DEDO DURO III -

A senhora Falcannus naquele dia voltou com uma adolescente.

- Carne nova no pedaço. Esta é a Aninha a nova empregada, quero que a treine para cuidar do meu filho, você vai ficar so na cozinha.

A menina era tímida, calada. devia ser do interior. vestia-se com roupas simplórias, calçava sandálias baratas.

" Carne nova no pedaço".

Ela tremeu nas bases com tal frase. Uma palidez se desenho na sua face. As pernas ficaram bambas, trêmulas. A vontade era pular do vigésimo andar, fugir dali. O desespero ja tomava conta do seu ser.

- Meu Deus o que ela quis dizer com aquela frase tão cheia de malícia - e amedrontadora? Minha Nossa Sennhora, eles vão querer comer esta menina? Ou seria eu a próxima a ir pra panela? Eu, não eu sou a cozinheira, adoram o meu tempero...

Estava assim, em pensamento. Estática, com o olhar perdido. A menina a observava, com estranheza. Quando as duas estavam sozinhas, ela, enfim esboçou uma reação.

- Escuta, você quer fugir? Eu, eu, eu te ajudo...

- Não moça, preciso do emprego. Você ta louca? Não quero tomar a sua vaga, não... O marido dela foi me buscar. Fugir, como assim?

A sua patroa saiu do banho e ordenou:

- Faça um bife suculento, estou faminta. Anda, parece que viu passarinho verde. Você ta muito estranha.

Na cozinha, tremendo. Avaliando a carne com curiosidade e asco, Tocando-a pela ponta dos dedos. O estômago embrulhando, quase vomitando. O coração em desacelerada carreira.

- Oh, meu Deus. Eu não vou aguentar isso. Eu não vou...

As lágrimas escorriam pela sua face. Estava desequilibrada. pensava onde fôra se meter. Estava numa encrenca daquelas. A tensão era tamanha que a vontade era gritar pra patroa que ja sabia de tudo, e que iria buscar a polícia, custe o que custar. Mas, as pernas não obedeciam a sua mente. A confusão mental apoderava-se de sua mente.

- Eu posso temperar a carne, se quiser. Você ta chorando. Algum problema? Eu sei cozinhar e tenho bom tempero. Sou prendada na cozinha.

Disse a menina, de forma tímida.

- Meu deus, você sabe cozinhar, oh, meu Deus...

- Moça, sei que precisa do emprego, mas, acho que não vou ficar no seu lugar. Aqui é grande, precisa de duas cozinheiras... Nossa que desepero o seu por causa do emprego.

-Você não entende nada, não sabe o que está se passando. Nós vamos morrer... eu e voc~e e outras pessoas ja morreram.

A menina, em silêncio temperava a carne, não lhe deu ouvidos. Vez ou outra a olhava nos olhos - achava que era louca, porisso estav sendo mandada embora.

A carne foi fatiada em pedaços finos, como ela gostava. O tempero exalava-se pela rica cobertura.

- Você anda muito estranha, Emengarda. Por acaso brigou com o namorado? Foi currada? hoje em dia eles fazem,mesmo contra a vontade. Não pense que comigo é diferente. tem dia que não quero e ele me pega à força. Depois que entrou, relxo e gozo.

-Não, senhora, é que minha avó morreu.

- Não foi para o enterro?

- A senhora tava muito ocupada, o seu marido viajando, eu não tinha como.

- Huuuuummmm, uma delícia, que tempero maravilhoso você tem Emengarda... Emengarda, que delícia.

- Não fui eu...

- Fui eu senhora, ela tava nervosa, chorando. essa sua empregada não parece regular muito da cabeça.

- Pode viajar, va ver os seus parentes. Visite a sua avó no cemitério.

- Eu quero a minha demissão, senhora. A cidade grande não serve mais para mim. Era a minha avó que me sustentava.

- Pensei que lhe pagava muito bem pra precisar da aposentadoria de uma senhora idosa.

- Eu precisava, estudo. Muitas despesas...Moro bem, no centro da cidade. O aluguel é caro. os bairros periféricos estão tomando pelo tráfico, a violência impera. Não podemos sair de casa, ou deixar a casa sozinha. Ele invadem, levam tudo.

A sua senhora comia, em silêncio. Ela ficou ao seu lado, estática, quase se urinando de nervosismo.

Após visível embaraço emocional, rompeu o assim silêncio:

- Eu vou embora.

Ela saiu nervosa, tirando o avental da cintura, pegou so a bolsa, sem trocar de roupa desceu as escadas do prédio. Não queria nem usar o elevador de serviços. Quando estava na portaria do prédio, junto do portão. O porteiro a chamou:

- Emengarda, a sua patroa no interfone.

Ela ficou gelada dos pés á cabeça. O coração parecia querer sair pela boca.

- Não saia do prédio. - Disse a patroa numa voz seca, ríspida. Do outro lado da linha. Suas mãos tremiam, o porteiro chegou a pensar que se tratava de um roubo, ou coisa parecida. Era coisa comum os seus empregados saírem ás pressas, ou serem agredidos verbalmente.

- Por favor, moço abra esse portão, eu preciso ir embora, por favor..

- Sinto muito, moça. Não posso perder o meu emprego.

Disse o porteiro.

Emengarda não suportou, desmaiou.

(Fim da parte III)

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 06/08/2012
Reeditado em 13/05/2014
Código do texto: T3817372
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