O Último Beijo XIII - O Beijo da Morte No Campo De Batalha

A lua cheia, um lindo desenho no céu estrelado. A abóboda celestial estava azulina, rica de nuvens banhadas com nuances amarelas da luz lunar. Morcegos a perder de vista bailavam em volta das torres do castelo num bailado frenético, hipnotizante.

No campo de batalha, a visão não era agradável. Feras noturnas degustavam a carne ferida de jovens que jaziam inertes ao solo. O odor de carniça era insuportável. Gemidos de dor ecoavam pelo campo.

A grama estava vermelha do sangue dos que resolveram se juntar àquele exército infeliz, e tombaram. Pereceram em busca de uma donzela que fazia um grande trabalho espiritual, de evangelização contra as Sombras. O mundo, principalmente, a europa vivia uma era negra.

Lady Bella estava na sua cama. Repousava, permanecia com os olhos vítreos de olho no campo de batalha. O sono não abraçava o seu ser.

- O meu pai está morto?-Indagou, preocupada.

- Não, poupei-o, e tive piedade dos homens da igreja. Dei um tempo para que partam e esqueçam o propósito que os trouxeram até aqui. - falou com desdém, frieza.

- A europa vive uma era das sombras. Todos os prazeres são intensamente vivenciados. O homem esqueceu-se de Deus. As guerras acontecem em todos os lugares. O poder, a riqueza, a posse. Os rituais pagãos, todos eles...

- Não quero ouvir o óbvio ululate minha amada. Não sou uma alma de Deus, o seu Deus é um, o meu é outro. Pertenço ao mal.

-Deus não abandona os filhos. Ha ainda um caminho Dlady. Renda-se à igreja, faça sua parte.

- A igreja quer o meu fim. Não o faz porque me deve favores. Faço parte de suas conquistas econômicas e de sua expansão pelo mundo. Eles não me pertubam, têm os meus favores.

-Não há o amor em seu coração. Não sei ao certo o que sente por mim.

- Todo o meu amor é direcionado para sua pessoa. É a única coisa que me faz ainda sentir que sou parte da raça humana. É um amor diferente, algo me prende á sua pessoa. Não sei como explicar.

O vampiro a abraçou, erguendo-a da cama. Saltou com a amada em seus braços pelo janelão da torre. Flutuavam no céu, sobre a floresta, tendo a lua cheia de fundo. Uma cena digna do mais belo filme de horror. Pousaram no campo de batalha.

-Veja a irracionalidade e a estupidez dos que buscam o meu fim.

Lady Bella estava horrorziada - a visão mais macabra de guerra que ja vira em sua vida. Pessoas feridas morriam à mingua, às centenas. O odor de podre insuportável. As feras soltas do calabouço devoravam as carças humanas, alguns eram comidos vivos.

- Quero ver o meu pai. pareço estar no inferno, que cenas dandescas.

- Ali, naquela cabana.

Falou o vampiro apontando. Os soldados estavam á postos em volta da mesma para protegê-la.

- Não se demore. Darei ordens para que ao meio- dia do dia seguinte as feras retornem e não vai sobrar um único homem vivo neste campo de batalha. Cortarei as suas cabeças e terão os corpos empalados á volta do meu castelo.

- Obrigado Dlady, so não entendo o por quê de so agora ter me liberado? Poderia ter evitado essa matança sem medidas.

O seu silêncio fê-la entender que não se importava com àquelas mortes. Estava ali a demonstração do seu poder das sombras. O retorno para quem ousasse levantar a mão contra o seu poder na região era a morte.

- Não quero tê-la comigo, caso não seja de vontade própria. Não quero ter uma mulher infeliz comigo. Terei a companhia das cortezãs. ja não me agrada, talvez precise de um tempo. Para um vampiro, uma mulher que o ame de verdade - isso, sim é que alimentaria a sua existência, não o sangue sorvido de suas vítimas.

- Dlady...

Disse lady Bella, abraçando-o forte, sentindo o frio do seu corpo. Beijou-o na boca. Um longo beijo, com sabor do último beijo entre os amantes. O amante das sombras e a amante da luz.

O vampiro ergueu-se no ar e galgou distância.

Lady Bella lhe dirigia o olhar até que o mesmo adentrou por uma das torres do castelo sombrio.

Estava horrorizada. Andava por entre os cadáveres e feridos. O sangue era tamanho a ponto de formar poças imensas na grama e na areia.

- PAI...

Gritava. Ao som de sua voz houve certa movimentação das tropas. O sabor dos lábios de Dlady ainda estava nos seus. Foi, sim, o último beijo, tinha a certeza, ao lançar mais uma vez o olhar para o campo de batalha e sentir o mal, a carnificina promovida contra os que buscam servir á igreja.

No castelo, Dlady sentia na sua carne, as graves consequências de um envenenamento sutil, programado - à conta gotas - realizado pela sua amada. Uma surpresa desagradável.

Gritava aos berros, sentindo pela primeira vez, em tantos séculos, dor. Uma dor atroz que carcomia o seu ser na alma. A sua pele desprendia da musculatura secular. Dlady cabanleava, por entre os móveis e paredes. Sentia o seu corpo decompor-se... a sua pele exalava-se em vapores fétidos.

- AAARRRGGHHHH... maldita, o que fez? Traiu-me, trocou-me pela igreja...trocou-me pelos desvalidos que cuida....

Dlady chegou à banheira, onde Lady Bella se banhava, e ali para confirmar a sua suspeita, pôs a ponta do dedo da mão direita na água onde a amada se banhava.

Soltou um grito dilacerante: AAAARRRRGGGGGHHHHHHHH....

O seu dedo ferveu á semelhança da carne frágil em ácido.

- Ela tramou a minha morte aos poucos, valeu-se do seu amor, e do meu para anular o efeito da água benta em meu corpo para ser uma morte lenta. Sabia que o meu amor, casado com os seus sentimentos por mim, anularia em parte a nocividade da água sagrada da igreja em meu corpo.....AAAAAARRRRRRRRGGGGG.....HHHHHHHHH...

- Senhor, eu fui conivente. A igreja e os líderes religiosos não vieram para a guerra. Foi uma missão de amor sacrifical. Trouxeram a água para o banho da santa.

Disse a criada que cuidava de sua alcova. A água foi trazida de Roma, em nome do bem, em nome da luz.

- Como pôde ter me traído...os meus criados...gente que tirei da miséria... Disse Dlady. Os criados foram aparecendo aos poucos. Obsevavam, em silêncio, alguns com visível insegurança.

- Funciona, a água benta funciona...

Observou um dos criados, enquanto, Dlady, trôpego, tentava suportar a sua dor. O seu corpo ardia como se estivesse sendo devorado pelo ardor das chamas. O rosto ja desfigurava. As mãos estavam carcomidas. As suas energias se findavam. vapores se desprendiam de sua pele, de forma acelerada deixando os ossos expostos.

Os criados foram chegando, adquiriam confiança em observar o Senhor do Mal tombar.

A lua cheia foi mais uma vez encoberta pelas nuvens cinzas. O breu desenvolveu-se na noite. Do castelo soou um pavoroso grito de horror, o último grito do Senhor das Sombras.

- Terminou...

Disse Lady Bella, virando-se na direção do castelo.

- Vamos, minha filha. É o início da era da luz. - Disse o seu pai, voz baixa, com os olhos voltados para o céu, beijando um crucifixo. As nuvens se dissiparam liberando a lua. A sua luz intensa iluminava o grupo trôpego de guerreiros da igreja. lady Bella sentia em seus lábios o sabor do ùltimo beijo.

FIM

( Para entender leia os contos subsequentes)

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 12/08/2012
Reeditado em 16/06/2013
Código do texto: T3827154
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