"Eu achei que você não iria querer ser minha amiga"

Kate estava cansada. Eram férias de verão e seus pais haviam resolvido mudar o programa que faziam todo ano, que era viajarem para a praia com os pais das amigas de Kate – que eram seus amigos -, indo para o campo.

- Vai ser bom mudar. Fazemos sempre a mesma coisa. – havia dito seu pai.

- Isso mesmo. Vamos para o campo este ano. Você e sua irmã vão adorar. – falara a mãe, dando apoio ao marido.

Kate não conseguiu convencer os pais a mudarem de ideia, e agora lá estava ela, enfurnada numa cidadezinha de 400 habitantes, que ela nem sabia pronunciar o nome. Simplesmente odiava o campo – queria estar na praia, com as amigas, conversando, rindo. Além disso, queria rever Ray, um menino com quem havia tido um romance e agora trocava e-mails e cartões.

Havia ido parar na praça local. Não havia ninguém da sua idade ali; apenas cinco crianças, sendo que uma delas, uma menininha linda, estava separada das outras, que pareciam ignora-la, já que nem olhavam para ela. Resolveu ir até a menina solitária, assim poderiam fazer companhia uma à outra.

- Oi, tudo bem? – Kate perguntou.

- Oi. – respondeu a tímida menina.

- Por que não está brincando com as outras crianças?

- Ah. Eles eram meus amigos, mas acho que não são mais. Eles nem falam comigo. – respondeu a menininha.

- Quer que eu pergunte a eles por quê? – perguntou Kate.

- Não. Não precisa. Você brinca comigo? – perguntou a menininha com olhos tão tristes e carentes que Kate nem pensou em negar.

- E como você se chama? – perguntou Kate.

- Elly. – respondeu a pequena e Kate não achou aquele nome estranho. Devia tê-lo ouvido em algum lugar.

Brincaram no parquinho – foram ao escorrega, à gangorra, ao pula-pula. Brincaram de boneca, de amarelinha, etc. brincaram até não haver mais o que fazer, pois cansadas elas não ficaram. Começaram a conversar depois.

- E por que você não está com amigos? – perguntou Elly.

- Ah! Foram todos para a praia. Minha mãe resolveu vir para o campo este ano.

- E você não vê seus amigos há quanto tempo?

- Ah, faz duas semanas já. É até estranho, porque eles iam me ligar, mas meu telefone não tocou ainda. – respondeu Kate, triste.

- Eu posso ser sua amiga se você quiser. – ofereceu-se Elly.

- É claro que eu quero! – respondeu Kate e as duas voltaram a brincar. Divertiram-se como nunca antes, até que um tumulto lhes chamou a atenção. Algumas pessoas se dirigiam na direção de onde Kate estava hospedada. Ao longe, ela conseguiu reconhecer seus amigos, Ana, Sallie, Thomas, Clair e Ray.

- Olha! São meus amigos! Devem ter vindo me fazer uma surpresa! – falou Kate feliz.

- Você vai até eles?

- Sim. Vamos lá, vou te apresentar e a gente pode tomar um chá com bolo lá em casa. – falou Kate.

- Não. Não vai. Fique, por favor. – pediu a menina, mas Kate não cedeu, e assim as duas seguiram para a casa de Kate, para se encontrarem com os amigos de Kate.

Caminharam pouco tempo, com Elly vez por outra pedindo para voltarem para a praça.

Quando chegaram à casa de Kate, tudo estava escuro. Nenhuma luz acesa, a não ser algumas luzes fracas de velas. Dentro de casa, alguém chorava e se culpava. Kate queria entrar, mas estava sem a chave. Tentou entrar pelos fundos, e foi nessa hora que sua mãe saiu de casa.

Estava toda de preto e chorava. Segurava-se no marido, pois estava sem forças.

Kate gritava pelos pais, mas eles não pareciam ouvi-la. Ela os seguiu. Acabaram parando num cemitério. Lá estavam seus amigos, as crianças da praça, os pais de seus amigos e seus pais.

- Alguém morreu. – pensou Kate, que estranhou que não tivesse sido avisada.

O cemitério era belo, apesar de pequeno, e tinha um lago de cachoeira ali perto. Kate lembrou que havia ido ao lago. Se aproximou da mãe, ao mesmo tempo que Ray.

- Sinto muito Sra. Shirley. Eu realmente gostava de Kate. – falou o rapaz.

Gostava? Como assim gostava? Kate estava aturdida e com medo. Não sabia por que ninguém se dirigia a ela. Desconfiou do pior. Saiu de perto de Ray que ainda falava com sua mãe, ao ver Elly indo para o lago. Seguiu-a.

-Você já se lembra? – perguntou a menininha.

E então Kate se lembrou. Viu a menina se afogando no lago, pois não sabia nadar e pulou para ajuda-la. Porém, por ser um lago de cachoeira, havia correnteza, sem contar a queda d’água mais adiante. Foram surpreendidas pela força da água e caíram cachoeira abaixo.

- Eu morri? E, e... Você também? – perguntou Kate.

- Sim.

- É por isso que ninguém... Por que você não me contou? – perguntou Kate, com raiva de Elly, que a enganara e manipulara.

- Porque se eu contasse você não iria querer ser minha amiga. – respondeu a menina inocentemente.

E então, de repente, Kate se lembrou de mais uma coisa. Não pularia no lago por qualquer pessoa...

- Como eu não iria querer ser sua amiga? – perguntou Kate, que acrescentou: - Minha querida irmãzinha Elly.

As duas se abraçaram e choraram. Pelo menos estavam juntas. Se deram as mãos e mergulharam no lago, seguindo com a correnteza, para as profundezas do esquecimento.

------xxx------

gente, sou nova aqui, por isso comentários são muito bem vindos!!

Camilla T
Enviado por Camilla T em 16/10/2012
Código do texto: T3936385
Classificação de conteúdo: seguro