O JOGO DO LABIRINTO - PARTE 2 - FINAL

CAPITULO TRÊS – A ESCOLHA CERTA

Ricardo arrastou-se com dificuldade em meio ao pequeno buraco iluminado por uma fraca lâmpada em seu teto. Era um espaço pequeno que não levava a lugar algum. Tratava-se apenas um mero enfeite que realçava toda a excentricidade do lugar.

Ricardo saiu de lá em agonia e antes de levantar-se no entanto, reparou um grande rolo de papel atrás da luminária. Ergueu a mão para pegá-lo, e notou que tratava-se de um mapa.

Ainda debruçado no chão, ele localizou-se.

Satisfeito e aliviado, Ricardo levantou-se e seguiu até sair no meio do corredor. Encontrou João no caminho, arrastando-se com dificuldade.

-Me ajude cara... Não sinto minha perna.

As fraturas na perna de João eram graves, e Ricardo deduziu que se este aguentasse o suficiente para sair de lá, estaria com muita sorte.

-É o seguinte amigo. Eu tenho um mapa e o premio é meu. Vou te ajudar a sair daqui e fico com a grana.

-Que se foda a grana cara. Não preciso disso. Você me ajudar será o suficiente.

Ricardo carregou João nas costas, e antes de seguir em frente passou-lhe o mapa.

-Você guia.

Ambos seguiram adiante e desembocaram diante do enorme quadrado, com a mesa no meio.

Dois de seus quatro corredores estavam fechados por uma porta. Haviam outros dois pelos quais eles deveriam seguir.

Ricardo colocou João no chão e pegou o mapa de suas mãos.

-Vamos ver o que diz aqui.

-Aqui não diz nada sobre estas entradas – disse João.

-Vamos buscar a saída.

Os dois demoraram-se por um momento até que João exclamou:

-Ali! Não vê? Está escrito Saída... É este corredor – disse apontando a localização no mapa. – Vamos embora!

Antes de seguirem, porém, o telefone ao lado da mesinha tocou.

-Vamos cara! Não aguento minhas pernas.

Ricardo ignorou o apelo de João e atendeu.

-Não sigam o mapa. Está errado.

-Mas quem está fala...

Antes que terminasse a frase, Ricardo observou Clemente do alto, sentando-se rapidamente sobre sua cadeira.

Atônito, ele voltou-se para João.

-O velho nos disse para não seguir o mapa.

-Cara, o velho quem me jogou de volta nesse buraco, e nos disse que não nos ajudaria. Vai acreditar nele por quê?

-Não sei... Acho melhor escolhermos o outro caminho.

João olhou para Ricardo e disse enfurecidamente:

-Olha irmão, eu não sei qual é a tua nesse jogo, mas a minha é matar esse velho inútil assim que sair daqui. Eu tentei desistir no começo do jogo. Os caras me colocaram para dormir e me jogaram sabe lá Deus como aqui de volta. Olhe minha perna! Isso parece ato de alguém que quer ajudar?

Ricardo franziu o cenho e consentiu. Não podia deixar de concordar com João. O que quer que o velho estivesse fazendo, certamente não seria para ajudar. Talvez nenhum deles saísse dali com vida.

-Certo cara. Temos 04 caminhos. Dois estão fechados, e dois estão abertos. Eu vou seguir o mapa, pegar meu prêmio, e depois volto pra tirar você daqui certo?

A ideia não agradou João, mas ele sabia que Ricardo não poderia perder tempo com ele até pegar o prêmio. Receoso, concordou.

-Vê se não demora cara.

-Com esse mapa em mãos? – Ricardo riu e caminhou na direção que o papel em suas mãos indicava. Assim que entrou no corredor, a porta subiu violentamente fechando-se atrás dele.

-Mas que merda???

No verso da porta, estava destacada a palavra Caminho.

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CAPITULO 4 – O JOGO É INTERROMPIDO

Clemente observava atônito os acontecimentos de sua cabine. Estava ansioso para que aquilo terminasse logo. Uma escada havia sido colocada em um lado de fora do labirinto enquanto um dos participantes estava sendo retirado de lá.

O que seria dos outros três? A única saída era sua própria entrada, que agora estava lacrada.

O telefone ao seu lado tocou.

-Sim?

-Terminou, vamos descer você.

Clemente suspirou ressabiado. Carros de polícia cercavam os muros do labirinto, e agora, um a um dos participantes eram retirados de lá.

DIA SEGUINTE –7º DISTRITIO POLÍCIAL DE PEDROSO.

-Eu já disse que não sei quem está por trás disso.

Clemente estava sentado diante da mesa do delegado Artur que agora olhava desconfiado para o escrivão.

-E porque você entrou nessa?

-Me disseram que eu iria entrar no labirinto também. Mas aí tudo mudou. Me vestiram com trajes estranhos e me mandaram ficar em uma cabine pendurada a um guindaste. Eu não podia ajudar. Disseram que me matariam se eu fizesse isso.

-E quer dizer que você apenas entrou nessa pelo dinheiro?

-Eu não preciso de dinheiro, não quero ter que ficar em minha casa o dia inteiro esperando para morrer. O que um velho como eu faria?

Arthur suspirou. Clemente não passava de mais uma vítima.

DOIS DIAS DEPOIS – HOSPITAL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA – PEDROSO

-Como se sente filha?

Cida observava Amanda deitada em seu leito no hospital. Ela fora retirada do labirinto quase sem vida, afogada em meio a uma poça de sangue e com as pernas todas feridas. Seu estado era tão degradável que tiveram de banha-la antes mesmo de a mandarem para o quarto.

Amanda ficou desacordada um dia inteiro, e agora aliviada observava o rosto de sua mãe.

-Eu escapei?

-Tiraram você de lá.

-Alguém morreu?

-Não filha. Estão todos bem. Conte-me: o que aconteceu lá?

Cida e Amanda conversaram durante algumas horas. No dia seguinte, as duas pegaram um ônibus e enfim voltaram pra casa.

QUATRO DIAS DEPOIS – BECO DA RUA QUATRO

Três da manhã.

-Vamos idiota! Onde está o dinheiro que você ia me pagar?

Dois brutamontes seguravam Ricardo pelos ombros, enquanto este recebia socos e pontapés de seu oponente.

-Eu consigo amanhã cara... o jogo foi furada... eu quase cons...

Não houve tempo para continuações. Um disparo ecoou vindo do fundo do beco, e o homem branco e alto, envolto em sua jaqueta de couro entrou no carro estacionado do outro lado da rua.

-Joguem-no na vala, na represa, no esgoto... na puta que pariu!

Dito, isso, fechou a janela de seu carro que saiu arrancando e desapareceu virando a esquina.

Os dois capangas de Sergio obedeceram e abriram a porta do furgão atirando o corpo de Ricardo em seu interior.

DUAS SEMANAS DEPOIS – SALA DE ENTREVISTAS DA RECANTO INC.

Carlos tomava uma xícara de café enquanto aguardava o resultado de seu teste. Vinte anos cumpridos dentro da jaula de animais chamada Penitenciária do Estado e mais dez de condicional. Enfim livre.

Ele tentava não pensar no jogo. Havia entrado naquela pelo dinheiro e quase perdera a vida. Recordava-se do alivio que sentiu quando seu ex- carcereiro apareceu do outro lado do muro. E depois claro, a confusão na delegacia. Porque um ex- detento era o principal suspeito de tudo? Ficou engaiolado por dois dias, até que a promotora da cidade apareceu oferecendo uma vaga de emprego. Não custava tentar. Saudoso, ele se lembrava de sua irmã mais nova, que fora brutalmente assassinada pelo vizinho a 21 anos atrás. Enfurecido, ele resolveu fazer justiça com as próprias mãos, e o resultado foi a pena que agora ele cumpria em liberdade condicional.

-Senhor Carlos?

A secretária havia voltado de algum lugar no interior do escritório com uma pasta nas mãos.

-Parabéns senhor Carlos. Está contratado.

UM MÊS DEPOIS – MANSÃO MARINA – PEDROSO

Um velho observava o por do sol da janela de sua suíte. Há um mês atrás, participou de um jogo maluco, no qual sua sorte fora colocada a prova, e ele quase perdera sua liberdade.

Os últimos raios de sol desapareciam no horizonte enquanto Clemente pensava calmamente no que faria a seguir. A poeira estava baixando e logo o caso seria arquivado. Ao menos era o que ele havia lido no jornal pela manhã.

Thiago, seu filho havia usado uma máscara, de forma que não existiam suspeitos a serem identificados.

Era uma pena, pensava ele. O labirinto não tinha saída, e tudo o que ele queria era ver aquelas pessoas morrendo, tal qual já havia feito muitas e muitas vezes.

O fato do terreno utilizado para os jogos estar localizado em uma de suas propriedades não o tornava suspeito. Já que muitas delas não eram mesmo utilizadas.

-Senhor?

A empregada batia na porta de seu quarto.

-O novo porteiro chegou.

-Estou indo Alice.

Clemente desceu com dificuldade pelas escadas. Seus 80 anos não o ajudavam mais, e o vigor que um dia ele havia sentido já o abandonara há muito tempo.

-Este é João.

Um jovem em uma cadeira de rodas observava um quadro pendurado na parede da sala. Clemente assustou-se e sentiu suas pernas tremerem. Sentou-se no sofá sentindo o ar de seus pulmões irem embora, dando lugar a uma grande falta de ar.

Alice correu em seu auxílio, mas foi interrompida por uma bala que atravessou-lhe a cabeça.

O sangue no chão formava uma poça ao redor de seu corpo, à medida que este ia ficando discretamente mais pálido.

-Senhor Clemente! Há quanto tempo! Lembra-se de mim?

Clemente tateou seu casaco em busca de sua bombinha de ar, mas havia deixado esta em seu quarto. Sentiu sua traqueia se fechar, e agora lutava desesperadamente por uma lufada de ar.

-Não se preocupe. Também tenho asma. Tome a minha.

João levantou-se da cadeira com dificuldade, e mancou em direção ao sofá aonde jazia o velho quase moribundo. Sentia os pinos forçando sua perna e fazendo-a doer, mas não deu atenção. Apoiou um de seus braços na cabeceira do sofá, enquanto que com o outro, despejava o ar da bombinha na boca de Clemente.

Este, mais aliviado, arrancou-a de suas mãos e a aplicou vorazmente, até estar completamente recuperado. Tremendo, guardou a bombinha em seu casaco e fitou João.

-O que quer aqui moleque?

-Sabe... Ninguém suspeitou de ninguém. De começo, achei que fosse o Carlos. Mas pensa bem: um cara que cumpriu pena por fazer justiça? Não... Não era ele... Aliás, não era ninguém. Achei que nem mesmo o senhor. Mas sabe o que vi antes de apagar? – João fez sinal para Clemente se levantar do sofá, apoiando a arma para seu rosto e o fazendo caminhar em direção à porta. – Vi você rindo de lá de cima. Claro que só podia ser você.

Clemente abriu um sorriso mostrando seus dentes estragados pelo tempo:

-E agora, presumo que você queira os dez mil?

João apertou a arma contra a cabeça de Clemente. Este, sentindo cano da arma ainda quente, mais uma vez apavorou-se.

-Quero você morto.

-Thiago!!!! Thiago!!!! Socorro...

João riu.

-Seu filho está morto também. Mas reservei algo melhor pra você seu cretino imundo. Me disseram que iam demolir o labirinto daqui a duas semanas. É verdade?

Clemente silenciou.

-Responda seu inútil!!!

-É... É verdade.

-Ótimo. Vamos pro carro.

João, sentindo uma grande dor em sua perna, se esforçava para caminhar à medida que mantinha a cabeça de clemente sobre a mira de seu revólver. Ele não queria que aquilo tivesse acontecido. Mas o velho não lhe deixara escolha. Tinha mexido com a pessoa errada, e agora ia pagar.

Após 20 minutos dirigindo sentido o agora gelado cano da arma em sua cabeça, Clemente estacionou ao lado do labirinto.

Este em pânico implorou a João por sua vida.

-Cale a boca seu velho. Lacraram sua casinha dos horrores? Ainda bem que me preparei antes. Suba naquela escada.

Clemente ficou parado. João disparou com a arma para o alto e bradou:

-Obedeça!!

O velho subiu com dificuldade até o topo. Seu rosto estava vermelho, e de seus olhos emanavam lágrimas de desespero. Ao chegar ao topo contemplou horrorizado o corpo de seu filho. Thiago estava morto lá dentro.

-O que você fez??

João ria eufórico.

-Relaxa coroa. Você vai também.

A arma disparou atingindo-o em seu estômago. Este caiu do lado de dentro do labirinto sobre o corpo de seu filho. Mas ao invés de chorar, ele sorriu triunfante. Seu jogo havia terminado. Alguém enfim iria morrer.

Tremendo, enfiou a mão em seu casaco, e antes que ela atingisse um objeto, Clemente deu seu último suspiro.

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CAPITULO 5 – O JOGO TERMINA

João dirigia em alta velocidade. O sangue escorria por entre os parafusos em sua pena, agora inchada e latejante. Precisava ir a um hospital.

Esforçava-se para respirar cada vez mais. Em desespero, abria a boca, e em vão sugava o ar para dentro, que teimava em não entrar em seus pulmões. Largou o volante e colocou as mãos no pescoço, como que procurando facilitar a respiração.

Sua manobra desesperada o fez colidir contra um poste, e pouco antes da barra de ferro distorcida pelo impacto da batida atravessar-lhe a têmpora, João se lamentou por ter esquecido sua bomba de ar com o velho que quase o matara.

Sua vingança estava cumprida. E enfim, o jogo também.

**É ISSO AI PESSOAL. FIZ O TEXTO NA CORRERIA... E A IDEIA FOI BEM REPENTINA... ESPERO QUE GOSTEM.

Bonilha
Enviado por Bonilha em 27/07/2012
Código do texto: T3799810
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