quando os reparos são necessários
Compramos a casa dos sonhos, Sandra queria uma casa falou isso no dia em que casamos. Mas há dezesseis anos, quando Luana nasceu vivíamos em um caixote em São Paulo, amontoados em um apartamento micro, que apenas tinha a localização, um cofre cheio de tranca segurança, câmeras e muito, muito pequeno.

A casa, estilo colonial, ficava em uma colina, pintada de branco, quem via lá da estrada pensava logo que era uma igreja, uma casa encantadora do lado de fora, mas por dentro  estava mofada, velha e caindo os pedaços, ficava em um bairro afastada do centro, além disso na rua, lá em baixo que dava acesso escadaria da casa, ficava o velho cemitério da rua Olegário, com suas cruzes grandes e macabras, a visão do cemitério era tão ampla lá de cima, que ficar em pé na varanda a noite seria um espetáculo de terror olhando todos aqueles túmulos. Quando era criança sempre dava um frio na barriga ao passar por ali. Criança sempre escuta boatos sobre gente morta andando.
A ideia de comprararrow-10x10.png a casa foi de Sandra, com a vinda da companhia de petróleo, as moradias na cidade estavam muito caras, ou nem havia disponibilidade, aquela casa era praticamente a única opção, depois que comprássemos a casa era só subir um muro de dois metros que a visão do cemitério desapareceria, o arquiteto que ela contratou mostrou o projeto, mesmo com um receio pelos problemas enfrentados em São Paulo pelo nosso  filho caçula, Lucas, resolvi ceder. Seria apenas um ano com aquela visão macabra, e o medo que meu filho voltasse a ver mortos.
 O problema de Lucas ver mortos, Sandra depois da morte de Daniel ficou seca sobre o assunto falava pouco, disse que isso poderia acontecer por algum tempo, já que os irmãos eram muito ligados, a perda poderia ter levado Lucas a um trauma, o psiquiatra infantil havia medicado Lucas, questionei sobre o problema das visões, e de mudarmos para uma casa que fica na frente de um cemitério, o psiquiatra um homem metido e que usava uma barba bem feita, falou que aquilo era fetiche meu, pois mortos não falam, que era apenas uma alucinação momentânea. Sobre o cemitério, o psiquiatra falou que mortos havia em todo lugar, e que Lucas via apenas Daniel, vencido por Sandra, e o psiquiatra, saímos de São Paulo.
A nossa família, até dois anos atrás tinha uma rotina alucinante em São Paulo, com uma filha adolescente e um  filho pequeno de sete anos. Havia muitos motivos para minha família votar para mudar, o ambiente em São Paulo estava ficando ruim para as crianças, a violência, uma competitividade desumana, no sentido profissional, na USP, além da morte do irmão gêmeo de Lucas de leucemia há um ano atrás.
 O meu emprego, nesta cidade era mais modesto, vim implantar o departamento de física na faculdade de engenharia química e de petróleo, já que a cidade era um polo petrolífero litoral, a sua frente duas plataformas, em baixo d’água, como em muitas regiões do Brasil, muito petróleo e muito dinheiro, o que atraiu várias pessoas para a cidade deixando a moradia cara, compramos a casa por um preço muito bom, o que deixou Sandra radiante, era a primeira vez que via minha mulher feliz desde a morte de Daniel.
Não posso dizer que fomos surpreendidos com a morte, Daniel desde o nascimento teve problemas de saúde, infecções, cirurgias cardíacas, depois de certo tempo um psiquiatra infantil fez o diagnostico de autismo, o que sempre duvidei.
Os gêmeos bivitelino, tão diferentes, às vezes o destino marca os gêmeos com diferenças marcantes, porém muito ligados psicologicamente, apesar de que Daniel foi extremamente doente, teve mais de cinquenta internações. Convivia com irmão de um forma diferente, com as outras pessoas era calado, praticamente só falava com o irmão, passou a ir a psiquiatras, psicólogos, pediatras, neurologistas, até que chegaram a conclusão sobre o autismo, sabe tem hora que acho que os médicos estão mais perdidos que nós que somos leigos. A vida não ensina essa lição, nunca aprendemos, perder um filho é uma dor surrealista, manda você para um mundo onde a realidade é a dor, em que nada importa, se a sorte, o acaso ou até mesmo Deus, para os que acreditam, não intervir, a família se desintegra completamente.
Sandra foi uma premiada escritora de livros infantis, vivia viajando, depois da morte de Daniel, começou a sentir uma culpa, ficou deprimida e perdeu completamente a fé, a mudança para casa foi uma forma de salvar minha mulher da morte, do suicídio.
-Essa casa é horrível – disse a minha filha mais velha Luana – Fede a morte, merda de morcego, tem gatos e ratos por todos os lugares, olha a altura desse teto? Acho que vou ter um monte de doença respiratória aqui.
Luana sempre foi a parte equilibrada da família, conectada no mundo atual, queria estudar direito, tinha uma veia para o ministério público, acusadora profissional, tinha habilidade com as palavras, sofreu com a morte do irmão, logo se recuperou.
-Tem piscina – Gritou Lucas do quintal.
Luana correu para o quintal e eu acompanhei sorrindo, a piscina era uma surpresa, estava em péssimo estado de conservação, daríamos um jeito, já estava no projeto do arquiteto. A piscina não foi uma surpresa tão boa assim, digamos péssimo estado, seria um elogio, estava coberta de lodo, fedia muito, um cachorro boiava morto o fedor era tão insuportável que voltamos para o interior da casa todos de nariz tapados.
-Chama isso de piscina? Isso é um bueiro, fede a merda –  Luana falou entrando na casa fazendo uma cara de nojo – Como vamos fazer para não morrer de tétano ou qualquer outra infecção, tem um cachorro morto na nossa piscina? Jesus Maria José, foi para morar nesse lugar que saímos de São Paulo, eu prefiro poluição e violência a cachorro morto e casa mofada, com cara de mal assombrada, em dois minutos estaremos contaminados, sufocados e mortos.
-Não exagera – disse Lucas – Até que a casa é legal.
-Precisa de uma reforma, um arquiteto já foi contratado, onde está a mãe de vocês. – Disse procurando Sandra, quando ficava sozinho com meus filhos ficava um pouco desamparado.
Não achei minha mulher em lugar nenhum, procurei novamente desta vez gritando, até que ouvi perto da lixeira ela falando em uma voz que parecia que vinha do chão.
-Aqui em baixo. –Ela estava no porão, casas brasileiras não costuma ter porão, a casa foi construída na época do império, seu pé direito era alto, quase dois metros e havia um porão, a maior parte da construção, o assoalho e o teto eram de madeira, que faziam um barulho enorme, o que é pior à noite, quando a dilatação do material provocava estalos, é um barulho sobrenatural.
-O que tem ai? – Perguntei sem descer.
-Não vai acreditar! Um quarto de menina, completo com cama penteadeira e um banheiro. Sabe o que impressiona, está preservado, totalmente, tudo do século passado. Cruz credo, está tudo tão limpo, dez vezes mais limpo que o resto da casa, olha esses perfumes, os lençóis de seda, o que aconteceu aqui não foi bom.
A minha mulher tinha mudado muito fisicamente, mas continuava  uma mulher atraente, magra e baixa, perdeu peso quando ficou depressiva, depois da morte de Daniel, o que realçou a sua face com traços desenhados, queixo fino, covas na bochecha quando sorria, lábios grandes, cabelos castanhos, usava sempre calça ou bermuda, nunca estava de vestidos, parecia ficar mais livre assim. Estava sentada na cama olhando uma fotografia de duas pessoas e uma menininha no colo, tão pequena dois anos, talvez três.
-Devem ser os pais dela – ela olhou para o lugar e disse- não é feio, mas por que fazer aqui em baixo? Por que fazer um quarto de boneca, maravilhoso, que toda criança sonha, bem aqui embaixo, no porão. – Ela olhou em volta quando contornou a cama, tropeçou em alguma coisa – São correntes?
-Talvez fosse um cativeiro? –Falei pegando as correntes, um arrepio passou pelas minhas costas –Temos que ligar para a polícia.
-Essa casa está fechada há dez anos, acho que a polícia já deve saber desse quarto. – Ligamos para polícia, depois de uma espera o delegado atendeu, disse não saber de nenhum sumiço na cidade era novo ali, perguntou ao escrivão, que disse que a casa estava fechada há dez  anos e tinha fama de assombrada, nunca morou nenhuma menina lá, nem havia nos registros atuais menina sumida, ele ia procurar nos antigos mas levava tempo, e que poderiam mandar um investigador no local. Disse que os últimos moradores foram dois idosos que morreram de “velhice” há dez anos, eram católicos e simpáticos.
O investigador ao ir embora disse que achava que era estranho, mas ser estranho não era crime, veja o Neimar, o gordo investigador riu da sua piada e foi embora.
Sandra não riu do investigador, fez uma cara de: “bom nós tentamos”.
-Vamos acabar com tudo isso, quero fazer o meu escritório aqui, acabei de ter uma ideia para um livro. Você sabe que não acredito em espíritos, nada dessas coisas, mas isso aqui é demais, me dá arrepios, tenho mais uma coisa para passar para o arquiteto.
Já passava das quatro horas quando o caminhão deixou a mudança.
A noite estava fria, eu sabia que precisava me acostumar a dormir em espaços abertos, os quartos eram enormes e altos, o que dava uma sensação de abandono, às dez e meia todos foram dormir, o mais cansado era Lucas, fui fechar a porta da frente quando bateram na porta.
Abri, era uma jovem que aparentava dez anos com uma cesta de doces e um sorriso nos lábios, usava um vestido preto e seus olhos pareciam inexpressivo, a pele do rosto era branca e pálida, seus cabelos negros, lisos desciam até a cintura.
-Vim trazer doces de boas vindas.
-Que gentileza, mora por aqui, eu achei que nossa casa fosse a única da rua.
-Duas quadras abaixo.
-Como é seu nome?
-Karina.
De dentro do quarto, Sandra gritou.
-Quem é?
Virei para ela segurando a sexta de doces, para dizer que tínhamos visitas, mas quando voltei a minha cabeça para a porta Karina não estava mais lá.
Fui à varanda, o vento era forte lá fora, a visão do cemitério lá em baixo medonha com suas cruzes e seus túmulos, pareceu um vulto entrando no cemitério, poderia ser Karina, mas o que uma menina faria no cemitério?
-Que estranho. – Peguei um dos doces e comi, era brigadeiro, um dos meus preferidos, fui até o quarto dos meus filhos para dizer boa noite, mas Lucas não estava lá.
-Luana, cadê o Lucas?
-Eu que sei onde esse moleque se envia? Estava falando sozinho de novo, peguei e me cobri até a cabeça, morrendo de medo. Quero dormir, amanhã tenho que ir para essa escola horrorosa que você me arrumou, cheia de caipiras que não sabe nem o que é o facebook.
Procurei Lucas, eu estava preocupado, as visões voltaram, mas não queria acordar Sandra que já estava dormindo. Rodei a casa toda, ouvi uns estalos da madeira. Cacete, será que esse menino foi para o porão, estava morrendo de medo de ir ao porão, tomei coragem e fui procurar no porão, estava com muito medo, lá a luz ainda não funcionava, tinha que descer com um lanterna fraca, desci o primeiro degrau, bem no segundo pisei em falso e cai, rolei pela escuridão com a lanterna escapando da minha mão e caindo longe, com o impacto quebrou a lâmpada, fiquei no escuro total, um corte na cabeça e o pé torcido.
-Lucas – chamei – Lucas se está me ouvindo saia daí e venha para perto da escada. -Aquela deveria ser a sensação de um sego, de desamparo total, uma mão fria tocou o meu ombro e virei, um velho sorria, gritei socorro, depois tentei subir a escada, cai olhei para onde imaginava que estava o velho e não vi nada.
Meus olhos começavam a se acostumar com a escuridão, na cama, sentados um de frente para o outro, Lucas e Karina, conversando despreocupadamente. Enquanto eu, desesperado com aquela imagem gritei o nome de Lucas.
-Que foi pai? Parece doido, vai acordar todo mundo.
-O que esta menina está fazendo aqui em casa?
-Ela mora aqui. – Foi ai que notei as correntes no pé dela.
Olhei para a menina seu rosto, era o mesmo rosto porem, ela tinha envelhecido, seus cabelos estavam queimados e a sua roupa não era a mesma, usava um vestido branco de renda puído. Peguei na mão de Lucas, fui subindo a escada tropeçando, ele falava “pai espera, vou te explicar”, mas eu não ouvia, estava com medo.
Coloquei Lucas na cama e disse para não falar aquilo para ninguém, conversaria com Sandra depois. Ele me disse que a menina estava em cativeiro, os velhos haviam mantido Karina em cativeiro por toda a vida, foi sequestrada aos três anos ha quase trinta anos atrás, foi Daniel que falou, ele disse que precisamos retirar os ossos dela e levar para um túmulo, ela precisa de um funeral, e dizer para a mãe dela que agora ela está em paz, a mãe é uma velhinha surda e muda que vive na rua quinze.
-Tudo isso Daniel que te disse?
-Não, uma parte foi ela.
-Vai dormir, amanhã vou levar você no médico. – Ou um padre, eu pensei fechando a porta.
Pela manhã falei com Sandra.
-Sandra, você escutou algum barulho ontem?
-Dormi igual a uma pedra.
-Quero falar um assunto sério com você, mas não quero que você faça nenhuma piada?
-É sobre espíritos, você e sua mãe acreditam em espíritos, para onde foi Daniel, para o céu, para o purgatório, não me interessa, a única coisa que me interessa é que ele não está aqui. Então não quero ouvir, sabe que acredito apenas no que vejo.
-Não me diga que você viu algum espírito ontem a noite - ela falou.

-Um não, três.
-Você não gostou da casa, está arrumando um jeito de vender a casa – disse andando – não quero vender a casa, não existem espíritos, você devia tomar a mesma medicação com o Lucas. – Só então ela percebeu o esparadrapo na minha testa. – O que é isso, já está se barbeando na testa?
-Ontem à noite, vi uma menina chamada Karina, conversando com Lucas. Havia a velha e o velho no porão, ela estava acorrentada. – Sandra balançava a cabeça negativamente, enquanto eu contava me atropelando com as palavras.
-Você está usando drogas? – ela se aproximou de mim para olhar as minhas pálpebras – Se está, conta logo que te levo para um tratamento.
-Sandra, você não acredita?
-Você acredita, Lênin?
Pensei bem e abaixei a cabeça, ela tinha razão, poderia ter sido um sonho.
-Você lembra o que o psiquiatra infantil falou, ele vai continuar falando com o irmão, não é fácil para ele entender a morte – ela passou manteiga no pão –vamos reformar a casa e transformar esse lugar num lar, é perfeito só falta uma reforma. O resto você deve ter sonhado.
-Não sei se quero morar aqui, você não escuta os estalos à noite e esse cemitério ai na frente?
-São vizinho quietos, depois da construção do muro nem vamos ver o cemitério. –Ela me entregou o pão com manteiga e disse: – Você agora tem que se controlar, vou a cidade, você fica com os meninos, tenho que acertar com os homens para a reforma da casa.
O dia passou devagar e monótono, retirei Lucas mais uma vez do quarto, Luana chegou e se trancou no quarto, ficando quase o tempo todo no computador, eu resolvi pesquisar a casa e o nome Karina.
Lucas entrou no meu quarto e disse:
-A mamãe não acreditou não é?
-Não acreditou, talvez foi um sonho ruim, filho.
-Ela precisa de ajuda pai, é por isso que Daniel está aqui.
-Vai brincar, estou vendo algumas coisas de adulto.
Lucas saiu desolado, estava começando a acreditar no meu filho.
Pesquisei muito, mas parece que os registros eram anteriores a era internet, liguei para o dono anterior, ele disse que não sabia do porão, liguei para o corretor de imóveis, ele não sabia de nada, apenas que durante quarenta anos morou naquela casa um casal sem filhos.
À noite Sandra chegou e me falou das novidades e disse que a cidade era uma bosta e não tinha nada que prestasse, nem uma loja de departamento, nem mesmo achou uma mesa de centro que queria para a sala, fez o jantar, perguntou onde estava Luana.
-No computador, como sempre.
-Lucas?
-No quarto dele.
-Não está não, acabei de vim de lá. Corri fui ao porão, não achei. Abri a porta da rua, ele estava de mãos dadas com Karina entrando no cemitério.
-Lucas não. –Gritei, mas ele não me ouviu.
Corri para alcançar ele, passaram por uma passagem que só passaria uma criança feita no muro, tentei entrar pelo portão da frente, não consegui, dei a volta pulei pela cerca e cai em cima de uma poça de lama, corri até a frente do cemitério e segui o passo dos dois, quando encontrei Lucas, estava de frente para um túmulo, o nome Karina Martins, o túmulo era simbólico, na lápide dizia que para infelicidade da família o corpo não havia sido encontrado.
-Ela é amiga do Daniel pai, disse que os ossos dela não estão aqui, por isso não tem paz, viveu no cativeiro por anos, depois foi enterrada na nossa casa, dentro do porão. O pai dela já morreu mais a mãe é uma senhora bem velhinha, surda e muda, que vive na rua quinze, ela disse que a mãe ficaria muito feliz em fazer um funeral religioso. Tem outra coisa pai, um senhor negro de oitenta e cinco anos, que vive na zona rural, ele cumpriu vinte e três anos de cadeia, pelo sequestro e morte de Karina, ele apanhou até confessar, vive com a neta, ele está cego, não fala mais, todos precisam saber que não foi ele.
-Vamos embora, amanhã levo você no psiquiatra.
-Eles ainda estão lá – disse Lucas.
-Eles quem? – estava começando a ficar com medo de Lucas e da sua estória, mas tinha que me controlar, eu era o adulto.
-Os velhos que mantiveram Karina no cativeiro até ela morrer, eles vivem na nossa casa e vigiam os ossos dela. Ainda está no cativeiro.
-Isso é besteira.
Quando cheguei em casa Sandra estava na porta com cara de poucos amigos.
- O que vocês estavam fazendo no cemitério vão acabar presos. O que é isso em você, está todo sujo de lama? Estavam brincando no cemitério? Me poupem!
Não contei a história toda a Sandra, ela não acreditaria, depois só falei sobre ter encontrado Lucas no cemitério e que queria levar Lucas ao psiquiatra novamente, aumentar os seus remédios.
Ela concordou, afinal era uma forma de sair daquela cidade e voltar para São Paulo, para comprar umas coisas.
A meia noite ouvi o primeiro barulho que me acordou, fui até a cozinha, não encontrei nada, novamente choro de menina, Lucas dormia, Luana estava agarrada com seu urso de pelúcia e dormia profundamente, quando fechei o quarto de Luana, vi a aparição mais assustadora, uma velha usando trapos e sem dentes bem perto de mim cuspia as palavras.
-Ela é nossa.
A vida é estranha, fiquei paralisado pelo medo, teria que ter gritado por Sandra, mas o único nome que saiu foi –Lucas me ajuda.
-Meu filho caçula apareceu, a velha sumiu imediatamente. Do lado dele pude sentir a forte presença de Daniel.
-Temos que retirar os ossos dela daqui hoje, pai –disse Lucas.
-Daniel está com você?
-Bem do meu lado, ele vai ajudar, enquanto ele estiver aqui, nem o velho nem a velha se aproximam.
Chamei a polícia, o delegado parecia impaciente, mas quando falamos dos ossos ele resolveu aparecer e tudo foi esclarecido.
O senhor recebeu a polícia e o pedido de desculpas do estado, mas foi a neta que ouviu, talvez haveria uma indenização, quando chegamos a casa dele a neta contou que ele tinha morrido e que havia chamado por ela na hora da morte para dizer.
-Estou feliz agora, a mãe dela sabe que não foi eu. – Morreu em seguida.
A tarde eu, Lucas, Sandra e Luana, paramos em frente a casa da velhinha da rua quinze, dona Maria Mendes, cuja filha Karina Mendes tinha sumido a quase quarenta anos.
Chorei no funeral da menina, mas Lucas, ele conversava com alguém e sorria.
 
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 21/10/2012
Reeditado em 17/10/2020
Código do texto: T3944984
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