O Ritual

Ela se debatia, tentando se soltar, mas seus esforços eram em vão. Apesar de ser forte e saber se defender, eram quatro pares de mãos a segurando. Fora surpreendida às onze da noite, quando estava indo para seu curo semanal. Sabia que era perigoso fazer um curso em tal horário, mas ela tinha o que precisava para se defender. Porém, justamente quando se distraíra, seguraram-lhe o braço e taparam-lhe a boca. Com um soco apagaram-lhe e, quando acordou, estava sendo carregada para dentro de um galpão.

- Trouxeram a encomenda? – perguntou um quinto homem, que acabara de chegar. Ele trajava uma manta com capuz, de seda, pretos. Tinha, na barra, detalhes bordados em dourado, que lembravam símbolos astecas ou celtas – ela não sabia dizer com certeza.

- Como você pediu Helgar. – falou um sujeito franzino, de voz rouca, que a soltou e foi buscar uns pacotes. Nos pacotes havia vestes iguais às de Helgar, porém mais simples – sem os detalhes dourados –, que o homem franzino distribuiu para os três que faltavam, enquanto vestia a sua própria.

Susana, que tinha a boca amordaçada, só pensava em como iria escapar – se pelo menos pudesse alcançar seu bolso.

- Vamos leva-la. – Helgar falou e os homens começaram a carrega-la para os fundos do galpão, onde havia um cemitério. Susana continuava tentando se soltar, até que eles a jogaram perto da lápide de uma mulher, onde ela caiu. Um dos homens, a mando de Helgar, jogou-lhe uma manta branca e ordenou que ela vestisse.

- Susana Henrico Dantes. Sabia que há um mês que escolhemos você para ser a convidada de honra da nossa festinha? – Helgar perguntou e riu, e os outros quatro o acompanharam. Susana nada podia fazer, mas aproveitou que havia conseguido soltar as mãos para pegar o que estava em seu bolso, sem que eles percebessem.

- Virgem de vinte anos, família distante, pouco conhecida, reclusa. Como manda o ritual. – falou um dos sujeitos. Helgar olhou para ele e concordou, ordenando-lhe em seguida que a colocasse sobre a lápide.

Enquanto a colocavam ali, o homem franzino dispunha velas vermelhas, brancas e negras em castiçais que estavam em volta da lápide, na qual a colocaram. Quando a arrumação estava pronta, Helgar voltou a falar.

- Espíritos celtas, invoco-lhes em nome de Elena Jader. – nome que estava na lápide. Ele se calou e quando voltou a falar, não era possível entender o que dizia. Foi então que o céu se pôs a trovejar e o corpo de Susana foi erguido no ar. – Imploro-lhes que nos sejam dados os anos que ainda restam desta jovem, que vos oferecemos em sacrifício. – Helgar falou novamente. Mas ele acabou se assustando com o que viu. Sangue escorria do corpo da jovem, como chuva, tornando sua veste escarlate. Susana estava diferente, com feições diferentes, como se estivesse possuída por um espírito diferente do que eles esperavam.

- Quem lhes deu o direito de realizar rituais pagãos em nome desta morta? – perguntou, com voz sobrenatural, que ecoava em suas mentes. Ela estava segurando algo muito parecido com uma varinha. – RESPONDAM! – gritou.

- E... El... ena... – tentou falar Helgar, mas o feitiço que ela havia jogado o impedia de falar.

- Vocês mexeram com a pessoa errada; além de estarem fazendo rituais que estão além do entendimento de vocês, em nome de uma morta que leram numa lápide, que era famosa pela prática de bruxaria. – falou, revoltada. Sangue escorria de sua boca enquanto falava.

- Espere aí... – falou o homem franzino, para o próprio azar. Com força brutal Susana arrancou-lhe o coração com a mão, ao avançar em cima do homem, que caiu morto.

Tudo ficou gelado de repente e uma neblina negra os envolveu. Então, com um sopro, Susana sugou-lhes a vida que restava, de cada um, fazendo-os se desintegrarem no ar, como poeira.

Susana sorriu, satisfeita, pois viveria ainda por longos anos. Mais ao longe, um homem a observava.

- Timoty Jader. – ela falou, ao chegar perto dele.

- Como foi minha querida Elena? – ele perguntou a Susana.

- Foi muito fácil. Aqueles idiotas acreditaram mesmo que poderiam realizar rituais pagãos para tomarem os anos restantes da jovem Susana.

- Otários. – ele falou.

- Tal como a idiota da Susana, da qual me apossei de seu jovem corpo. – falou Elena.

- Vamos querida. Agora temos longos anos pela frente, antes de precisarmos fazer um novo ritual. – Timoty falou e os dois saíram dali rindo.

Viveriam por um bom tempo com a aparência de dois jovens, mortos tempos atrás, aos vinte anos, que um dia, ousaram simpatizar com a bruxaria.

Camilla T
Enviado por Camilla T em 22/10/2012
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