ME ABRACE

Devo ser a única pessoa sã, ou melhor o único velho desse sanatório. As vezes penso estar no lugar errado, se não fosse ainda a presença dessa menina, que não me faz esquecer em nada aquela maldita data...

Setembro de 1975.

Meu nome é Pedro, era politicamente incoreto, nunca aceitei o fato de minha mãe escolher aquele porco como meu padrasto, tinha amigos, gostava das madrugadas em claro.

Lembro-me daquele dia, estavamos ao redor de uma pequena fogueira, que pouco a pouco se desmanchava dentro de uma lata, garoava forte aquela madrugada, apertávamos um baseado e, contavamos piadas, as piores possíveis, mais suficiente para caimos nas gargalhadas.

Carla, Regis e Sérgio, eram minha familia, amigos de infância, nós nunca terminamos os estudos, estudos para que? eu vivo o mundo, o mundo vive em mim.

Pedro e Sérgio foram tentar achar algum lugar aberto para comprar cervejas, fiquei com Carla. A garoa engrosara, achamos um galpão enorme, em minutos já estavamos sem roupas, trocando gemidos, o frio lá de fora ficava á 1 metro de nossos corpos, um vai e vem incansável, até o ápice, do incrivel poder do corpo humano.

Nos vestimos apressadamente, tinhamos que voltar onde estavámos, algo estranho tocou minha perna, arrepiei-me ao ouvir aquela doce voz de criança.

- Tio me dá um abraço? estou com frio.

Aquela figura em meio ao escuro, seus dois olhos miravam-me, Carla abraçava-me com medo, era uma criança, uma menina de uns 7 anos de idade, estava com um vestido branco com bastante rasgos, em seu pé havia somente um chinelo. Fui abraçá-la, desapareceu na minha frente, deve ter sido o baseado, você viu isso Carla? deve ter sido o baseado.

Pedro e Sérgio voltaram, riram muito da nossa cara, não acreditavam naquela história, nem eu mesmo acreditava naquilo que aconteceu. Passamos a noite naquele galpão. As 3 semanas seguintes foram as mais estranhas da minha vida, primeiro Carla sofreu um ataque cardíaco, depois Sérgio e, por fim, Régis. Passei a frequentar a igreja na semana seguinte, por algum motivo essas mortes foram coincidência demais, eu era o próximo. Eu via aquela menina, ela agora tinha um ursinho em mãos, desaparecia em todas es esquinas, em meus sonhos me desejava um abraço.

Fui internado nessa clínica com 27 anos de idade, 2 anos após aquele incidente do galpão, segundo minha mãe, meus surtos estavam cada vez piores, não havia nenhuma menina, estava enlouquecendo a todos.

Hoje observo a todos aqui dentro, sou o único que tenho o comportamento de uma pessoa normal, semana passada fiz meu aniversário de 60 anos, minha mãe deixou de me visitar quando eu fiz 42 anos, não sei o porquê, alguns dizem que ela morreu, não sei se é verdade, não sei a razão de eu ainda estar vivo, amaria ter morrido na semana seguinte.

Mais tarde ela vem, pedir um abraço, ela nunca falhou, faz 33 anos, não consigo ainda atender o seu único pedido, há um tempo atrás ela começou a chorar, légrimas de sangue antes de sumir.

Eduardo monteiro
Enviado por Eduardo monteiro em 26/07/2012
Reeditado em 26/07/2012
Código do texto: T3797475
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