O velho Guil

Lá estava Diana, brincando no parquinho da pequena cidade em que morava com os pais. Seus pais haviam se mudado para lá, depois de passarem pelo susto de terem a casa invadida e suas vidas, quase tiradas. Não fosse a tia-avó de Mark ter lhe deixado em herança aquela casa de porte médio, numa cidadezinha bem distante, não teriam tido como se mudar e viveriam constantemente com o medo de fosse acontecer tudo de novo.

Todos os sábados, lá pela tarde, Mark e Telma levavam Diana, sua filhinha de nove anos, para brincar com as amiguinhas no parque local, além de poderem encontrar os novos amigos, pais das amiguinhas de Diana. Tudo estava correndo bem em suas vidas – Mark era advogado e Telma não trabalhava fora, apenas fazia pequenos trabalhos de bordado para vender na feira de domingo da cidadezinha, mas isso era mais um hobby, pois eles não precisavam daquele dinheiro que ela ganhava extra.

Diana estava no balanço, enquanto seus pais, um pouco distantes, conversavam sobre um novo filme que estava passando no cinema. Por isso, nem seus pais e nem a pequena, podiam imaginar que Diana estava sendo observada, ao longe, por um homem, de seus quarenta e poucos anos, quase cinquenta.

Seu nome era Guil, conhecido por todos como o velho Guil, um senhor que morava na rua cinco com a catorze, dono de uma pequena loja de brinquedos. O que ninguém sabia, era que Guil não era o bom e velho Guil que todos achavam. Guil era um psicopata, da pior espécie que se possa pensar. E sua loja de brinquedos, apenas um meio para atingir um fim.

Naquele momento ele estava escondido por entre os brinquedos que imitavam casas, daqueles com pontes que balançam, escorrega, rede para escalar e escadinha. Era um bom esconderijo, pois não havia apenas um, mas uns cinco ou seis, que camuflavam seu corpo. Ele há semanas vinha observando a menina, com seus belos cachinhos louros e seus vestidos de flores que a fazia parecer uma boneca de porcelana. Era desenvolta, já conhecia quase todas as crianças que brincavam naquele parquinho, onde ele já estivera tantas outras vezes, observando e observando.

Lembrava-se da primeira menina que matara. Seu nome era Luiza – pequena, com doze anos, cabelos negros mais lisos que a água parada, bochechas rosadas e boca rechonchuda. Ele a atraíra para a loja, quando voltava para casa e a prendera no quarto subterrâneo de sua casa e lá a matara. Ficou triste por matar tal linda criança, mas era preciso, só assim ele se sentia completo. Depois de Luiza, havia matado Clara, Ana, Amanda e Letícia, com as idades de oito, nove, dez e treze, respectivamente. Mas agora ele queria parar, afinal, tinha muita sorte por nunca ter sido pego, mas precisava fazer aquilo pelo menos mais uma vez.

Ele já sabia como iria atrair Diana para a morte. Ouvira seus pais dizendo que iriam ao cinema com os amigos e que deixariam a pequena com a babá. Seria fácil apagar a velha Sra. Acklebolt e atrair a menina, com uma boneca. Ele voltou para casa e riu. No dia seguinte ele completaria seu ciclo e então iria poder voltar a viver como um homem feliz, num outro lugar. Ele até já pensava em se mudar para a cidade grande, viver uma vida mais agitada.

Os pais da menina haviam acabado de sair. Deixaram dezenas de recomendações com a babá, pois era a primeira vez que sairiam sem ela depois do atentado contra eles. A velha garantiu que nada de mal iria acontecer e entrou com a menina em casa. Iria fazer chocolate quente e bolo para a menina, enquanto esta ia assistir um desenho da Barbie.

Ele esperou dar uns vinte minutos e foi até a casa da vizinha.

- Guil, o que o traz aqui? – a velha perguntou.

- Vim pedir um pouco de açúcar. Você está fazendo chocolate quente? Quer ajuda? – ele perguntou.

- Seria bom, pois ainda tenho que fazer o bolo. – a velha falou e, sabendo que os pais da menina não se importariam se alguém a fosse ajudar, deixou o homem adentrar a casa. Ele se pôs ao fogão e preparou o chocolate. Quando serviu nas canecas, colocou um pouco de sonífero no copo da babá e a entregou. Diana também bebeu e eles ficaram conversando por um tempo, até a velha se cansar e sentir sono. A essa altura, os três estavam sentados vendo desenho e conversando.

- Ih,a tia Nina dormiu. – a criança falou.

- Verdade. Quer saber, vamos deixa-la assim porque deve estra cansada. – o velho falou – Eu estava pensando Didi se você não gostaria de ir lá em casa rapidinho, enquanto a tia Nina dorme um pouco. Tenho uma Barbie linda pra você lá.

- Mas a tia Nina não vai?

- Não, porque ela tem que descansar. Você quer que ela descanse certo?

- Claro. – ela falou e seguiu o homem até a casa. Ele tinha várias bonecas, mas no quarto subterrâneo. Está lá embaixo, vamos. – ele falou e a menina, empolgada para ganhar uma nova boneca, desceu as escadas com rapidez.

- Nossa, quantas bonecas. – ela exclamou ao ver a coleção de bonecas do velho.

- Escolha uma para você. – ele falou, enquanto pegava um machado no armário.

A menina parecia indecisa, com tantas opções. Acabou escolhendo uma de porcelana, bem parecida com ela – nem chegando a olhar as Barbies. Foi então que ele fingiu um elogia pela escolha e lhe assustou com o machado, passando-o perto dela. Ele sentia prazer naquilo, em ver como elas ficavam assustadas e com medo, querendo os pais. Ela começou a chorar, com medo do velho. Acabou deixando a boneca cair e o rostinho de porcelana da mesma se quebrou, em vários pedaços.

- Que menina malvada. Agora vai ter que apanhar por quebrar o novo brinquedo. – ele falou e desferiu golpes contra a menina, que foi atingida em todos os cantos do corpo. Ele lhe arrancou as roupinhas e, com uma faca, escreveu em sua barriguinha, que era muito malvada. Ela gritava de dor, mas ninguém a podia ouvir. Ela morreu com os olhos cheios d’água e uma expressão de dor nas feições, que um dia, foram angelicais. Com prazer, ele pegou seu frágil corpinho e jogou, junto com as roupinhas, dentro de uma caixa de metal, onde ele tacou fogo e ficou observando o corpo queimar. Quando se deu por satisfeito, fez as malas, colocou um anúncio de venda da casa na varanda e pegou a caixa de metal e pôs no porta-malas do carro. Seguiu caminho para duas cidades depois da que morava, parando apenas para jogar o corpo da menina num rio.

Com esforço ele tirou a caixa do porta-malas e a arrastou até o precipício do rio. Era alto. Mas parou com o susto que levou, a poucos instantes de jogar a caixa da menina no rio. Não podia acreditar no que via.

Na sua frente apareceram Luiza, Clara, Ana, Amanda e a pequena Diana. Todas olhavam para ele com expressões, não de raiva, mas de pena, pois sua alma se perderia. Com o susto, nem sentiu quando tropeçou de costas, ao chegar para traz, na caixa de metal e caiu precipício abaixo. Mas ainda pôde jurar para si próprio que não estava caindo no rio, mas num lago de fogo e enxofre, onde outras almas perdidas gritavam por seu nome, com ansiedade.

A caixa foi achada poucos dias depois, de forma que a polícia conseguiu descobrir quem havia matado a pobre Diana. Seus pais ficaram arrasados, mas um dia voltaram a ser felizes, quando Telma engravidou de Luke, presente que eles sabiam que tinha sido mandado por Diana, já que Telma não podia mais ter filhos. Porém, o corpo de Guil nunca foi encontrado, até porque o velho jamais chegou a cair no rio, pois tinha sido mandado direto para o inferno.

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Está aí mais um conto, espero que gostem. Comentários são bem vindos. Boa noite a todos!

Camilla T
Enviado por Camilla T em 23/10/2012
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