ANA: O ESPÍRITO DA SEITA.

O ser humano é a coisa mais surpreendente que existe no mundo. Vive por aí cruzando ruas, tomando sorvete, passeando com cachorros, fazendo pequenas caridades. Todos são indivíduos insuspeitos, absolutamente insuspeitos.

Eles ainda fingem ser bons, ainda fingem ser muito, muito, mas muito bons e escondem dos outros os seus verdadeiros desejos, suas verdadeiras artimanhas.

Existem pessoas que cultivam manias e vícios pouco ou muito maléficos, existem pessoas que se esbarram em outras e, com um sorriso, as ´´vitimadas`` aceitam suas desculpas e ainda pensam ´´oh, que pessoa legal, que pessoa simpática!```

Seres humanos são estranhos e perigosos , muito perigosos e absolutamente insuspeitos, alguns se viciam em fumar, outros em beber, e eu, que não sei bem o que sou , em MATAR.

Tornou-se um hábito e algo muito fácil de fazer: investigar pessoas, descobrir suas vidas, entrar em suas vidas. Principalmente quando quem investiga parece tão inofensiva.

* * *

Saí mais uma vez para concluir e satisfazer meus desejos assassinos, macabros, obscuros e mascarados, cuidadosamente mascarados, pois assim como os outros de minha seita estou por aí a tomar sorvetes em um fim de tarde de domingo.

Minha presa, dessa vez, foi alguém que demorou um pouco mais para que eu cultivasse a sua confiança, mas como eu disse, a promessa de um quadril largo a se oferecer acaba convencendo qualquer um.

Encontrei-me com Renato. Nosso primeiro, único e último encontro.

_O que você fará comigo???? Socorrrrrrrroooooo!!!!! Pelo amor de DDDDDeeeeeeuuuuuussssss!!!!! Alguém me ouve????? Heiiiinnn????? SSSSSoooooocccooooooorrrrroooooooo!!!!!!! O que você colocou naquela bebida sua vagabunda!!!! Fale!!!! O que fará comigo? O que fará comigo???? Soccccoooooooorrrrrroooooo......

_ Está com medinho???? ( rsrsrs) Hein, Renatinho....(rsrsr) Não tenha medo, meu querido amigo....eu sou uma moça graciosa e INSUSPEITA!

* * *

Ana tinha desenvolvido uma mente assustadora, uma mente cruel, tinha prazer em causar dor, tinha muitos distúrbios, manias, medos, fobias. Não se podia acreditar como um ser tão monstruoso pode se desenvolver e tomar forma em uma mulher que aparentemente parecia tão cândida e tão exuberante. Renato, jovem apreciador de muitas noitadas, de muitas garotas, agora, quase estaria a experimentar o que ele pensava ser mais uma garota comum e ,tarde demais, percebeu que nunca mais retornaria para a vida. Os dois chegaram à casa de Renato durante a madrugada e na cama, cuidadosamente dopado, mas com os sentidos em alerta o suficientemente para sentir dor, Renato foi amordaçado . Ana fazia ameaças monstruosas ao pé do ouvido de Renato, falava baixinho e com a calma de um ser endiabrado, de um ser que deixou de ser humano há muito tempo e que também não era mais animal.

Ana era uma coisa.

* * *

_Está com medo? Calma...Calminha...que nesta festa não estou só. Existe outra comigo para me ajudar.

_ Pelo amooooooorrrrrrrrrrr de deeeeeeeeeeeeeeeeuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuus!!!!!!!!!!!!!!!!. Sooooooooooooooooooooccccccccccccccooooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrooooooooooooooo!!!!!! Peeeeeeelllllllllllooooooooo aaaammmmoooooooorrrrrrrrr de Deeeuuuussss! Eu imploro!!!!! Eu te peço! Não faça isso....O que eu fiz????? O que eu fiz a você???? Diga-me!!!! Por favor!!!!! O que eu fiz a você ??????? Deve existir alguma explicação!!!!!

* * *

Ana apenas observava os gritos desesperados de Renato e sempre o respondia com um leve sorriso, um leve sorriso acompanhado com um brilho nos olhos de satisfação. Tudo isso fazia enquanto realizava um pequeno corte em um dos pulsos de Renato que não se sabia se gritava, agora, de dor ou de pavor. Cortou o primeiro pulso que logo ela tentou sugar até a última gota de sangue. O quarto todo revestido, abafava os gritos de Renato que não via mais saída. Sabia que iria morrer. Ana, com o pequeno punhal parecia que conversava com outra pessoa. Na verdade, tudo levava a crer que ela seguia as instruções de outro ser e Renato, tomado por tanta dor, ainda conseguia perceber que Ana não só conversava, mas também gesticulava. Ana realmente não estava sozinha. Isso era fato. Mas quem estava com ela??? Alí, aparentemente só estavam Renato e Ana, ninguém mais!!!

* * *

_ É preciso ter coragem para morrer. É preciso ter coragem para viver também! O ser humano precisa aprender que existem deuses nessa terra que enviam seus anjos para refreá-los. Eu sou seu anjo, meu querido Renato, eu sou seu bom e amigo anjo. Dizia Ana a Renato.

* * *

Ana começou a cuidadosamente retirar a pele do rosto de Renato. Começou pelo início da testa retirando com esmero enquanto ostentava um sorriso macabro e olhos brilhantes, enquanto conversava com outra pessoa. E Renato, gritando, implorando e quase sem forças por causa da terrível dor já não lutava como antes, estava sendo vencido... Ana retira toda a pele do rosto de Renato, depois, retira os lábios, conseguindo assim, abrir uma grande cavidade e deixando as gengivas e dentes totalmente amostras. Renato não esboça mais forças. Até que um grito se ouve, um grito desesperado.

_Renaaaaaaaaaaaatttttttttttttoooooooooooo!!!! Meuuuuuuuuuuu filho!!!!! O que aconteceu ???? O que houve?????

Choros e gritos de lamento são ouvidos da mãe de Renato. Ela o vê com o corpo completamente banhado de sangue e com um rosto totalmente desfigurado. Agora, já quase desfalecido nos braços de sua mãe tenta dizer com grande dificuldade algumas palavras. Sua mãe, totalmente desesperada procura explicações para aquele ato tão animalesco, tão desumano. Ela o pega entre os braços e lamuria-se, faz súplicas aos Céus e tenta saber o motivo. Com voz quase inaudível, arrastada e trêmula, Renato profere poucas palavras.

_Ma...mãe..., A..na es..teve a..qui.

Sua mãe vê um livro ali no canto que ensinava alguns rituais macabros e também métodos para se conseguir riquezas e que seus adeptos, se contrariassem alguns de seus ensinamentos, estariam condenados a uma terrível morte e tortura. O espírito-líder do grupo seria enviado para o feito. Seria incorporado no chefe do grupo e, este possuído, conduziria o ato macabro.

O que Renato havia feito para ter recebido esta condenação??? Agora não mais importava.

O que sei é que enquanto a mãe de Renato o segurava em meio a prantos ensurdecedores eu vi uma leve sombra a me rodear e sair de mim, enquanto me mantinha escondida no porão...

Eliane Vale
Enviado por Eliane Vale em 20/10/2012
Reeditado em 23/10/2012
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