Como Num Filme de Terror

A pele de brancura, diáfina á semelhança da luz do luar. O céu estrelado, belo era desenhando por nuvens brancas que desfilavam, levadas pelo vento. Do alto se podia ver o bairro la embaixo. As casas e sobrados com as luzes acesas. Ja era tarde, poucas pessoas nas ruas. Ouvia-se ao longe latidos de cachorros vadios, nervosos. A grande mangueira tinha as suas folhas açoitadas pelo vento de outono. Os olhos azuis feito o mar. os cabelos esvoaçantes, sedutores. Era belo, sedutor. Voz macia e pouco rouca. Estavam sentados no banquinho de madeira à beira do precipício, ali se podia ver boa parte da cidade, até o grande esgoto que corria a céu aberto. A mangueira ao lado, o vento fazendo certa melodia no capinzal. Não era muito alto, mas andava sempre bem vestido, elegante.

Longos minutos sentados no banco de madeira. Tinham colocado os nomes juntinhos no caule velho da mangueira, com um coração.

- Eu sou bem diferente, ja te disse.

Disse ele, com a voz macia de sempre.

- Ah, não acho, te acho bem certinho, bonitinho. Ja estamos namorando?

Haviam se beijado na boca fazia alguns minutos.

- Eu moro no casarão da capela.

O casarão era antigo, sombrio. Tinha sido invadido pelos sem-teto. Depois que aconteceram alguns crimes estranhos, foi abandonado.

- A polícia não sabe quem matou, fiquei muito triste. As crianças não mereciam morte tão violenta, até escrevi no meu diário. Eu as conhecia de vista, pois, a mamãe não deixava me juntar a elas para fazer amizade. Uma estudava na minha escola, no mesmo pavilhão que fica a minha sala.

Ela falou, triste, balançava as pernas, o olhar na grama verde. A sua mãe ja a havia chamado várias vezes, com insistência.

-O casarão é velho, não tem água encanada mais, energia elétrica. Está abandonado, como pode morar ali? O prédio está desgastado pelo tempo, a pintura gasta, ele é feio, muito feio. Como a sua família pode morar ali, como num filme de terror?

- Moro la sozinho, eu fugi de casa.

-Noooossaaaa...

Observou, com espanto, saltando do banco.

Não entendia, como podia morar la, sem conforto algum, sem ter quem olhasse para ele. Uma loucura, achou. Ficou desnorteada, perdida. Não entendia, como alguém da idade dele pudesse tomar tal atitude.

- Loucura, não pode, volte para sua casa.

- Não posso.

-Por quê, não?

Então, ele redarguiu assim:

- As mortes das crianças do velho casarão...

- O que quê tem?

Indagou a menina, com espanto,ainda de pé, ele permanecia sentado alhure ao espanto dela, que falava gesticulando com as mãos, braços, alterava o timbre de voz, e arregalava os lindos olhos castanhos.

- Elas tiveram uma morte semelhante aos meus irmãos, tinha duas irmãs e um irmão novinho, caçulinha. Eu os amava. Tiveram uma morte terrível, sangrenta.

- Você esta louco? Entendo que deve ter sofrido muito com isso, mas não poder fazer essa loucura, deixe que a polícia procure o assassino. Pode ser muito perigoso.

Ele nada lhe respondeu, uma lágrima escorreu pela sua face angelical. Baixou a cabeça entre os joelhos e soluçou baixinho.

- Sinto muito, meu bem. Não sei como alguém pode fazer mal contra crianças indefesas. Fico muito triste quando vejo notícias de violência contra crianças. Vou falar com o papai, ele vai te levar hoje de carro para sua casa,esqueça essa idéia maluca.

- Mais pessoas vão morrer, sei que as mortes vão continuar. E, acho que nunca terá fim.

- Sei disso, daqui que a polícia pegue o criminoso, muitas coisas ruins vão acontecer. Por quê acha que voltando ao velho casarão irá resolver alguma coisa? Ha quanto tempo está la?

- Não sei, me deu esse impulso, so isso. Ficava em casa sentindo a falta dos meus irmãos, vendo o sofrimento dos meus pais dia a dia. Então, quando dei por mim, estava ali. Pedia na rua para poder comer, e la tem alguns canos por onde jorra água potável. Emendei uns fios durante o dia e consegui luz. Aprendi essas coisas com o meu pai.

- Minha mãe disse que alguns meses atrás outras crianças foram assassinadas na cidade, mortes semelhantes.

- Sério?

Indagou ele, com os olhos saltados de espanto.

- Sim.

Então, mais uma vez o aconselho a voltar para casa,sair daquele local sinistro. Até o elogiou pela coragem, com tenra idade ir morar fugido de casa num local daquele.

- Você costuma ver o noticiário na tv?

Interrogou. A resposta dela:

- Não, prefiro a novela,mtv e ficar na internet.

- Posso te confessar uma coisa, então. Jura que guarda segredo?

- Juro.

- Não posso mais voltar para casa, os meus pais estão mortos. Os meus parentes moram longe. Ali vai ser a minha casa até quando der.

- Mas eles,também morreram no casarão? Não so morreram crianças, seus irmãos?

- Foi, sim, meus pais morreram pouco tempo depois.

Ela se calou, estava diante de uma pessoa que tinha a marca da dor em sua existência. Mas, como podia ser tão doce, tão tranquilo diante de uma existência sem sentido. E, como estava sobrevivendo -as suas roupas não demonstravam estar passando dificuldades, e a sua aparência era das melhores.

- Como os seus pais morreram, doentes, atropelados, assalto, ou foram os traficantes?

- Eles tinham um pacto comigo e o quebraram, no desespero, furioso eu os matei. Prometeram que me amavam, estavam mentindo.

- Você está brincando comigo, não parece ser uma pessoa violenta. Ah, pára com isso...

Coclusivo optemperou:

- Fariam um filho por ano para mim, menti para você, fiz tipo. Nunca amei os meus irmãos. Eles eram a minha fonte de vida. Era preciso que fosse assim para que não tivesse probemas com a sociedade, como num passado bem remoto.

-Pára com isso, você não fala sério. Está assistindo muito filme de terror.

- Eu preciso ter uma fonte de sangue para viver. Não queria mais ser errante, viver de cidade para cidade, países e continentes. Eles não queriam mais, ja que não faziam mais parte da geração do passado. Mudanças genéticas veem ocorrendo ao longo dos séculos, estão perdendo a condição de bebedores de sangue, outros vampiros estão aprendendo a amar. A maldição não continua mais com os meus pais, mas pode gerar na sua prole o amaldiçoado, eu.

Despediram-se num beijo gelado, olhares frios, uma distância programada de corpos. Ela ficou de pé, próximo do banco, observando ele se distanciar, o andar lento, displicente. O casarão abandonado podia ser visto despontando na ponta da rua, aguardando-o. " talvez, tenha voltado para ali fazer as suas vítimas".

pensava ela, enquanto entrava em sua casa, deu um último olhar para ele seguindo pelo caminho de chão. Muitas casas ja estavam com as luzes apagadas. Ja passava da meia-noite.

- Tanta besteira fala esse menino e você acredita, não é sua bobona?

Observou a sua mãe.

-Acho que ele ta ficando louco, talvez, naõ tenha suportado a morte violenta dos irmãos, minha nossa, mamãe. Tão lindinho, quando encontro um gato, é assim, sempre algo que atrapalha...

Entraram, fecharam a porta.

Alguns minutos depois...

- Mãe?

Gritou do seu quarto.

- O quê é?

-Posso ir dormir com a senhora? Estou com medo.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 18/09/2012
Reeditado em 07/11/2012
Código do texto: T3889067
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