O Jogo de RPG (Parte 1 de 2)

Então ele escolheu a espada de chamas e com três movimentos da mesma conseguiu matar o enorme monstro à sua frente. Mas logo tal monstro morreu, apareceram mais três, de forma que ele teve que escolher outra arma para usar. Pegou as correntes de aço quente, enquanto esperava a magia da chuva ácida terminar de carregar em energia. Com um golpe certeiro no olho de um dos monstros, conseguiu fazê-lo acertar o seu gêmeo, que caiu morto junto com o primeiro. O terceiro ainda lutava com ele quando mais monstros surgiram, e com suas correntes ele tentava acertá-los. Conseguiu derrubar dois, mas ainda havia outros, então sua magia finalmente estava carregada. Ele foi usá-la, mas quando escolheu a opção de magia – chuva ácida, um monstro que ele não havia visto surgir, foi por detrás dele e o abocanhou. A frase Game Over apareceu na tela de seu computador e ele deu um grito de raiva. Aquela era a última fase e ele havia deixado escapar um monstro idiota.

- Fala aí maninho. Não conseguiu passar a fase 18 ainda cara? Fala sério, terceira vez que você perde esse jogo. – falou Gabriel, irmão de Raul – Ganhei esse jogo em um dia cara.

- Não enche! – Raul pediu. Estava irritado porque tinha perdido o jogo e seu irmão ainda queria tirar onda. “Que fosse se danar” – pensou Raul.

- Fala sério vocês dois. Não acredito que ainda jogam RPG no computador. Pô Gabriel, pensei que você fosse macho meu amigo. – essa voz pertencia ao amigo de Gabriel, Bernardo, um garoto com quem Raul não simpatizava muito, pois sempre tentava tirar onda com sua cara. Aliás, só fazia uns dias que Gabriel tinha aparecido com esse novo amigo.

- Qual o problema? – Raul perguntou – É muito legal.

- Fala sério brother! Isso é fichinha perto do RPG que eu jogo. – Bernardo falou.

- Como assim véi? – Gabriel perguntou.

- Tô falando que jogo RPG de verdade cara. Com direito a encenações e tudo. Pô o próprio nome já diz, Real, real cara.

- Mas como é? Com monstros também? E magia e armas? – Raul perguntou. O menino de catorze anos estava começando a gostar do assunto.

- Bem por aí. Por que vocês não entram para o grupo? Sexta-feira vai ter mais um episódio do nosso “jogo”. – Bernardo falou.

- Parece legal, o que você acha Gabriel? – Raul perguntou, ansioso que o irmão respondesse que sim. Ele parecia considerar.

- Não sei. Bernardo, não vai ter problema?

- Cara, claro que não. Sempre levamos convidados a mais. – Bernardo falou. Gabriel pensou e pensou e, apesar de não estar totalmente certo do que fazer, ao ver o olhar de seu irmão caçula implorando por um sim, deu a resposta positiva. – Vai ser massa! – Bernardo falou.

Raul ficou esperando a sexta-feira chegar com incrível ansiedade que até seus pais perceberam aquela inquietação anormal no menino, mas que julgaram ser culpa da puberdade. Ele e o irmão já tinham se reunido com Bernardo para discutirem sobre o jogo e sobre o que deveriam vestir ou levar.

- Relaxa. A história se passa na época da idade média, com as paradas de inquisição e tal. Mas o objetivo é falar das bruxas que eram queimadas naquela época, mulheres que em sua maioria, não tinham nada a ver com a bruxaria. Além disso tem padres e essas coisas. É muito divertido. – ele falou – Quanto às roupas, vocês podem ficar tranquilos que o mestre do RPG vai entregar as roupas dos personagens de vocês. – Bernardo continuou. Cada vez mais Raul e Gabriel ficavam ansiosos por aquilo, porém Raul era quem mais estava gostando, afinal, Gabriel tinha outros interesses além de vídeo game e filmes de terror e suspense, como as garotas com quem costumava sair e que acabavam lhe roubando tempo com o irmão. Raul estava feliz, pois finalmente passaria um bom tempo com o irmão mais velho.

- Cara, não sei se vamos poder ir amanhã no jogo. – Gabriel falou – Uma menina, Andressa, tá querendo pegar um cinema e me chamou mais uns amigos.

- Ah fala sério cara! Você prometeu que ia me levar no jogo daquele seu amigo idiota. Aliás, ele até já trouxe as roupas que vamos usar. Fala sério. – Raul falou, irritado com a possibilidade de não ir ao jogo. Gabriel pensou sobre o que fazer e decidiu que dessa vez daria mais atenção ao irmão.

- Já é, mas só dessa vez. A Andressa é muito gata e não se ainda vai querer sair comigo. Se ela não quiser vou te socar até ficar roxo. Falou?

- Falou. – Raul respondeu. Pensou em até em ir jogar o RPG do vídeo game, mas não quis, preferiu ir dormir, pois na noite do dia seguinte ia jogar uma partida real de RPG.

- Bora garotos. Hoje a noite promete! – Bernardo falou, enquanto Gabriel e Raul entravam no carro usado e sujo do amigo – O que você falou que ia fazer, para os seus pais?

- Falei que ia sair com meu irmão caçula! Eles acharam ótimo já que isso se tornou raro. Nem perguntaram aonde íamos. Só pediram pra termos cuidado. – falou Gabriel.

- Já é então. – Bernardo falou e deu partida com o carro.

O jogo iria acontecer no sótão da casa do mestre, um cara de quase vinte anos, com uma aparência cansada e raquítica – bolsas escuras circundavam seus olhos, como se usasse sombra negra, o que não usava, mas seus olhos também estavam contornados de lápis preto. Sua pela deixava as veias à mostra e aquilo causou repulsa em Raul. O Mestre, como devia ser chamado, usava uma capa com capuz, negros, botas de cano alto da mesma cor da capa e segurava um livro.

Raul e Gabriel também estavam vestidos a caráter – Raul usava uma capa branca e Gabriel usava uma roupa cinza, como um cavaleiro da guarda real; sua roupa era de metal tal como uma armadura, sendo que ele só usava o colete por cima das vestes e as botas, que também eram de metal.

- Onde vocês arranjam essas coisas? – Gabriel perguntou a Bernardo, que mandou ficar quieto com o olhar.

No tal sótão estavam além deles, mais umas pessoas, uns interpretando bruxas, outros padres, além de um que parecia um carrasco. O lugar estava decorado com cortinas negras e luzes fracas de velas, pretas também. No centro do sótão havia uma mesa de pedra, com flores jogadas em cima e também pelo chão, que havia sido coberto com tapete verde, de forma que este representasse a grama. Num canto havia, encostadas na parede, uma foice, um facão e um machado, isso sem contar as pequenas facas em formas de símbolos que estavam penduradas na mesma parede.

- O jogo vai começar. O episódio de hoje é O Sacrifício. Os novatos, por favor, um passo à frente. – O Mestre falou e os dois irmãos e mais uma menina, uma bruxa, deram um passo à frente. O Mestre colocou um livro de capa vermelha aveludada sobre a mesa de pedra. – Vocês juram perante o livro de regras do jogo que vão obedecer a todas as ordens que lhe forem dadas? – os três responderam sim – Juram representar seus papéis independente do que lhes for ordenado? – novamente responderam sim, Gabriel com certa hesitação. – Certo. Para poderem entrar oficialmente para o jogo, tem pagar com sangue. – O Mestre falou. Gabriel não gostou nada daquilo, mas aceitou a faca que este oferecia. Os três passaram a faca na mão e gotas de sangue caíram por sobre a mesa de pedra. Com um sorriso idiota nos lábios, O Mestre riu e ordenou que eles voltassem aos seus lugares no círculo em volta da mesa. Raul estava excitado com tudo aquilo, achando o máximo estar participando de um RPG real, onde ele era um dos personagens.

Camilla T
Enviado por Camilla T em 25/10/2012
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