Dedo Duro VI - A Volta do beco Vera Cruz

Havia de forma milagrosa encontrado o equilíbrio. Apesar do ambiente ser desfavorável. Havia em seu ser um euforia inexplicável, algo lhe inspirava para bons ares, apesar de sentir a atmosfera sombria daquela cobertura luxuosa. Porém, Uma idéia não saía de sua cabeça preocupada - " eu serei a póxima vítima."

O quarto secreto era uma câmera frigorífica, com dois freezeres para guardar algumas partes dos corpos. O cheiro de cadáver fresco era insuportável. Percebera que era raro o corpo de mulheres, a maioria era homens jovens. Nunca tinha chegado um corpo de criança. Apesar do luxo e conforto do ambiente, a presença de partes humanas esquartejadas o tornavam sombrio, aterrador. A menina, enquanto cantarolava uma canção raspava os pêlos dos corpos. Naquele dia recitou uma poesia, uma homenagem que fustigava e frágil Emengarda.

Dizia a poesia assim, com voz sinistra, arregalando os olhos. A machadinha enxarcada de sangue nas mãos.

" Cortes na carne singela

Ela era muito bela

Deve ter morrido com medo

Cortada

Vai ser cozinhada

Num delicioso tempero

Passou dias de horror

Mas agora tudo passou

Vai ser comida com gosto

Mais um dedo duro

Vai ser encontrado

La no beco Vera Cruz"

Emengarda sentia asco da jovem psicopata. Era de rosto bonito. Tinha comportamento estranho, um olhar frio. A voz soava quase inaudível quando falava.

- Vou levar o lanche do animal. Passarei alguns poucos minutos sem ouvir suas poesias macabras.

- Tenho um nome, vou usar Dorinha Estrela, que tal?

Emengarda nada disse, deu-lhe as costas e se afastou, rápida. Ficava tensa quando ela estava manipulando as facas, a machadinha. Temia ser assassinada a qualquer momento por aquela menina doente. Observava que sentia um prazer macabro quando cortava a carne dos presuntos, até cheirava-os. A visão do sangue escorrendo, das partes soltas do cadáver parecia fazê-la entrar em êxtase.

- Vai ser é comida, cedo ou mais tarde, sabia?

Disse a menina, em voz alta, quando ja se afastava.

- Talvez, não tenha tempo de fazer carreira como poetisa, e seja devorada, também, queridinha.

Rebateu, assim batendo a porta do quarto secreto, com força.

- Ola, minha linda, como vai?

- Trouxe o seu lanche.

- Oh, agradeço, mas hoje so penso em comer carne.he,he,he,he. Amanheci com sede de sangue e com desejo de mastigar uma carne tenra, macia, tem?

Emengarda travou os dentes, o estômago embrulhou. Procurava um sentido naquele gosto pela carne humana. Perguntav-se como uma família conseguira passar pelos séculos se alimentando de carne humana. Lembrara dos muitos casos de canibalismo que vira no notíciário - não foram poucos." Sentimentos primitivos que emergem das memórias do passado transformando o homem num bicho, bicho do passado." - Pensava assim.

- Você não respondeu a minha pergunta. temos uma tradição secular. Os dedos duros vão para panela.

Disse o animal enjaulado, rindo.

- Vou para a cozinha fazer a carne.

Ao cruzar com a menina, esta a interpelou:

- Tenho percebido que a carne que sobra para ser moída para os cães na chácara tem diminuído de forma considerável. Não tinham três cabeças no freezer?

- Foram moídas, tudo foi moído...

- Não vi você fazendo isso.

Voltando da cozinha, minutos depois, Emengarda dialogava com o milionário enclausurado.

- Descobri uma forma e ja estou fazendo...

- Isso, menina, gostei de você. Vai fazer o que me prometeu?

- Sim, sabe que preciso lhe ser grata.

Os vigias da rua e os porteiros notaram um fato. Cães vadios estavam invadindo o muro do beco Vera Cruz. Um achado desagradável fez o vigia vomitar e ficar em pânico. Primeiro foi um dedo humano, agora três cabeças humanas e partes diferentes do corpo de um cadáver. O vigia chamou a polícia. Ao olhar para o alto era visível o rastro de sangue de onde havia sido jogado o achado macabro. O sangue escorria pela beirada da janela. Havia um binóculo junto das cabeças e um pedaço de papel com o número da cobertura, o andar.

- Fiz como mandou. A polícia está chegando.

Disse a empregada.

- Boa menina, vou escrever um livro contando esta história macabra, vai ser um best-seller.

Foi o fim da família falcannus. A imprensa falaria muito da familia milionária que se alimentava de carne humana, num país onde a população se alimenta mal por falta de dinheiro.

Disse o sr. Falcannus ao passar algemado por Emengarda:

- DEDO DURO.

Fim

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 08/08/2012
Reeditado em 13/05/2014
Código do texto: T3820777
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