum tempo perceberam que deveriam estar debaixo do cemiterio que os aldeoes chamavam campo dos abençoados pois havia um cheiro de podridao no lugar alem de ossos e restos mortais encravados nas paredes. Seguiram entao mais um pouco e encontraram uma passagem em um dos lados do tunel. David entrou para vasculhar e voltou horrizado com o que viu. Ossos humanos, milhares delas, varias ossadas que eram depositadas ali havia muito tempo. No meio dos ossos, restos de roupas, botas e mochilas. Ali eram levados os alpinistas que caiam nas maos daqueles aldeoes assassinos. Proseguiram entao por mais algum tempo e ouviram alguem tossindo. Pararam para escutar melhor ao que ALbert fez sinal para ficarem em silencio. Ouviram novamente alguem tossir forte e resolveram olhar dentro de uma pequena gruta em uma das paredes do tunel.

Era uma garota da aldeia. Uma jovem vestida com uma mortalha, deitada em cima de uma rocha fria. Tossia forte e cuspia sangue. Quando os viu se virou para eles e ficou olhando eles com um olhar distante vazio. Paul se aproximou para examinar melhor a situação e notou que a garota estava muito palida e magra. Sua mortalha estava suja de sangue que tossia constantemente e provavelmente a garota tinha alguma doença respiratoria, talvez pneumonia ou tuberculose. Olhando para a garota que o fitava fixamente Paul compreendeu que a garota estava ali para morrer. QUando a garota falou algumas palavras em latim. Albert se aproximou e compreendendo o que a garota falava iniciou uma conversa. Perguntou a garota como ela tinha ido parar ali ao que a garota respondeu que era uma benção e que havia sido enviada ali pelos aldeoes para abençoar os Deuses. Albert perguntou onde estavam os pais da garota ao que ela respondeu que estavam na aldeia mas que ela estava doente e que fora escolhida para ser uma bençao como era o costume da aldeia sempre presentar os Deuses com uma benção. Albert perguntou quem eram os Deuses e a menina respondeu que eram os que caminham na escuridao da noite e traziam as bençãos para serem colocadas nas caixas e guardados no campo dos abençoados. Albert entao interrompeu dizendo que as bençãos sao as pessoas desaparecidas que eram levadas ali para serem devoradas vidas. A garota tossiu e começava a falar com dificuldade devido ao esforço mas respondeu dizendo que os Deuseus nunca devoravam ninguem vivo mas que esperavam que as pessoas se tornassem bençãos e fossem depositadas nas caixas. Por fim a menina começou a respirar com grande dificultade e entao olhou para os tres alpinistas e lhes disse para abandonarem a igreja antes do anoitecer pois era quando os Deuses acordavam. Albert compreendeu o perigo que corriam e se afastou da garota que agora já nao respondia mais e respirava com intervalos grandes.

Os tres alpinistas entao decidiram voltar para a superficie e tentar escapar durante a noite. Correram pelo tunel e acabaram errando o caminho de volta. Se aproximaram de uma tunel mais estreito e entao ouviram um grito horripilante, o grito de uma mulher. Andaram devagar se espreitando no tunel frio e encontraram uma cena macabra. Um pequeno grupo de mulheres gravidas. Uma mulher gravida em trabalho de parto aos gritos devido à dor do parto. Ao fim do tunel haviam outras mulheres gravidas mortas. Iluminando melhor Paul viu que tinham a vagina dilacerada e uma delas estava com o útero exposto. A mulher se contorcia de dor e gritava cada vez mais alto. Sua barriga tinha forma incomum. Sua pele era de um tom esverdeado e seu corpo estava deformado como se tivesse sido consumido durante a gravidez. Albert compreendeu que aquelas mulheres eram as maes da nova raça, que a criatura havia dito ao padre, há mais de 200 anos atras. Era mulheres da aldeia que haviam sido forçadas a copular com as criaturas para lhes gerarem filhos, mas a um preço que lhes custava a propria vida. Nenhuma delas iria ver o filho crescer. A mulher se contorcia de dor e começou a expelir sangue. Albert e os amigos deixaram o lugar e se afastaram rapidamente ouvindo os gritos da mulher que agora tinham intervalos menores e eram cada vez mais altos. Apos alguns minutos os gritos da mulher cessaram e eles ouviram entao um grito agudo e estridente mas que definitivamente nao era humano.

Encontraram o caminho de volta e chegaram a parte mais ampla do tunel. Passaram entao pela galeria e pegaram o tunel de acesso. Chegaram a passagem apavorados com o que viram. David disse desesperado para os amigos que nunca mais esqueceria o que viu nos subterraneos daquela igreja maldita. Ficaram por alguns minutos descansando no chao do porao. Lá fora já era noite e o vento frio se fazia ouvir. Albert olhou pela janela e nao havia uma unica pessoa na rua. Todos os aldeoes se trancaram em suas casas. Foi quando lembro que a garota morinbunda lhe disse que os Deuses acordavam durante a noite e ouviu diversos gritos e uivados vindos do tunel. Compreendeu que eram as criaturas que haviam acordado. David e Paul se levantaram rapidamente e começaram a subir as escadas. Albert sugeriu que es escondessem dentro da igreja. Encontraram um lugar debaixo do altar na igreja. Permaneceram por alguns minutos, em silencio, aguardando com desespero. Entao viram um deles entrar na sala principal da igreja. A criatura se parecia com a descricao do diario do padre porem tinha poucos pelos no corpo. Sua mandibula lembrava de um tigre de dente de sabre. Seus olhos eram vermelhos como se tivesse vindo diretamente do inferno. Suas garras tinham presas afiadas como punhais e a gritura exalava um odor putrido, um cheiro de morte. A criatura se movia com grande agilidade pelas paredes da igreja. A um instante parecia estar cheirando o ambiente. Albert e seus amigos sentiram o sangue gelar nas veias. Em seguida a criatura soltou um grito bestial ao que outras criaturas apareceram vindas do corredor que dava acesso ao porao. Ficaram ali por um tempo, agitadas, uivando e soltando gritos bestiais. Apos algum tempo outras duas criaturas trouxeram o corpo que outrora foi uma adolescente da aldeia. Era a garota morinbunda que agora estava morta. As duas criaturas colocaram o cadaver da garota em cima do altar e em seguida todas ficaram em silencio. A criatura mais alta entao proferiu uma oração em latim perfeito agradecendo pela benção que foi enviada e encerrou a oração dizendo amem ao que foi seguida por todas as outras criaturas. Em seguida as criaturas avançaram para o altar e comeram o cadaver da garota rapidamente. Cada criatura retirava um pedaço do cadaver e se afastava para um canto enquanto as outras uma a uma repetiam o ritual macabro. Já nao restava nada do corpo da garota. As criaturas estavam espalhadas pela sala, cada uma devorando seu pedaço com grande apetite. Uma das criaturas entao olhou para o altar. Os tres amigos permaneciam imóveis. As demais criaturas ficaram em silencio observando a criatura se aproximar do altar, cheirando o ar e sentindo a presença de alguem que nao lhe era semelhante. Os tres amigos permaneciam em silencio observando a morte certa se aproximar quando David se levantou rapidamente e começou a gritar ao que a criatura deu um pulo para tras assustada e soltou um grito bestial seguido pelas outras criaturas que gritavam e ficavam agitadas no teto e nas paredes da igreja. David entao procurou desvar a atenção das criaturas e correu para a porta da igreja desesperado mas foi atacado por uma, duas e outras varias criaturas que rapidamente o dilaceraram a garganta e o torax, entretanto nao o devoraram. ALbert e Paul permaneciam no esconderijo em silencio. Albert teve que tapar a boca de Paul que chorava desesperado com o que via. As criaturas ficaram mais algum tempo gritando e uivando para em seguida se dividirem em dois grupos. Um grupo levou o corpo de David para o porao. ALbert quase podia jurar que David ainda estava vivo, embora estivesse mortalmente ferido. O outro grupo, maior que o primeiro, abriu a porta da igreja, deixando o vendo gelado invadir o local. Ficaram ali uivando e grunindo para depois sairam pela noite a fora na escuridao.

Albert e Paul ficaram sozinhos e sem se mover. Albert compreendeu que deviam permanecer imoveis ali e em silencio. Pouco antes do amanhecer as criaturas voltaram uma a uma. Novamente se reuniram na sala principal. Traziam duas mulheres jovens. As mulheres eram alpinistas com certeza. Estavam chorando apavoradas e muito assustadas. Duas das criaturas fecharam a porta da igreja. ALbert contou 12 criaturas que estavam agitadas. As criaturas entao começaram a despir as mulheres que choravam e gritavam. As criaturas uivavam e babavam mostruosamente. Uma das criaturas pegou entao uma das mulheres e a colocou de quatro com um animal para em seguida a possuir violentamente. A mulher gritava de dor mas era silenciada por outras criaturas que esfregavam seus membros no rosto e na boca da mulher. A outra mulher também foi agarrada por outro ser que parecia ser um dos lideres do grupo e teve igual tratamento. Foi colocada de quatro como um animal e em seguida penetrada com força e violada seguidamente pela criatura que lambia as costas da mulher enquanto a possuia. Apos alguns minutos as criaturas deram um grito alto e largaram as mulheres que ainda estavam em transe quando foram agarradas por outras duas criaturas e levadas para o porao. As mulheres choravam muito e gritavam por socorro. As demais criaturas seguiam, aos gritos e uivos, as que levavam as mulheres condenadas.

Albert e Paul assistiram a tudo em silencio. Apos alguns momentos os gritos silenciaram e ALbert e Paul ficaram sozinhos na sala. Apos alguns minutos Albert olhou no relogio e observou que faltavam poucos minutos para o amanhecer. Aquela era a janela de tempo que ele e Paul tinham para tentar escapar. Precisavam sair dali naquele momento em que as criaturas já tinham se retirado enquanto que os Aldeoes ainda estavam dormindo. Só tinham alguns minutos para tentar a fuda desperada. Albert achou no chao um pequeno machado que acho que poderia ajudar a se defender caso fosse necessario. Pegou o machado e levou consigo.

Albert compreendeu entao a unica oportunidade que teriam pois passar outra noite naquela igreja era uma sentença de morte pois certamente seriam descobertos. Explicou entao seu plano rapidamente para Paul que estava em choque. Em seguida ALbert se levantou e rapidamente cruzou a grande sala em direção a porta. Chegando na porta abriu-a lentamente para nao fazer barulho e olhou do lado de fora. Nao havia sinal de vida na aldeia. Ninguem na rua. Fez entao sinal para Paul que se levantou e correu em direção ao amigo. Pararam na porta ao que Albert disse que deviam sair e ir para os fundos da igreja e fugir atravessando o campo e contornando a aldeia pelas colinas ao inves de tentarem sair correndo pela rua principal da aldeia o que iria chamar a atenção dos aldeoes e seria o fim de sua fuga. Paul concordou dizendo que faria qualquer coisa e só queria sair dali. Sairam entao indo para os fundos da igreja. ALbert notou que em uma das casas, alguem os observava pela janela e entao disse a Paul para apertarem o passo. Correram entao em direção ao campo dos abençoados, o maldito cemiterio daquele lugar amaldiçoado.

Cruzaram o campo observando que todas os tumulos haviam sido violados há muito tempo, nao havendo uma unica sepultura fechada. Correram sem parar e quando já estavam chegando ao fim do campo e proximos a uma floresta Albert ouviu um zumbido e o grito de Paul. Albert se virou e viu o amigo atingido nas costas por uma flecha. Ao fundo, ainda distante, havia um grupo de aldeões vindo em seu encalço. Albert colocou o amigo nas costas e correu em direção a floresta em meio a outras flechas que eram disparadas em sua direção. Correu o maximo que pode até que exausto encontrou um tronco onde deixo o amigo de lado e examinou a ferida. Paul estava ensanguentado. A flecha havia atingido o pulmao em cheio e a hemorragia era grande. Paul respirava com dificuldade e cuspia sangue. Albert tentou animar o amigo a prosseguir mas Paul sabia que nao teriam chances juntos e respondeu que pelo menos um deles iria se salvar, entendendo a mao para cumprimentar o amigo. Paul tentou encorajar o amigo dizendo lembrando que ALbert havia sido paraquedista do exercito canadense, que fora treinado para sobreviver em um clima como aquele e que poderia escapar daqueles aldeões com certa facilidade. Albert sentiu os olhos cheios de lagrimas e apertou a mao do amigo moribundo. Paul entao num ultimo esforço disse que nao queria ali e fez um pedido a Albert que apos algums segundos acenou positivamente com a cabeça. Apos alguns minutos Albert cumpriu o pedido do amigo morto e se levantou. Ouviu entao gritos dos aldeões, agora relativamente proximos. Albert rapidamente correu pela floresta gelada e subiu a colina desaparecendo nas rochas.

Albert contornou a aldeia seguindo a colina. Jà nao ouvia mais os gritos dos aldeoes que ficaram para tras. Corria mantendo o ritmo como fizera no exercito anos atras. Apos algum tempo desceu e encontrou a trilha que haviam usado para chegar até a aldeia. Subiu pela trilha com cuidado para nao ser seguido. Apos algum tempo, parou e olhou para a aldeia no vale lá embaixo e pensou nos amigos que ficaram para tras. Novamente lagrimas rolavam de seus olhos. ALbert entao prosseguiu o caminho e Cruzou o ponto onde havia a estranha escultura e viu que a passagem para fora do vale estava proxima. Apos alguns minutos encontrou o caminho para a passagem e cruzou a passagem deixando aquela parte sombria das cordilheiras do Himalaia.

Apos olhar as opções conseguiu se localizar e seguiu por uma trilha que descia e dava a um desfiladeiro por onde chegaria ao abrigo mais proximo. Calculou que conseguiria chegar em 3 dias se o tempo o ajudasse. AO menos nos dois primeiros dias o tempo esteve bom. Mas foi numa noite com tempestade que Albert finalmente alcançou o abrigo.

Ao conluir seu relato o estranho viajante se levantou para ir embora. Todos no abrigo se olhavam em silencio. O dono do abrigo se aproximou e deu ao estranho um par de botas, um casaco e uma mochila com comida e equipamentos que o ajudariam a chegar a aldeia mais proxima, localizada a uns 6 dias dali, ao que Albert agradeceu. Já estava saindo olhou para os 4 alpinistas: Norbert, Luiz, Joao e Allan. Se lembrou dos amigos mortos e os alertou que deviam deixar o lugar logo pela manha e olhando para todos os presentes disse que ninguem ali estaria seguro. Todos ficaram em silencio com excecção de um afro-americano chamado cesar entao se levantou e começou um debate dizendo que a historia era muito estranha, que ele nunca tiva ouvida nada a respeito de criaturas naquela regiao e que ele queria que o estranho explicasse como ele havia chegado sozinho aquele lugar. O estranhou entao olhou com profundo desprezo para cesar e respondeu dizendo que nao estava sozinho pois seu amigo lhe havia pedido antes de morrer para nao deixa-lo lá naquela montanha e que ele havia cumprido a promessa. Entao abriu o saco e mostrou a cabeça de Paul ao que todos ficaram aterrorizados e deram um passo atras. Em seguida ouviu-se um uivo distante em alguma das montanhas. AO que ALbert olhou para cesar e respondeu que nao precisava lhe dar mais explicacao nenhuma para em seguida desaparecer na escuridao gelada.

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 18/07/2012
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