O Psicopa - a Próxima Vítima - parte VII

Por sorte, depois de muito tensa, de porta em porta, enfim, encontrou uma aberta. O espaço exíguo, onde o pessoal da limpeza guardava o material de limpeza, em geral. Entrou tateando, havia chegado até ali, guiando-se pela luz da lua que entrava pelas pequenas janelinhas que ficavam no alto da parede. O espaço era pequeno, ligeira, tirou os dois baldes e ficou ali, encolhida entre rodos e vassouras. O cheiro de material de limpeza era intenso. Havia decidido ficar ali, até o dia amanhecer. O espaço ficava debaixo de um dos lances da escadaria. Era baixo e curto, seria um sofrimento ficar ali, de joelhos dobrados, praticamente sem poder se virar - não poderia fazer barulho. Passou a chave e uma tranca. Passou a suar feito cuscuz, o lugar era um morno. Com dificuldade foi se despindo, tirando peças de roupa, prendendo os cabelos.

Longos minutos se passaram. Talvez, mais de uma hora.

Tarde demais quando dera conta de que havia caído numa armadilha.

Ouviu as suas passadas vagarosas, de porta em porta, passando a mãos nas maçanetas, testando para ver se estavam abertas. De um lado e do outro da parede.

O seu coração batia em descabelada carreira. Suava frio, agora." O que se sucederia?" - Pensava.O seu corpo tremia, chocando-se de leve contra as vassouras e rodos. A maçaneta de onde estava seria a última a sentir á mão do seu perseguidor, e assim foi.

Ele a balançou, de leve. Sentiu que estava fechada. Percebeu o isqueiro da mão dele ser acionado sem sucesso por talvez, três ou quatro vezes, até que o cheiro de tabaco se espalhou pelo ambiente.

Sim, tinha a certeza de que havia caído numa armadilha. Não sabia o que deviria fazer. Estava ali, acuada, num espaço exiguo. esvaindo-se em suores. O coração saindo pela boca. Um grito de pavor contido na garganta.

- Sabe, matar não é um ato muito diferente de uma relação sexual...

O seu coração quase parou numa parada cardíaca ao ouvir a sua voz - e parecia familiar, talvez, apesar de abafada pelo tecido que tinha no rosto.

- O sangue escorrendo da vítima, o desespero, o medo, o grito de pavor, o medo...de morrer. Tudo isso é para mim um êxtase que não sei explicar. Eu gosto, é so o que poderia dizer.Bobagem perguntar:" por quê?"

Após breve silêncio, ele emendou:

-A imprensa, a polícia, as pessoas em geral, os médicos. Todos uns tolos. Matar para mim é como fumar esta cigarrilha, tomar um copo de cerveja, comer uma pizza, ou tirar um cochilo após o almoço.

A lua foi escondida por grande nuvens. A escuridão do corredor se tornou absoluta. Ela tratou de arriscar vê-lo por uma fresta da porta, sem sucesso. O esforço em se movimentar com cuidado fê-la sentir dores na musculatura das coxas e nos joelhos. Indagou-se: " saberia que estaria ali, ou estava apenas fazendo um jogo? Poderia ter feito o mesmo paulatinamente, de forma programada em cada andar, paciente, tentando fazer a sua vítima se entregar num vacilo causado pelo nervosismo, pelo pavor, medo -, fazer cair no jogo dele."

Permaneceu em silêncio. Ele dava passadas leves, descompassadas. O cheiro de tabaco, era das cigarrilhas Suerdieck, vendidas numa lojinha do comércio.

- Odeio a imperfeição divina, ou um mundo de gente feia, ou so de belos, entendeu? Veja so, você é muito bela, esnobe. Imagino você quando se prepara para vir ao trabalho. Vejo todo o cuidado com a aparência, como vai se vestir, o salto alto, as pulseiras, o batom vermelho. Até mesmo uma peça insignificante é escolhida com esmero, a calcinha- não vai mostrar a calcinha a senhor ninguém na rua, no entanto, até mesmo a calcinha é escolhida com preocupação.

Os olhos lacrimejavam, escorriam lágrimas pela face. Tremia o seu corpo inteiro sem parar.

- Odeio as vaidosas, odeio as belas. A minha mãe era muito bela, mas ela, com ela não pude, não tive a devida coragem, então vejo em ca-da-ros-to de vocês o rosto de minha mãe, sabia disso? Não, não é o seu rosto que eu vejo, é o rosto de minha que-ri-da-ma-mãe...

Ele se afastava. Passadas curtas, de um lado e do outro, testando as maçanetas, de um lado e do outro do corredor.

Ela tremia de medo, o seu desespero era intenso, abrasador. Suava muito, sentia a epiderme úmida, escorrendo gotas de suor, às dezenas. A urina que um dos zeladores havia deixado no vaso lhe invadia a urina com intensidade, embrulhava o estômago. Os cabelos molhados. A respiração contida, faltava-lhe ar nos pulmões, contudo, a respiração era forçosa, fazendo com que o seu tórax se abrisse e fechasse com força. Ela tratava de prender, não queria ser denunciada. Mas, estava se comportando como se a porta fosse de vidro e ele a estivesse observando, ou soubesse de sua localização ali.

" Os baldes, será que viu os baldes fora daqui? Não pode ser a escuridão os esconde."

Disse ele, com a voz um pouco distante, beirando á escadaria:

- Acredita mesmo que vou deixar você sair viva daqui? Teremos toda a noite pela frente, sou paciente. Linda, linda de morrer. Você é linda , linda de morrer - minha avó dizia assim quando se referia à minha mãezinha, ou a qualquer mulher, menina,jovem linda.

O isqueiro sendo acionada mais uma vez, duas ,três vezes tentativas, até que o cheiro das cigarrilhas mais uma vez inundou o corredor.

Uma coisa tinha certeza, ele também estava desgastado daquele jogo, estava tão cansado quanto ela, mas pareceia estar obcecado em alcançar o seu intento criminoso: matá-la.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 29/10/2012
Reeditado em 30/10/2012
Código do texto: T3959038
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.