Não Olhe Para Trás Se Estiver Em Um Cemitério

Era um dia frio, não queria estar ali, todos vestidos de negro, velórios sempre me assustavam.

Olhar para o morto dentro do caixão, dava a sensação que ele logo iria se levantar.

Mas sabia que papai não iria mais voltar para casa.

-Ele vai ir para um lugar bem melhor filha! - as palavras de mamãe não me davam conforto algum.

Sentia-me pior ainda, ao chegar naquele enterro, mamãe soltou de minha mão e jogou uma rosa em cima do caixão, antes de começarem a jogar a terra em cima.

Mas e se ele estivesse vivo? Esqueça isto, ele nunca mais ira voltar!

Mas e se ele virar um morto-vivo e vir comer a gente? A gente vai tá frito!

Esqueça tudo isso, esvazie a mente e fique quietinha por um segundo, mas mente vazia não é a casa do diabo?

Minha cabeça estava confusa e doía, não sabia o que era pior, acompanhar aquele enterro não me deixou bem.

Além do mais aquele cemitério não tinha boas energias, era sufocante, queria sair correndo.

Ao terminar o enterro, todos ficaram com expressões de dor ou choro, alguns até fingiam.

Quando estávamos no portão do cemitério, uma súbita vontade de olhar para trás e se certificar que papai não havia nos seguido tomou conta de mim.

Ao olhar não encontrei papai, estava mortinho mesmo, mas acabei encontrando outra coisa.

Um homem com um semblante muito triste estava parado de pé a fitar o chão, sua pele era muito pálida, vestia um terno negro.

Pensei que fosse alguém que estava junto com nós a velar o enterro de meu pai, mas nunca tinha o visto antes, achei que ele deveria ser alguém que estava a velar outro enterro.

Ao chegar em casa, o cansaço tomou conta de mim, recostei a cabeça no travesseiro, o cansaço venceu a luta e acabei adormecendo.

Ao dormir pesadelos era o que viera me atormentar sonhava com o enterro, com o homem a fitar o chão.

Uma hora ele olhou para mim, mas ele mexeu a cabeça tão ligeiro que pareceu que fora feito em um computador, ou tirado de algum filme.

Seu olhar transmitia tristeza, era de uma cor vermelha, mas ainda podia-se ver sua pupila negra.

Ao levantar sua mão, revelou a cabeça de papai, segurava-o pelos cabelos.

Acabei dando um grito de pavor, e acordei de meu devaneio, levantei-me e vi que ainda era dia, as nuvens tristes ficavam no céu ameaçando que iria chover.

A tarde transcorreu bem, mas o sonho não sairá de minha cabeça.

A noite chegou e com ela o medo, ao deitar-me mamãe logo veio me dar boa noite, apagou a luz e fechou a porta.

Resolvi que era melhor tentar dormir, mas algo chamou atenção, aquele homem estava ali, parado de pé a fitar o chão.

Não gritei, minha garganta pareceu ter se fechado de pavor, meus olhos se arregalaram ao ver que a figura se movia.

Aquele homem veio em minha direção, e logo ficou cara a cara comigo.

Olhou-me nos olhos e sussurrou.

-Obrigada por me deixar ficar com você, iremos ficar por muito tempo juntos.

Após dizer isto a criatura, adentrou debaixo de minha cama.

Até hoje sei que todas as noites, ele está ali.

O sinto ali, esperando que logo a morte me acolha, para que ele possa me levar para seu túmulo...

Jessica Alana
Enviado por Jessica Alana em 22/09/2012
Reeditado em 10/04/2014
Código do texto: T3895136
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.