PLÁGIO? ALIMENTO PARA SUA CABEÇA

Escritor, 30 anos, Reinaldo estava cansado de levar “não” das editoras, seus livros nunca eram aceitos e no blog onde escrevia dificilmente alguém o visitava, quase sem esperança de um dia fazer sucesso, encontrou um site onde diversos escritores amadores publicavam seus textos, e ele postou alguns dos seus contos de terror, mas como já era de se esperar quase não foram lidos.

Ao ver os outros contos com centenas de visualizações e os seus com miseras dúzias, ou nem isso, foi lhe causando uma inveja que se alojava em seu coração e se transformava em um ódio mortal, um desejo incontrolável de escrever textos tão bons quanto os dos outros, foi então que uma ideia não tão honesta lhe passou pela cabeça, plagiar. Desse momento em diante, Reinaldo passou a copiar... dia e noite ele dedicou a fazer cópias, mudando alguns mínimos detalhes, das melhores histórias de escritores amadores que ele encontrava na internet, depois as publicou em um grosso livro de capa bem desenhada, com o seu nome embaixo. Vendeu milhares de cópia sem se preocupar com os comentários que surgiam por todos os cantos do país.

Finalmente Reinaldo teve seu talento reconhecido, como sempre desejara, sentia-se muito bem com isso, sua consciência estava neutra e ele se deliciava com a fama roubada, até que um dia... chegou a sua porta, junto com dezenas de cartas de fãs, um envelope que continha o nome de certo livro, “Alimento para sua cabeça”, por algum motivo, Reinaldo sentiu-se atraído pela ideia de ter aquele livro e o procurou em todas as livrarias e becos da internet, mas nada... até descobrir que havia um exemplar no acervo da biblioteca da sua cidade, sem pensar duas vezes correu para lá em busca do tão desejado objeto. Algo dentro de si o fazia crer que naquele livro ele encontraria uma história de sucesso e já que não existiam muitos exemplares, talvez pudesse copiá-la.

Ao chegar à biblioteca, estava tão ansioso que suas mãos suavam, correu até o atendente e com a voz sobressaltada pediu o livro que queria, o funcionário o olhou assustado e respondeu que esse título não constava nos sistemas, inconformado Reinaldo pediu para ele conferir de novo, e de novo... e mais uma vez... impaciente o atendente disse que ninguém naquela biblioteca jamais viu esse livro, e contou que de vez em quando algumas pessoas vêm atrás dele e misteriosamente desaparecem... mas isso era só mais uma lenda do local.

Reinaldo estava determinado a encontrá-lo, de algum modo ele foi destinado a ter aquela história e resolveu investigar melhor, seguindo um instinto sobrenatural caminhou pelos corredores de estantes cheias de livros até uma pequena escada que levava a uma porta onde estava escrito “restrito a funcionários”, ao atravessá-la sentiu que estava deixando para trás sua antiga vida.

A sala estava escura, mas ele podia enxergar um longo corredor estreito cercado de estantes com milhares de livros muito antigos, o ar era tão carregado de pó que Reinaldo pode sentir até mesmo o gosto do papel envelhecido, em passos lentos e receosos, que ecoavam em sua mente, ele explorava o local sombrio quando um livro lhe chamou atenção, um grande de capa grossa e vermelha tão empoeirada que parecia ser cinza. Suas mãos foram ao encontro do objeto como se não as controlassem e ele o teve... por um momento o teve... grande e pesado, com letras em relevo dourado que diziam apenas “Alimento para sua cabeça”, ao folhear suas páginas amareladas percebeu que conhecia aquelas histórias... sim ele conhecia, eram histórias familiares para o mundo inteiro, mas com outro autor, então ele entendeu.

Surpreso com a descoberta de tantos plágios que o mundo jamais teve o conhecimento, ele nem percebeu que algo se aproximava. Apenas ouviu o barulho do chão de madeira que rangia com o peso. Fitou o corredor, estava vazio, mas um cheiro putrefato fez seu nariz arder, virou seu corpo e viu a figura mais horrenda que poderia imaginar... um homem gigante, de mais ou menos três metros, ele calculou... suas pernas eram da altura de Reinaldo, suas roupas apenas panos esfarrapados, as costas curvadas pela altura do teto e o rosto oculto pelas sombras do local escuro... o corpo de Reinaldo congelou e um líquido quente escorreu por suas pernas...

Como se fosse um brinquedo o monstro o ergueu, e Reinaldo pode ver seu rosto... olhos azuis gigantes... a boca desproporcionalmente grande, dentes pontiagudos e hálito putrefato. A criatura pareceu se divertir com o medo evidente de Reinaldo, olhou o de perto, o examinando, abriu a boca que era quase seu rosto inteiro... Reinaldo ainda tentou gritar, mas sua cabeça já estava na boca do bicho que a arrancou e a mastigou lentamente, como se saboreando a textura crocante e macia da mistura de crânio e cérebro... ele adorava cabeças vazias. O corpo mole e ainda quente a criatura colocou debaixo dos braços e levou para suprir as diversas necessidades que um bicho daqueles pode ter.

Tempo depois, do lado de fora um rapaz esperava por mais de horas a namorada que entrou na biblioteca em busca de um livro... “Alimento para sua cabeça”.

Eliane Verica
Enviado por Eliane Verica em 21/08/2012
Código do texto: T3841835
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