VIAGEM MALDITA

São Paulo, 14 de dezembro de 1980.

Após de um longo tempo de suor frio, pedindo licença para ver se achava meu nome, ali no cantinho bem abaixo no número 72, Cláudio Henrique aprovado.

Nessa hora vejo Carlos, Pedro e Núbia correndo em minha direção perguntando, e aí passou? passou? passou?

Nos abraçamos, com isso ganhamos a tão sonhada viajem de cruzeiro prometida pelos nosso pais, combinamos tudo ali, e partimos para casa arrumar as coisas.

O navio era tudo diferente dos nossos sonhos, eram 7 noites com roteiro pela costa marítima da Argentina, as cervejas, a balada a noite, e ali, tudo azul, apenas a lua iluminava a grande imensidão.

Núbia já na primeira noite foi dormir com um cara que conheceu ali na balada, passamos o resto da noite contando as proezas da época da escola, as risadas o bom tempo de nossas amizades, era tudo tão perfeito, o mundo estava conspirando a nosso favor.

´´Atenção tripulantes, após o café da manhã festa na piscina´´

Foi com esse som que acordamos, pulamos da cama e subimos, logo no final da escada encontramos Núbia, toda sorridente dizendo que depois queria apresentar uns amigos do cara que estava ficando.

Estávamos na piscina quando Núbia chegou apresentando Carla, Letícia, amigas do seu ficante Eduardo.

-A noite faremos uma brincadeirinha lá na nossa cabine, vamos? Disse Letícia, com sua cara de ousada e atirada. Concordamos em ir.

Chegamos a noite na cabine 301, Núbia já estava lá com seu ficante, estavam arrumando uma mesa, com várias letras do alfabeto, pegamos umas cervejas enquanto Letícia acendia o Narguilé.

Todos demos as mãos ao redor da mesa, Eduardo o ficante de Núbia, parecia ser o líder da turma, pediu para fecharmos os olhos e repetir com eles as palavras:

´´Espíritos viemos esta noite confraternizar com vocês, que possam nos aceitar como representantes aqui no mundo dos vivos´´

Iria sair não gostava dessas brincadeiras, mas Carla me beijou e pediu para eu ficar, que era uma brincadeira saudável, aceitei ficar um pouco, Letícia fumava o Narguilé e fazias caras ousadas para Carlos.

Ficamos em silêncio, Eduardo começou o ritual.

´´Quem está ai?´´ Perguntou.

O copo mexia através das letras, formando ao final a inacreditável palavra: ´´Somos espíritos renegados, ninguém pode sair desse quartos até nós deixarmos´´

Comecei a ficar com medo dessa brincadeira, Pedro parecia o mais calmo entre nós, Carlos estava meio encantado com Letícia, pouco importava com essa brincadeira.

´´Você de blusa preta, dê-me um pouco de seu sangue´´ Advertiu a voz.

A de blusa preta era Núbia, olhou assustada para Eduardo, que a acalmou e deu uma faca para ela. Núbia chorava. Isso já era demais eu disse me levantando da mesa, Eduardo me deu um soco, caímos numa luta, nos separaram, quando eu vi Núbia já havia cortado seu dedo, deixando o sangue pingar sobre a mesa. Me acalmei e sentei.

Pedro começou a ficar assustado também, o mais estranho era o sangue de Núbia, transpassava a mesa, alguém parecia chupar aquele sangue, não havia ninguém, meu corpo tinha seguidos calafrios.

´´Atenção tripulantes estamos na nossa última noite´´

Dessa vez foi o alto falante que cortou a tensão ali sobre a mesa, nesse momento o copo havia escrito algo, não consegui ler, pois fiquei distraído com o som do alto falante.

-A brincadeira acabou, disse Eduardo. Insisti para saber a última frase do copo, mas Eduardo me interrompeu, disse que não me interessava.

Voltamos para nossa cabine, menos Núbia, ficou com aquele idiota psicopata, Pedro ficou com letícia, mas logo chegou na cabine. A noite foi longa, os pensamentos iam e viam sobre o que aconteceu nessa noite, estávamos totalmente calados, Pedro, Cláudio e eu, ouvindo o som das águas lá fora.

´´Atenção tripulantes, algum médico nesse barco, por favor compareça ao quarto 301. Atenção tripulantes, algum médico nesse barco, por favor compareça ao quarto 301´´

Pedro alertou que era o quarto que estávamos ontem, era verdade, corremos até lá. Havia muita gente na entrada, alguns seguranças e parte da tripulação tentavam retirara as pessoas falando que a situação estava segura. Sou estudante de medicina, disse em uníssono, me deixaram entrar.

Era uma cena horrível, Letícia estava com os pulsos cortados, havia muito sangue. Procurei por Núbia, Eduardo estava com os olhos vermelhos sentado num sofá.

-Cadê a Núbia desgraçado? Cadê ela?

Ele olhou-me rindo, tinha os pulsos cortados também, estava morrendo, encostou seus lábios perto dos meus ouvidos e disse:

-Saia desse navio hoje, a Núbia pulou ao mar, estava atormentada pelos espíritos, ele também nos matou, Carla também foi, os próximos serão vocês.

Voltei para o quarto, contei a Pedro o que havia acontecido, tínhamos que sair dali, era o último dia mesmo, dissemos ao capitão sobre o desaparecimento de nossa amiga também, o navio atracou em santos, as autoridades estavam lá, saíram 3 corpos de enrolados em panos brancos, nenhum era de Núbia, eram de Eduardo, Letícia e Carla. Minha mãe e meu pai, viram-me de longe vieram me abraçar, estavam preocupados com as notícias que estavam sendo feitas dessa viajem. Um último passageiro me chamou e entregou-me um papel que estava escrito:

´´Quero provar o gosto de seu sangue´´

Peguei um cortador de unhas, abri e cortei meu dedo, gotas de sangue caíam no chão e desapareceram, vi algumas pegadas aparecerem na areia em direção ao navio. Uma sombra na popa do navio parecia ser de Núbia, Pedro não via nada, estava assustado demais, Cláudio já havia ido embora com seus pais.

A sombra desaparecera, o navio estava apagado, parecia fantasma, em uma pequena janela eu via um rosto amedrontado, coberto de sangue.

-Vamos logo filho.

Já vou mãe, já vou, apertei meu dedo a última vez, deixando cair o resto de sangue que rapidamente desaparecera.

Eduardo monteiro
Enviado por Eduardo monteiro em 08/10/2012
Código do texto: T3921926
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