YORK - Parte 2

York chegou à Paris numa tarde chuvosa. Estava ansioso e foi direto para o seu apartamento onde ficou sentado em sua cama observando a chuva pela janela. Entao se lembrou do conselho de sua mae. Sua mao tremia e o desejo de matar e devorar o coração do inimigo lhe incendiava a alma. Lembrou-se entao de um capitao frances que havia servido com ele durante a guerra e que havia se tornado seu amigo. Revirou suas gavetas e encontrou uma carta do amigo Jean Dominique Warnier, capitao do exercito frances que havia sido salvo por York pelo menos 2 vezes na guerra. Lembrou-se que ao se despedir dele seu amigo Jean lhe havia dito que sempre seria bem vindo em sua casa. Entao York pensou em visita-lo. Nao conhecia muito a cidade mas talvez Jean pudesse lhe ajudar a conhecer os salões de baile, boates e quem sabe encontraria uma boa moça.

York viu o endereço de Jean no verso da carta e resolveu visita-lo naquele mesmo fim de tarde. Se arrumou e partir para a casa do amigo que nao ficava longe de onde morava. Apos algum tempo York estava na casa de Jean. Foi bem recebido por Jean e seu Pai. Jean o fez se sentir em casa e o apresentou a toda a familia que era composta ainda pelo irmao mais jovem, a mae Marie e sua irmã Monique que tinha acabado de completar 18 anos de idade. Era loura, olhos verdes, jovem e linda. York notou que a moça ficou encantada em conhecer, o herói da 42 divisao de infantaria francesa, e o olhava nos olhos o tempo todo. Jean percebeu o clima e encorajou os dois a conversarem. O Pai de Jean ficou muito satisfeito em ver a filha conversando animada com um ótimo partido, heroi de guerra, oficial e, que apesar de nao ser frances, parecia um ótimo rapaz. Sem perceber York encontrou a companheira que mal havia começado a procurar.

Nas semanas seguintes York e Monique se encontraram todos os dias na casa da familia Warnier. Jean sempre recebia o amigo com muita alegria e apos conversarem um pouco sobre os tempos da guerra e sobre politica, deixava York e a irmã conversando na varanda ou na sala de estar da casa. Monique estava encantada pelo oficial ingles e logo aceitou a proposta de namoro. Começaram a passear, com a autorizacao dos pais da moça, pelos parques e jardins da bela capital francesa. Passavam as tardes juntos nos cafés, desfrutando aquele clima romantico de Paris. Aqueles foram os melhores dias da vida de York.

Após alguns meses York ficaram noivos, para felicidade de Monique e alegria dos pais e Jean. Com o tempo o amor entre os dois foi ficando mais forte e Monique mal podia esperar por York para poderem passar a tarde juntos. Os pais de Monique confiavam em York e tinham muito gosto pelo namororo da filha. Entao, numa tarde daquele outono, York levou a jovem para seu apartamento e os dois se entregaram um ao outro. Continuaram se encontrando e ficaram juntos muitas outras vezes, até que Monique descobriu que estava gravida.

Aquele foi o dia mais feliz da vida de York que ficou muito feliz e imediatamente marcou a data do casamento e falou com os pais de Monique que embora um pouco contrariados ficaram felizes por ver que o rapaz era responsavel e tinha boas intenções para com sua filha. Sendo de familia rica da Inglaterra e tendo um excelente soldo como Coronel do exercito ingles, York comprou uma grande casa em um ótimo bairro de Paris. Comprou toda a mobilia para a casa de acordo com o gosto de Monique que estava radiante com o casamento que agora estava bem proximo.

Naqueles dias York recebeu uma noticia triste. Sua mae havia falecido. York ficou arrasado e visitou, brevemente a Inglaterra, para o funeral de sua mae. Foi acompanhado por Monique e de seu irmao Jean. Monique esteve ao lado de York todo o tempo e com seu carinho e seu amor o ajudou a superar o trauma da perda de sua mae. York teve a certeza em seu coração que havia encontrado, em Monique, a mulher de sua vida. York entao deixou a mansao da familia e todas as propriedades e negocios sob responsabilidade de um primo. Em seguida, deixou a Inglaterra para nunca mais voltar. Iria viver o resto de seus dias na França com Monique. Desejava constituir uma grande familia com Monique e ter muitos filhos. Monique o havia confortado durante todo aquele periodo triste da vida de York. Retornaram a Paris e os preparativos para o casamento, compras e para a festa ajudaram York a esquecer a perda da mae. Monique e York passavam a tarde juntos no apartamento de York e aos poucos tudo voltou ao normal e York novamente se sentia feliz como nunca antes em sua vida.

Entretanto a tragédia atingiu York em cheio. Numa noite quando voltavam do teatro York e Monique foram supreendidos por Allan Bordeaux que havia sido o primeiro namorado de Monique e que nunca aceitou o fim do namoro com ela. Allan era arrogante, prepotente e abusado. Pertencia a uma familia aristocrata muito influente na politica. Allan ao ver Monique acompanhada por York, um ingles, se enfureceu e se aproximou, acompanhado por 3 homens que eram seus guarda costas. Ao ve-lo se aproximar Monique, percebendo o perigo e conhecendo o temperamento explosivo do ex-namorado, pediu a York que a levasse embora dali mas Allan foi rapido e começou uma conversa debochada para a seguir insultar a moça. York partiu para cima de Allan mas foi travado por Monique que implorou para que a levasse embora dali, ao que York concordou, preferindo evitar problemas, mas ao se virar para ir embora para casa Monique foi agredida por Allan que se enfureceu e gritou para a moça dizendo que ninguem lhe virava as costas e derrubou Monique no chão ao que York tentou reagir mas foi agarrado pelos guarda costas de Allan que o seguravam enquanto Allan começou a chutar Monique e aos gritos ofende-la até que Monique soltou um grito e começou a sangrar, revelando que os golpes haviam provocado uma hemorragia que ceifara a vida do filho ainda por nascer. York entao num acesso de fúria se libertou dos tres homens e sacando o punhal da familia, matou os tres homens como se fossem carneiros prontos para o abate. Em seguida se voltou para Allan que sacou uma pistola e mandou que York se afastasse. Mas York estava descontrolado como um animal selvagem e, em seu momento de fúria, partiu para cima de Allan que disparou a arma duas vezes atingindo mortalmente Monique que se atirou na frente de York na tentativa de protege-lo.

York entao deu um grito desesperado e abraçou Monique que já estava dando os ultimos suspiros e com a mão fez um carinho no rosto de York despedindo-se do amado dizendo que o amaria para toda a eternidade. York entao chamou-a pelo nome varias vezes e chorou como uma criança. Allan percebendo o grande erro que havia cometido, começou a se afastar dizendo que nao teve culpa de nada e que aquilo era apenas um acidente.

York se levantou com o punhal na mao esquerda e antes que Allan pudesse usar a pistola, se atirou sobre o frances e o estripou como um selvagem. Allan morreu dolorosamente poucos momentos depois. Uma multidao que observava tudo se afastou horrorizada e alguem chamou a policia que chegou alguns minutos depois e encontrou York sentado no chão acariciando o rosto de Monique morta em seus braços.

York foi levado para a delegacia e preso. A familia de Allan ao saber do ocorrido acionou todos os contatos para fazer com que York fosse condenado a morte. Mas York também tinha seus contatos e ao ser visitado por Jean pediu que este enviasse uma carta para um amigo no exercito, um marechal de muito prestigio no exercito frances e muita influencia na politica. Jean fez exatamente o que seu antigo comandante, York, havia lhe pedido.

O Marechal levou a serio o pedido de York. Lembrou-se de sua grande contribuicao para a França e alem disso considerou o fato de que York agiu em defesa da honra de sua noiva e que , no fundo, o jovem Allan Bordeaux nao era um homem correto. O Marechal acionou sua rede de contatos e telefonou para um senador e dois ministros do governo frances. Se nao fosse pela ajuda do Marechal York seria condenado a morte.

No dia do julgamento York estava calmo e sem alteração no semblante. A familia de Monique esteve presente em seu julgamento. O Juiz sentenciou York a cumprir pena servindo na legiao estrangeira por 20 anos. York ouvi a sentença em silencio. A familia Bordeaux tentou recorrer pedindo a pena de morte para York mas o Juiz informou que a decisao já havia sido tomada.

No dia seguinte York embarcou em um navio para a Argelia, onde serviria por 20 anos como soldado raso. Jean, seu amigo e irmao de Monique, o acompanhou até a hora do embarque e se despediu do amigo dizendo que sempre se lembraria dele e que se um dia retornasse a França sempre teria lugar em sua casa. York olhou para o amigo com bondade e agradeceu para em seguida subir as escadas e sumir no conves do navio.

Durante a viagem York se lembrou do diario de sua mae e resolveu abrir para ler. Percebeu entao que o diario era um registro das expedições que seu pai havia feito na Africa e que haviam diversos relatos de suas caçadas, combates com os nativos, comercio de margim e diamantes entre outras coisas. Entretanto, um relato macabro o fez lembrar da historia que seu pai havia lhe contado. O relato contava o que havia acontecido em uma expedição de seu pai a uma regiao remota da Africa e de como haviam sido atacados por uma tribo de guerreiros inimigos que quase exterminou o grupo em que seu pai e seu tio estavam. Por sorte, foram salvos por uma outra tribo de guerreiros incrivelmente fortes e ágeis que derrotaram a tribo inimiga e levaram alguns prisioneiros para sua aldeia. O que restou da expedição do pai de York foi levada para a aldeia como convidados e entao presenciaram um ritual onde o lider espiritual da tribo sacrificava os prisioneiros arrancadolhes o coração e dando aos guerreiros da tribo para devorarem. O ritual era uma antiga crença daquela tribo perdida que dizia que ao devorare o coração dos inimigos vencidos, os guerreiros da tribo se tornavam mais fortes e corajosos do que todos os inimigos conhecidos. Todos na expedição ficaram horrorizados com aquilo porem o tio de York ficou fascinado e nos dois dias seguintes procurou aprender mais com os nativos que lhe ensinaram sobre as praticas e de como fazer o ritual para se tornar um guerreiro corajoso e forte. Apos alguns dias a expedição deixou a aldeia e retornou ao caminho para casa. No caminho de volta, o tio de York matou e devorou o coração de um leopardo, assombrando toda a expedição.Alguns carregadores figuram temendo o pior. E foi durante uma pequena discussao com um guia que o tio de York o matou e tentou devorar seu coração mas foi impedido pelo pai de York que lhe disse que aquilo era uma barbaridade e que um cavalheiro ingles jamais poderia cometer tal loucura. Entretanto à noite o tio de York matou mais um membro da expedição ao que foi feito prisioneiro pelo pai de York e foi condenado a ser entregue as autoridades para julgamento pelos assassinatos praticados por ele. Entretanto o tio de York se libertou durante a noite e fugiu para a floresta desaparecendo para sempre. O pai de York retornou a Inglaterra e algum tempo depois visitou a Africa novamente e organizou uma expedição de busca para encontrar o irmao desaparecido mas a expedição não conseguiu localiza-lo. O Pai de York fez mais duas tentativas para localizar o irmao mas nao o encontrou e entao deixou a Africa para nunca mais retornar.

York terminou a leitura do livro despreocupado. Nao se tornariam um louco psicopata como seu tio havia se tornado. Afinal, havia vivido em Paris por quase tres anos e nunca teve problemas com ninguem. Entretanto, a luta e o assassinato de York o haviam feito se lembrar da sensação maravilhosa que sentia ao matar um inimigo e de como a energia e vitalidade tomavam conta de seu corpo ao devorar o coração do inimigo vencido. Sentia agora a falta daquilo tudo. Se lembrava de Monique e do filho perdido ainda no ventre da mae. Mas nao chorava mais. Apenas se sentia cada vez mais distante do homem que havia sido nos ultimos tres anos.

O navio chegou a Argelia 3 dias depois. York foi levado para o quartel da legiao estrangeira e foi designado para a 8 companhia que seria enviada para um forte no interior do pais, numa area do deserto do Saara onde as tribos árabes estavam em maior numero e muito bem organizadas, colocando em risco a quarniçao que estava responsavel por manter o forte. O comandante de companhia Michel Riberri era um oficial muito duro com seus soldados e ao saber que York, sendo ingles, havia assassinado um frances, resolveu que colocaria York no ponto mais dificil da batalha e que nao o deixaria vivo na legiao por muito tempo.

York percebeu o que o aguardava mas, para surpresa do comandante Michel e de seus suboficiais ficou calmo e sereno como uma manha de verão. O Sol forte do Saara também nao incomodava York que apenas sorriu para o comandante e lhe pergutou quando partiriam para o Saara.

Continua...

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 21/07/2012
Código do texto: T3789296
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.